Marenise Oliveira e a potência do feminismo camponês

Com as cadernetas agroecológicas, criadas em MG e levadas ao semiárido nordestino, mulheres tomam o controle da produção em seus quintais. Uma iniciativa simples, mas transformadora, que gera autonomia e renda local…

Durante o debate sobre Agroecologia, realizado durante o ciclo de debates O Futuro do Trabalho no Brasil, em setembro de 2020, Marenise Oliveira fez uma fala importante e inspiradora. A educadora e ativista de movimentos sociais de luta pela terra explicou, a partir de sua experiência pessoal, como funcionam as Cadernetas Agroecológicas. Criadas em Minas Gerais e espalhadas pelo semiárido nordestino, são cadernos de anotações usadas por mulheres — muitas quilombolas ou de comunidades tradicionais — para controlar a produção agrícola em seus quintais.

Parece simples, mas a ideia é inovadora. A caderneta recolhe as seguintes informações: o quanto se consumiu daquilo que foi produzido; o que foi doado da produção; os alimentos que foram trocados por outros alimentos; e o que foi vendido. A importância desse controle é imensa: a partir dele, o trabalho de mulheres como Marenise passa a ser concreto e visível — gerador de renda e autonomia. “Muitas mulheres, que eram consideradas aquelas que não faziam nada, que não traziam renda para casa, consideradas apenas como elemento de despesa, a partir da Caderneta Agroecológica, foram tomando consciência de que têm, além do trabalho de cuidar dos filhos, da casa, além de ser esposa, um potencial produtivo, geram economia”, explica ela.

“Os espaços que criamos transformam-se em espaço de formação política, humana, de socialização de saberes e de novas aprendizagens. Um quintal produtivo, um terreno de 30x75m, durante onze meses, produz mais de 55 variedades de alimentos, recebendo a produção adequada, preservando a caatinga. Isso nos faz pensar que a Agroecologia é esse conjunto de relações que nós, enquanto mulheres, vamos criando e gestando, fortalecendo os vínculos afetivos, a confiança, levantando a autoestima nossa e de outras mulheres. “

Não deixe de assistir a inspiradora fala de Marenise Oliveira, no vídeo acima. Na próxima quinta-feira, 25/3, o debate sobre Agroecologia e trabalho no campo continua com a participação de Gerson Oliveira, geógrafo, membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho – CEGeT e coordenador estadual do MST em São Paulo.

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