Gadelha e a Saúde como motor da reindustrialização

Presente em todo o país, SUS demanda remédios, instalações, equipamentos de todo tipo — alguns, muito sofisticados. Pode ser chave para a retomada da indústria nacional, a partir do Bem-Estar. Estado desaproveita há décadas oportunidade esplêndida

A esquerda não pode ficar o tempo todo no córner; é preciso ir ao ataque, com imaginação política. É o que sugere o economista Carlos Gadelha, coordenador e líder do Grupo de pesquisa sobre desenvolvimento, complexo econômico industrial e inovação em saúde da Fundação Oswaldo Cruz (GIS/FIOCRUZ). Para ele, retomar a ousadia do pensamento brasileiro – por meio do trabalho de importantes intelectuais brasileiros, como Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, que vislumbravam uma estrutura produtiva voltada às necessidades da população, não apenas às do mercado – é crucial para sair do lugar-comum e propor um novo projeto de desenvolvimento brasileiro, baseado no Bem-Estar, na sustentabilidade e na redução de nova dependência tecnológica.

“Dizem que Bem-estar não cabe no PIB, mas ele é fator para alavancar a economia e saída para a crise brasileira”, afiança Gadelha. Porém, sublinha ele, isso exigirá um esforço real, não apenas do Estado, mas de vários campos dos saberes, para gerar uma reconexão com a sociedade. “É pensar diferente, e dizer: a política é para a Saúde; a política é para a Mobilidade; a política é para o desenvolvimento sustentável, onde a matriz energética limpa é central. Isto gera renda, isto gera investimento, isso gera inovação, e mais: isso permite resgatar a seletividade da política. Por que, quando o Estado todo está capturado por setores, ele deixa de ser seletivo. É uma ruptura da dicotomia entre o braço social e o braço econômico e do desenvolvimento”.

Gadelha usa o exemplo do SUS, hoje extremamente dependente das patentes de saúde e de tecnologias de outros países. Essa dependência cresce cada vez mais, sem um projeto estratégico de reindustrialização. Mas o Estado, por meio de políticas produtivas e industriais, teria, já de saída, um “grande cliente” como o SUS, presente em todo o território nacional, alavancando a Indústria 4.0, a Inteligência Artificial, biotecnologia e a Economia do Conhecimento na Amazônia — e preparando, assim, o Brasil para grandes calamidades, como a pandemia, gerando empregos, consumo interno e tecnologias nacionais.

Para Gadelha, esse projeto de reindustrialização é urgente, necessário no aqui e agora  — não uma proposta meramente utópica de setores progressistas para “uma sociedade do século XXII”. “Isso passa por uma Reforma do Estado, que precisa ser disputado contra as políticas ultraliberais. E isso não é só papel de economistas, mas de movimentos sociais, urbanistas, sanitaristas, educadores etc. Não se trata de agendinha ou de agenda alternativa. É preciso um enfoque sistêmico”, completa ele.

A fala de Carlos Gadelha está no vídeo acima. A série continua na próxima quinta-feira, 4/3. Pedro Rossi, economista e professor da Unicamp, continua o debate sobre a retomada da industrialização, a partir do Bem-Estar.

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