Esther Dweck vê uma saída para reindustrializar o país

Após quatro décadas de desmonte e retrocessos, é preciso saber por onde começar. Uma ótima aposta são os serviços públicos: Saúde, Educação, Transportes e Moradia. Em torno deles, pode ressurgir uma indústria robusta e vibrante

O processo de desindustrialização brasileiro teve seu início acentuado nos anos 1980, mas foi na década seguinte que o governo, de tendência neoliberal, deixou de fazer a importante atualização de seu parque industrial. Nos anos seguintes, o processo foi mantido. Hoje, em plena pandemia e sob um governo com ganas de destruição total do Estado, fica explícita essa carência por diversos aspectos. Em um primeiro momento, assistimos às dificuldades enfrentadas pelos hospitais por causa da falta de respiradores e, frente a isso, a incapacidade de produzi-los em território nacional. Em seguida, veio a crise econômica, os empregos perdidos, a população sem renda. 

Uma retomada da industrialização no Brasil, sugere Esther Dweck, poderia ser a base de sua transformação social. Com a crise social que deve se ampliar em 2021, ressurgem desafios importantes: acabar com a fome, com a pobreza extrema, universalizar serviços públicos como Educação e Saúde, criar cidades sustentáveis. E essa pode ser uma grande oportunidade de inovação de desenvolvimento industrial, diz a economista. Ela dá o exemplo da indústria militar norte-americana, guiada pelo Estado: o país tinha um plano militar, e por isso conseguiu desenvolver amplamente sua indústria em torno desse objetivo. E se escolhêssemos como objetivo, por exemplo, acabar com a fome — e para isso mobilizássemos e investíssemos nossa indústria?

Mas como fazê-lo? Em alguns períodos da história do país, acreditou-se que a melhor maneira seria se unir a uma elite industrial. Mas essa hipótese nunca se provou verdadeira. Em todos os períodos de maior industrialização, o Estado teve um papel muito importante de liderança. Por isso, para Dweck, é preciso fortalecê-lo para que tome as rédeas no sentido de enfrentar as dificuldades pelas quais o povo atravessa. É preciso, então começar depressa a lutar para impedir o desmonte total que trama o governo Bolsonaro-Guedes — pois o que estão destruindo demorará décadas para reconstruir, conclui a economista.

A fala de Esther Dweck está no vídeo acima. A série continua na próxima terça-feira, 2/3. Carlos Gadelha, economista e coordenador de pesquisa da FioCruz, continua a conversa.

Marilane Teixeira e o mapa da regressão produtiva

Pochmann vê esquerda atônita e voltada para trás

Danilo Pássaro: resistência à precarização vem das ruas

Belluzzo: saídas para reverter a desindustrialização

Sebastião Neto e as lembranças do Brasil operário

Clemente Ganz vê o futuro do movimento sindical

Dari Krein e as consequências da “Reforma” Trabalhista

Leia Também: