PÍLULAS | Varíola dos macacos: segunda morte no Brasil, isolamento viral e medicamento

• Avança de fase vacina nacional contra covid • Inteligência artificial para detectar Parkinson • Tese premiada relaciona ciência indígena com a ocidental •

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Varíola dos macacos: o que significa a segunda morte no Brasil…

Um homem de 33 anos, internado no Hospital Ferreira Machado, em Campos dos Goytacazes (RJ), faleceu ontem (29/8) da doença. As informações são de que ele tinha comorbidades e a imunidade comprometida. A primeira morte pela doença aconteceu em Minas Gerais, exatamente um mês antes. O primeiro óbito nos Estados Unidos também foi reportado ontem, o que faz com que o número de mortes em todo o mundo esteja em 17. Embora a doença seja leve na grande maioria dos casos, pode ser bastante perigosa para imunossuprimidos. 

… e o isomento viral obtido pela Fiocruz

Também no começo da semana, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) fizeram o isolamento viral da nova varíola e lançaram imagens de sua estrutura detalhada. Eles registraram o momento em que uma célula sofre processo de degeneração após infecção pelo vírus monkeypox.

Anvisa já autorizou um remédio contra a nova doença…

Embora os dados científicos sobre o uso do medicamento tecovirimat em humanos sejam escassos, a droga já está sendo utilizada para tratar a varíola dos macacos. No Brasil, ela já tem autorização da Anvisa para comercialização. Em testes com animais, o remédio diminuiu a carga viral e amenizou as feridas com pus causadas pela doença. Ele foi desenvolvido para o tratamento da malária, graças a um grande fluxo de dinheiro público nos EUA, em pesquisas para tentar conter guerras biológicas. 

… mas teme-se que decisão tenha sido precipitada

A varíola original já está erradicada em todo o mundo, mas acredita-se que o tecovirimat funcione bem também contra a versão chamada “dos macacos”. Os testes em humanos são limitados porque o vírus tinha circulação restrita. Cientistas temem que conceder autorização emergencial para a droga seja perigoso, como aconteceu com a hidroxicloroquina – que estudos mais amplos provaram ineficácia para tratar a covid. Estudos mais amplos do tecovirimat estão tendo início no Canadá, EUA, Congo e Reino Unido.


Cresce a esperança em vacina 100% brasileira contra a covid

A vacina idealizada por parceria entre a Fiocruz e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está prestes a avançar um novo degrau. Chamada SpiN-TEC, ela obteve bons resultados em fases pré-clínicas, e agora seus produtores esperam autorização da Anvisa para iniciar os testes da fase 1. O imunizante utiliza duas proteínas do vírus Sars-CoV-2, o que pode representar um avanço no combate às novas variantes, segundo seus pesquisadores. Isso porque ele estimula resposta imune tanto de anticorpos quanto de linfócitos T – que oferecem proteção mais duradoura. 

Aprovação pode ser passo importante para autonomia do país

A expectativa é que, após a liberação da Anvisa, as fases 1 e 2 dos estudos aconteçam em até seis meses, e a fase 3 em um ano – o que possibilitaria a disponibilidade da SpiN-TEC a partir de 2024. Outra vacina produzida no Brasil, embora de tecnologia norte-americana – a Butanvac, do Instituto Butantan –  demorou um ano para finalizar a fase 1 e aguarda desde julho a autorização da Anvisa para o início dos testes de fase 2 e 3. Vacinas totalmente produzidas em território nacional podem ser um passo importante para livrar o Brasil da dependência de grandes farmacêuticas – e representariam um grande avanço na ciência do país.


Parkinson: inteligência artificial pode fazer diagnóstico mais preciso

Uma inteligência artificial que utiliza um conhecimento antigo pode ajudar a detectar precocemente a doença de Parkinson. A relação da doença com a respiração já foi notada pelo pesquisador que a descobriu, em 1817, mas até hoje não é possível utilizar essa informação para fazer o diagnóstico. O estudo, que utiliza o padrão ventilatório para descobrir mais cedo o Parkinson e ainda sua gravidade e progressão, foi publicado na Nature Medicine. Cientistas do MIT, dos EUA, utilizaram dados de 7.671 pessoas, cerca de 10% com a doença, e monitoraram seu sono. Comparando os sinais de respiração durante seis anos, a inteligência artificial foi capaz de prever indícios da doença em 75% dos casos. Novas tecnologias têm se mostrado aliadas da medicina, e cada vez mais essenciais. Servirão para atuar na saúde de todos ou para poucos que podem pagar?


Tese premiada relaciona ciência indígena com a ocidental

O olhar colonial para o conhecimento indígena é frequentemente carregado de termos que buscam encaixá-lo em pressupostos errados – como o de que a medicina indígena é “curandeirismo” ou está relacionada à religiosidade. A tese “Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma ‘teoria’ sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro”, do doutor em Antropologia João Paulo Lima Barreto, indígena do povo Yebamasã (Tukano), busca o contrário. Ela foi premiada como melhor tese de Antropologia e Arqueologia de 2022 pela Capes.

“O esforço é olhar o conhecimento indígena além da mera tradição”

João sustenta que as ações afirmativas são úteis para inserir indígenas em universidades – não para passar o conhecimento a eles, e sim para que o seu sistema de conhecimento possa ser reconhecido como igual. E ainda há uma visão racista que busca encaixar seu povo em preceitos equivocados. “Primeiro, que não tem essas categorias dentro do nosso conhecimento. Não tem noção de espírito, de sagrado. Não são nossos conceitos. São conceitos religiosos, dentro da lógica ocidental.” Sua busca, então, é fazer com que os conceitos de fora da academia possam ser conhecidos. “O esforço que a gente faz é pensar o pensamento indígena. É olhar o nosso conhecimento além da mera tradução. O exercício que eu faço é de tradução dos sentidos, dos conceitos indígenas”, completa.

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