PÍLULAS: Brasil depende ainda mais de radiofármacos importados

• Privatização é responsável pela crise na produção nacional de radioisótopos • Fiocruz começa a produzir novo remédio para o SUS • Bolsonaro veta aumento da merenda • A crise da falta de vacina contra varíola dos macacos •

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Brasil depende ainda mais de radiofármacos importados

A diretoria colegiada da Anvisa decidiu, em reunião na terça-feira, 9/8, prorrogar a importação de radiofármacos pelo Brasil. A medida responde à atual incapacidade nacional em produzir os insumos que alimentam a medicina nuclear e são fundamentais para diagnósticos e tratamentos do câncer. “Causou perplexidade saber que não há, no horizonte próximo, possibilidade de retomada robusta do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) para a produção desses radiofármacos”, afirmou o diretor Alex Machado, em seu voto pela prorrogação do prazo. 


Crise foi fabricada por corte de verbas e privatização

A crise da produção nacional de radioisótopos é recente e choca, por retratar o desmonte da ciência brasileira. Por longos anos, o IPEN, um órgão público, produziu 85% dos insumos desta classe consumidos no país. A produção foi interrompida abruptamente em agosto do ano passado, quando a dotação orçamentária do instituto despencou de R$ 165 milhões para R$ 91 milhões. Não se tratava de um acidente. Em paralelo à crise, tramitava no Congresso a PEC 517-10, que privatiza a produção de radiofármacos. Ela foi promulgada em abril último, convertendo-se na emenda constitucional 172/2022. A decisão desta semana da Anvisa indica os resultados: o órgão público continuou incapaz de produzir os insumos; a iniciativa privada não o substituiu; e a indústria farmacêutica nacional tornou-se ainda menos capaz de atender ao país.


Fiocruz demonstra viabilidade da indústria nacional

Uma iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz sugere que o desmonte da produção farmacêutica brasileira não é inevitável. Um novo medicamento chegou ao SUS nesta segunda, 8/8. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) começou a fornecer o adalimumabe biossimilar. No Brasil, são cerca de 60 mil tratamentos em saúde por ano com base neste remédio, que trata artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, psoríase, doença de Crohn, hidradenite supurativa, uveíte e artrite idiopática juvenil. A produção do adalimumabe será feita em parceria com o laboratório alemão Fresenius, portador da tecnologia, e também em parceria com o laboratório privado nacional Bionovis. O SUS já conta com 500 mil unidades do medicamento.


Bolsonaro corta verbas da alimentação escolar – congelada há 5 anos

Tragédias como a pandemia e a fome não perturbam o sono de Jair Bolsonaro. A última demonstração disso aconteceu ontem, quando o presidente vetou o aumento de verba para a merenda escolar – valor que não tem reajuste desde 2017. O aumento aprovado no Congresso aconteceria no orçamento do Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que beneficia os mais de 35 milhões de matriculados em instituições públicas no Brasil. Previa um mero reajuste com base na inflação. Mas Bolsonaro afirmou, ao vetar, que “contraria o interesse público” por causar “um aumento na rigidez orçamentária”. Durante a pandemia, um dos problemas de ter as escolas fechadas era a falta de merenda escolar para as crianças que precisam dela para sua alimentação. Hoje, o Brasil amarga 33 milhões de pessoas passando fome. Entre as residências com crianças com até 10 anos, são 18,1% sem ter o que comer. E mais da metade (58,7%) da população brasileira vive com insegurança alimentar.


Europa tenta acelerar a vacinação contra nova varíola

Depois da liberação nos EUA, órgãos de saúde europeus estudam a injeção de dose menor de vacina contra a varíola dos macacos. Com 27 mil casos oficiais, o continente tem apenas um laboratório capaz de produzir a vacina, o dinamarquês Bavarian Nordic, criador da vacina Jynneos. A quantidade de doses disponíveis é insuficiente para a população. No entanto, o European Medicines Agency não tem certeza se a diminuição da quantidade injetada garante a mesma eficácia. Por sua vez, o Bavarian Nordic, que criou a vacina em 2019 para o tipo de varíola que já conhecíamos, não se pronunciou oficialmente a este respeito.


Os motivos da escassez do imunizante

Há um detalhe arrepiante na escassez da vacina contra a varíola dos macacos. O único imunizante aprovado nos EUA e na União Europeia é produzido na Dinamarca pelo laboratório internacional Jynneos (Imvanex na Europa e Imvamune no Canadá). Mas a produção parou e não há possibilidade de novas doses aparecerem antes de 2023. São dois os motivos. A empresa decidiu focalizar sua produção em outras vacinas – e só retomará a que protege contra a varíola dos macacos no último trimestre do ano. São necessários seis meses até que o imunizante esteja de fato disponível, após armazenado e congelado. Além disso, a OMS informa que para conter imediatamente a pandemia seriam necessárias pelo menos 16 milhões de doses – e esta exata quantidade foi comprada pelos EUA no início do ano…

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