PÍLULAS l As dificuldades para vacinar crianças

• Campanha de vacinação infantil começa mal • Como os planos de saúde buscam lucrar mais • Pessoas estão buscando mais convênios médicos • Aprovação do rol taxativo no Senado não é para já • Quem é Carolina Cotcho, a nova ministra da Saúde da Colômbia •

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Por que a campanha de vacinação contra a pólio começou fraca
É difícil acreditar que políticas públicas possam ir para frente num Brasil presidido por alguém que sugere, em tom de piada, que quem deseja tomar vacina contra a varíola dos macacos é homossexual. O negacionismo se refletiu no primeiro dia da nova campanha nacional de vacinação contra a poliomielite e outras doenças. Segundo reportagem do jornal O Globo, os postos estavam vazios nesta segunda-feira, 8/8. Há cerca de 40 mil postos de vacinação espalhados pelo Brasil, que oferecem vacinas até dia 9 de setembro. Segundo dados do Programa de Nacional de Imunizações (PNI), apenas 46,9% do público-alvo está protegido contra a pólio em 2022. A meta é chegar a 95% – 14,3 milhões de crianças entre 1 e 5 anos. A baixa cobertura contra a doença pode resultar na volta da paralisia infantil ao país – fato recentemente registrado nos Estados Unidos, com um caso em Nova York.

Planos de saúde buscam lucrar mais…
Uma matéria publicada na CNN Brasil deu voz às aflições do mercado de saúde, que “gasta” 86% de seu faturamento com as despesas de seus clientes, segundo dados da Agência de Saúde Suplementar (ANS). O Hapvida, seguro com o maior número de usuários do país, embolsou apenas R$ 500 milhões dos R$ 9,8 bilhões arrecadados em 2021. Mas a reclamação parece míope, se considerarmos os lucros recordes que os planos de saúde obtiveram em 2020 com a chegada da pandemia e a redução de procedimentos que não fossem urgentes. As despesas das empresas com seus usuários diminuíram naquele ano.

…E uma das maneiras de conseguir é a verticalização
Descontentes, operadoras veem na chamada “verticalização” uma saída para aumentar os lucros. Trata-se da aquisição de hospitais, laboratórios e instituições próprias. Dessa maneira, as operadoras podem “enxugar” os gastos, cortando intermediários, e ainda podem receber investimentos internacionais. O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) é contra a verticalização, por observar piora na qualidade do atendimento aos clientes. Prevent Senior e seu mantra “óbito também é alta” seriam prova disso. Mas será que a alternativa é apenas “horizontalizar” o atendimento dos planos?

ANS celebra alta de adesões a planos de saúde
Os números foram divulgados na segunda-feira: em junho, 250 mil pessoas contrataram os serviços de operadoras de saúde privada, acima da expectativa do mercado financeiro. A Hapvida – aquela com lucros de R$ 500 mi em 2021 – foi a que teve maior adição: 122 mil novos clientes. Com a notícia e os novos prognósticos de crescimento, empresas do setor dispararam na bolsa. 

Senado debaterá rol taxativo da ANS só no fim de agosto
Não parece animar os senadores a votação do projeto de lei 2.033/2022 que derruba decisão do STJ sobre o rol taxativo de procedimentos que devem ser cobertos por planos de saúde. Após ter sido aprovado na Câmara na quarta-feira passada, 3/8, esperava-se que pudesse ser apreciado no Senado ainda nesta semana. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente da casa, já havia afirmado que poderia ficar para o fim de agosto. Ontem, 9/8, foi decidido que o PL entrará em debate no dia 23. A decisão não é do agrado da base do governo: Carlos Portinho (PL-RJ), líder, havia afirmado que a votação deveria ficar para depois do primeiro turno. A vitória do rol taxativo na Justiça foi comemorada pelos planos de saúde, que foram desobrigados de realizar procedimentos fora da lista estabelecida pela ANS. 

Colômbia: nova ministra quer reestruturar Saúde Pública…
Um governo de esquerda foi eleito na Colômbia pela primeira vez na história – e tomou posse no último domingo, 7/8. A escolhida para chefiar a pasta da Saúde no próximo período é Carolina Corcho, médica, psiquiatra e pesquisadora em saúde pública. Foi coautora de uma lei estatutária de 2015, que estabeleceu que a saúde é um direito fundamental.

… e tem como proposta desmercantilizar o atendimento
Em sua gestão, sua principal bandeira é o fim das chamadas Entidades Promotoras de Saúde (EPS). São como os planos de saúde brasileiros: empresas que intermediam a relação entre os usuários do sistema de saúde e os prestadores de serviços. Outra proposta importante é criar uma unidade básica de saúde para cada 20 mil habitantes do país, buscando também eliminar barreiras de acesso aos serviços. Hoje, o sistema de saúde colombiano não é público nem gratuito: 43% da população, formada por trabalhadores formais e suas famílias, é associada ao sistema contributivo, financiado por contribuições de empresas e trabalhadores. Outros 47% dos colombianos, mais pobres e vulneráveis, são associados ao sistema subsidiado pelo governo.

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