Nestlé vende produto pior para crianças pobres

• Empresa empurra açúcar a crianças de países pobres • Pacto para reduzir açúcar e sódio não funcionou • Para não desperdiçar vacinas contra a dengue • Novos imunizantes anticovid • Antipsicóticos e demência • Africanas sem vacina para HPV •

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Uma investigação conduzida pela ONG suíça Public Eye e a Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar revelou que produtos infantis da Nestlé, como Ninho e Mucilon, possuem altos níveis de açúcares adicionados nas versões vendidas em países do Sul Global, mas não nas comercializadas em países europeus como a Suíça. O estudo analisou 150 itens nos mercados da África, Ásia e América Latina, encontrando, por exemplo, que 94% das unidades de Mucilon continham açúcar adicionado. Especialistas criticam a prática, que contrasta com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e apontam para a necessidade de ações urgentes para eliminar açúcares adicionados em alimentos de bebês de até dois anos, a fim de prevenir a obesidade precoce e outras doenças crônicas. 

No Brasil, a regulamentação de produtos lácteos infantis enfrenta desafios, especialmente com a presença dos “compostos lácteos” que além de conter apenas 51% de derivados lácteos, permitem a adição de açúcares como sacarose e maltodextrina. A indústria produz embalagens desta formulação muito semelhantes à do leite em pó integral, para causar confusões. Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) e professora de Nutrição da universidade, em entrevista à matéria do Globo, expressa uma opinião crítica em relação ao “duplo padrão” aplicado pela Nestlé na qualidade nutricional dos produtos oferecidos a diferentes mercados. Ela ressalta o interesse das empresas em formar hábitos de consumo que favoreçam a aceitação de outros itens açucarados e ultraprocessados no futuro, enfatizando o impacto negativo dessa prática na saúde infantil e na formação de hábitos alimentares.

Indústria alimentícia não é capaz de autorregular-se

A tentativa de um pacto entre indústria e Estado para redução de sal e açúcar nos alimentos industrializados no Brasil, firmada em 2011 e intensificada em 2018, mostra-se falha segundo os últimos relatórios da Anvisa. Cerca de 28% dos produtos não atingiram a meta de redução de sódio e 18,2% falharam em cumprir as metas de redução de açúcar. Esses dados evidenciam uma realidade preocupante (porém não surpreendente) sobre a capacidade de autorregulação da indústria alimentícia, que parece incapaz de cumprir acordos voluntários mesmo quando diretamente relacionados com a saúde pública. Apesar dos esforços declarados e da redução parcial dos teores de açúcares e sódio, as corporações produtoras de alimentos ultraprocessados ainda demonstram resistência em adaptar suas fórmulas para atender às necessidades nutricionais e de saúde dos consumidores, mantendo altos níveis desses ingredientes em muitos de seus produtos. Este cenário sublinha a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa e possivelmente de intervenções legislativas que garantam a proteção da saúde dos consumidores.

Vacina contra dengue terá ampliação temporária de faixa etária

Há um estoque de 145 mil doses da vacina Qdenga, para prevenção da dengue, que estão próximas do vencimento, em 30 de abril, distribuídas pelos municípios brasileiros. Para que não haja desperdício, o Ministério da Saúde fez, ontem (18/4), um anúncio de ampliação da faixa etária que pode recebê-la. Ela pode ser oferecida a pessoas de 4 a 59 anos, mas deve ser aplicada preferencialmente nas crianças de 6 a 16, segundo a pasta. A decisão fica a cargo das secretarias municipais de saúde. Segundo levantamento da Folha, a cidade de São Paulo não deve aderir, pois possui apenas 720 doses – o que deve ser suficiente para o público-alvo atual, de 10 a 14 anos. Já o Globo aferiu que ao menos seis unidades federativas devem fazer a mudança da faixa-etária para não perder as doses. São eles: Distrito Federal, Bahia, Rio Grande do Norte, Goiás, São Paulo e Amazonas. O Ministério enfrenta um problema de baixa procura da vacina contra a dengue.

Nova campanha de vacinação anticovid se aproxima

Uma reportagem recente da Folha faz um alerta para a falta de vacinas contra novas variantes da covid-19 em alguns municípios brasileiros. Na próxima semana, novas doses da vacina contra covid-19, atualizadas para combater a variante XBB, serão distribuídas aos estados brasileiros. As doses, produzidas pela Pfizer, fazem parte de um processo de compra iniciado em 2023. Apesar de alguns municípios estarem com estoques esgotados, a maioria ainda possui doses de Coronavac e Pfizer, essenciais para completar o esquema vacinal, especialmente para adultos. O Ministério da Saúde ressalta a eficácia das vacinas disponíveis em prevenir formas graves da doença e destaca a importância da vacinação infantil, dada a baixa cobertura vacinal entre crianças menores de 14 anos – apenas 11,4% completaram as três doses recomendadas.

Por que não prescrever antipsicóticos para demência

Um estudo recente concluiu que os medicamentos antipsicóticos, comumente prescritos a pacientes com demência para sintomas comportamentais e psicológicos, estão associados a efeitos colaterais mais nocivos do que se pensava anteriormente. Matéria do jornal inglês The Guardian entrevistou pesquisadores que consideram que é preciso que sejam feitas novas recomendações para que médicos reduzam sua prescrição. Publicada no BMJ, a pesquisa analisou dados de 174 mil adultos na Inglaterra diagnosticados com demência entre 1998 e 2018, revelando que o uso desses medicamentos está ligado a um aumento significativo no risco de problemas graves de saúde – incluindo AVC, coágulos sanguíneos, infarto, insuficiência cardíaca, fraturas, pneumonia e lesão renal aguda. Diante desses achados, especialistas enfatizam a necessidade de optar por abordagens de manejo comportamental mais seguras, reservando os antipsicóticos para situações raras em que os benefícios superam os riscos.

Merck deixa 1,5 milhão de adolescentes africanas sem vacina

Quase 1,5 milhão de meninas adolescentes em alguns dos países mais pobres do mundo perderão a oportunidade de serem protegidas contra o HPV e sua pior consequência, o câncer de colo de útero, devido ao anúncio da Merck de que não poderá entregar milhões de doses prometidas da vacina contra o HPV este ano. A Merck comunicou à Gavi, organização internacional que ajuda países de baixa e média renda a fornecer imunizações vitais, e à Unicef, responsável pela aquisição das vacinas, que entregará apenas 18,8 milhões das 29,6 milhões de doses contratadas para 2024. Isso resultará em mais de 10 milhões de meninas sem receber suas doses esperadas de HPV este ano, sendo que 1,5 milhão provavelmente nunca será vacinada por ultrapassar a idade limite nos anos seguintes. A demora afeta campanhas de vacinação em países como Moçambique, Serra Leoa e Burkina Faso, além de complicar o apoio político e comunitário para a imunização, essencial para prevenir uma doença raramente detectada por exames de rotina nesses locais. A Merck atribuiu sua incapacidade de entregar as doses prometidas da vacina contra HPV principalmente a uma “interrupção na fabricação”. Esse problema exigiu que muitas doses fossem retidas e reinspecionadas manualmente.

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