Excesso de peso é novo normal com ultraprocessados

• A era dos ultraprocessados – e da obesidade • O mundo vulnerável ao cólera, por falta de vacinas • Como a dengue avança nas Américas • Os cientistas que os EUA discriminam • Butantã prepara-se para gripe aviária • Brasil e Guiana cooperam em Saúde •

Foto: Carlos Monteiro
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Em entrevista à edição deste mês da Revista Pesquisa Fapesp, o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Carlos Monteiro defende: com os ultraprocessados, a obesidade chegou para ficar. “Estamos em plena transição nutricional”, diz ele, “com aumento de sobrepeso, obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação”. Muito disso se deve às mudanças em nosso sistema alimentar, ele aponta – principalmente a chegada dos ultraprocessados. Antes, os obesos não passavam de 2% a 3% das pessoas. A disseminação desses produtos pela indústria alimentícia mudou o quadro. Prova disso seria que, de 1990 para cá, enquanto dobrou o número de adultos obesos e quadruplicou o de crianças obesas, a população mundial aumentou em apenas 51%. Coordenando um estudo sobre a dieta dos brasileiros, Monteiro afirmou à revista que já se identificaram correlações entre o consumo de ultraprocessados e excesso de peso e hipertensão. Isentar de impostos os alimentos saudáveis poderia ser um caminho para diminuir o consumo da comida que faz mal à saúde, ele explica.

Falta de vacinas deixa mundo vulnerável ao cólera

O estoque mundial da vacina contra o cólera está acabando, alerta a EuBiologics, única companhia farmacêutica a fabricá-la na atualidade. Contudo, o cenário já era preocupante há alguns anos, explica uma reportagem do New York Times: em 2023, por exemplo, 76 milhões de doses foram solicitadas por países que as necessitavam para “vacinação reativa” – campanhas em locais onde está acontecendo um surto da doença –, mas apenas 38 milhões delas puderam ser fornecidas. Nenhuma dose pôde ser destinada para campanhas preventivas de imunização em regiões onde, apesar de a doença não estar causando novas infecções no momento, as condições para a disseminação do cólera estão colocadas. Com isso, todas as doses produzidas estão sendo imediatamente utilizadas, inviabilizando a criação de um estoque. O quadro deixa o mundo ainda mais vulnerável à doença – e anos se passarão até que outras empresas interessadas em fabricar o imunizante possam fazê-lo.

Opas quantifica explosão da dengue nas Américas

O continente americano chegou a 4,6 milhões de casos de dengue em 2024, apontam os últimos dados divulgados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 237% nos registros da doença. O Brasil é o líder disparado em números absolutos, concentrando 67,4% das infecções de dengue das Américas, mas não apresenta a situação mais grave em termos proporcionais. Em primeiro no ranking, o Paraguai atingiu um índice de 2.540 casos por mil habitantes, enquanto o Brasil está na marca de 1.529 casos a cada mil pessoas, dizem números do MS citados pela Agência Brasil. Nos óbitos, oito países enfrentam um quadro proporcionalmente mais duro que o brasileiro: Paraguai, Guatemala, Peru, Bolívia, Honduras, Equador, Argentina e Panamá. Noticiada pela Reuters, a epidemia de dengue no Peru já causou o triplo de mortes que no ano passado.

EUA discriminam cientistas de países preocupantes

A ciência não passa incólume pelas movimentações políticas que anunciam os sinais de uma nova Guerra Fria. Nos Estados Unidos, uma lei implementada na Flórida agora proíbe suas doze universidades estaduais de admitir pós-graduandos oriundos de “países preocupantes”: China, Irã, Rússia, Coreia do Norte, Síria, Cuba e Venezuela. A medida representa um ataque direto à liberdade acadêmica, defende um professor da University of Florida à Science. Ele solicitou à Justiça uma liminar que suspenda os efeitos da lei, alegando que só o governo federal pode legislar sobre relações empregatícias – e que a diretriz adotada pela Flórida é discriminatória. O acadêmico relata que vários processos seletivos que costumavam receber muitas inscrições dos países listados já estão esvaziados. “Me parece óbvio que uma política baseada na origem nacional ou de raça [dos pós-graduandos] é uma forma de discriminação”, ele diz.

Como o Butantan poderia enfrentar a gripe aviária

Cada vez mais países registram a presença do vírus H5N1 em seu território, e a infecção de humanos pela gripe aviária tem ampliado a preocupação dos órgãos internacionais de saúde com a questão. Por enquanto, o Brasil identificou poucos casos, praticamente restritos a aves migratórias. Mas se o quadro da panzootia – uma pandemia que afeta os animais – passasse a ser mais grave no país, um importante laboratório público poderia “fazer depressa uma vacina”, revela a presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Helena Lage Ferreira. “O Instituto Butantan tem as sementes (a base) de uma vacina pré-pandêmica e poderia produzir um imunizante em curto prazo, se fosse necessário”, ela explica a O Globo. A “capacidade e experiência” do centro de pesquisas seriam decisivas nesse cenário, avalia Lage, o que reforça o caráter estratégico que possuem os laboratórios públicos do país.

Brasil e Guiana cooperarão na Saúde

Reforçando a política de cooperação Sul-Sul, o Ministério da Saúde assinou na última quinta-feira (11/4) um acordo de cooperação em saúde com a Guiana. Estiveram presentes na cerimônia a ministra Nísia Trindade e seu correspondente da nação vizinha, o ministro Frank Anthony. O memorando de entendimento prevê ações comuns em áreas como vigilância em saúde, atenção primária, saúde digital e inovação científica e tecnológica. Em Brasília, a comitiva da Guiana foi apresentada a programas da pasta brasileira como o Meu SUS Digital e a iniciativa Brasil Saudável. De acordo com uma nota do ministério, também foi discutida junto à Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde a possibilidade de se promover a formação de profissionais da Guiana, desde o nível técnico até às especializações. Em fevereiro e março, a Saúde já havia firmado outras parcerias com países do Sul Global, como a Malásia e a Indonésia.

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