Gol contra: o futebol quer voltar, em meio à pandemia

Mesmo com jogadores atingidos pela covid-19, Federação Carioca planeja retorno a seu campeonato e pode carregar resto do país. OMS adverte: contágio pode recrudescer. E mais: militares tentam calar servidores da Saúde

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A VOLTA DO FUTEBOL CARIOCA

Foi tudo rápido, com decisões que refletem muito bem a condução atrapalhada da pandemia no Brasil, colocando a economia à frente da saúde. Na segunda-feira à noite, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro se reuniu com os clubes cariocas e já acertou o retorno da Taça Rio para a mesma semana. As datas e horários da rodada foram divulgadas ontem, e o primeiro jogo durante a pandemia acontece hoje à noite: o Flamengo vai jogar contra o Bangu em um Maracanã vazio.

Faltava só o avalda prefeitura, que veio ontem. “Jogos estão autorizados e irão acontecer. A população do Rio de Janeiro, como eu, aguarda ansiosa para ver seus times voltarem a campo. Traz um alento enorme para nossa alma“, disse, melodramático, o prefeito da capital, Marcelo Crivella (Republicanos). É claro que o alento é maior para os cofres dos clubes, ansiosos pelo retorno da verba dos direitos de transmissão. As negociações com a TV Globo a esse respeito, por sinal, ainda não estão fechadas.

Botafogo e Fluminense, que ainda nem voltaram a treinar, são contra a retomada, mas os jogos dos dois times estão mantidos para a próxima segunda-feira. O Botafogo tem pelo menos cinco atletas com diagnóstico positivo para covid-19 e pode deixar o campeonato. Os jogadores do Flu publicaram um manifesto. Ambos os clubes ameaçam entrar na Justiça Desportiva.

O recomeço dos jogos acontece duas semanas depois do maior número de mortes registradas no estado, mas o movimento não se restringe ao Rio. Na avaliação de Marcelo Rizzo, colunista do UOL, o reinício do Carioca vai forçar outros campeonatos estaduais a seguir esse caminho, colocando o Campeonato Brasileiro no horizonte. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), liberou ontem a volta aos treinos no início do mês que vem. Em Minas Gerais – onde a situação da pandemia tem piorado a olhos vistos –, a intenção é que o estadual retorne no fim de julho.

Aliás, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que pretende viajar no fim do ano ao Catar para ver o Palmeiras ser campeão mundial… Foi durante a posse do novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, à qual compareceram o presidente do Flamengo e ao menos dois jogadores paulistas.

Em alguns países europeus que já haviam controlado o coronavírus, o futebol começou a voltar em meados de maio. A Liga Europeia deve voltar em agosto, com protocolos de segurança diferentes. Por aqui, o retorno das torcidas aos estádios não está permitido e não há previsão para que isso aconteça, nem mesmo com capacidade reduzida. Teria que haver toda uma reestruturação dos espaços. Mas o que acontece do lado de fora dos estádios também importa. Ontem, o Napoli conquistou a Copa da Itália. Em campo, jogadores comemoraram sem torcida. Já em Nápoles… Torcedores invadiram as ruas e pararam o trânsito, numa aglomeração pra ninguém botar defeito.

AINDA EM SITUAÇÃO CRÍTICA

Ontem, o Brasil completou três semanas seguidas de desaceleração no contágio pelo novo coronavírus. Contudo o cálculo, feito pelo Imperial College de Londres, ainda indica que a taxa de transmissão nacional está acima de 1 – em 1,05 para sermos exatas –, o que denota falta de controle do país na sua resposta à epidemia. Estamos nessa situação ‘descontrolada’ há oito semanas seguidas. Nosso pior momento aconteceu no final de abril, quando a taxa de transmissão chegou a 2,8.

Em relação às mortes, há uma tendência de queda, apesar de ainda estarmos na pior situação entre 51 países acompanhados pela instituição em seus modelos epidemiológicos. Os cientistas britânicos estimam que, desde o último domingo até o próximo sábado, tenhamos 7.090 vítimas fatais da covid-19 por aqui. Isso é quase o dobro do México, país que vem atrás de nós nessa lista, com 3,6 mil mortes estimadas. Mas é menor do que a projeção da semana passada, quando o Brasil apareceu com 7.780 óbitos estimados.

Saindo dos modelos e indo para os registrosO Globo também aponta uma tendência de estabilização: segundo o jornal, desde o dia 26 de maio, o Brasil contabiliza cerca de 985 óbitos por dia, sem oscilar mais que 6% desse valor

Apesar das médias, continuamos mal – ocupando o segundo lugar em número de mortes e casos no planeta – e sob risco. Foi o que ressaltou ontem o diretor do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. “O crescimento não é tão exponencial quanto antes, há sinais de que a situação está se estabilizando. Mas já vimos isso acontecendo em outros países. Eles registraram uma estabilização por alguns dias, e depois a doença decolou de novo. O momento é de extremo cuidado no Brasil”, alertou.

Nas últimas 24 horas, as secretarias estaduais registraram 1.209 mortes e 31.475 novas infecções de coronavírus. Com isso, o total de óbitos chegou a 46.665 e o de contaminações a 960.309.

E há diferenças locais no progresso da epidemia. E nas condições de enfrentamento, obviamente. Ontem, o governo do Paraná resolveu decretar regras de isolamento social mais ‘rígidas’ para algumas cidades, depois de constatar o maior aumento no número de mortes e casos registrados desde o começo da crise.  Na terça, o estado chegou à marca dos dez mil casos e ontem já estava com 11.085 confirmados. Apesar disso, a resposta é tímida. O governador Ratinho Júnior (PSD) anunciou a proibição dos shoppings abrirem nos finais de semana, da entrada de crianças em supermercados e do consumo de bebidas alcóolicas nas ruas depois das 22h… E isso só vale para Curitiba e região metropolitana, quando sete em cada dez novos casos da covid-19 no Paraná foram registrados no interior. Em Curitiba, contudo, a secretária municipal de Saúde falou ontem na possibilidade de decretar lockdown se a circulação não diminuir na cidade, que sofre com falta de equipes para atender nas UTIs e está com 82% de ocupação desses leitos.

Mato Grosso é outro que bateu recorde de infectados em um único dia, com 379 registros. O número parece baixo, mas em Corumbá, quarto município mais populoso do estado, a ocupação de leitos de UTI no SUS chegou a 95%. Outro exemplo: o Rio Grande do Norte, onde a capital Natal já chegou aos 100% de ocupação das UTIs, bateu recorde de mortes ontem, com 41 vítimas, num total de 626 óbitos e 15,6 mil casos. Segundo levantamento da Folhahá seis estados com mais de 80% de UTIs ocupadas atualmente: Acre (90%), Pernambuco (87%), Rondônia (85%), Espírito Santo (85%) e Rio Grande do Norte (91%). 

DOMÍNIO

O Ministério da Saúde ameaçou ontem usar a Lei de Segurança Nacional contra funcionários que divulgarem qualquer informação sobre o gabinete do ministro interino, general Eduardo Pazuello. No Globo, trabalhadores relatam “clima de tensão e desconfiança”, principalmente depois da militarização da pasta De acordo com fontes ouvidas, “o ambiente está pesado a ponto de servidores temerem que seus celulares estejam grampeados“, e, nas reuniões, técnicos são contestados “com respostas baseadas em senso comum e opinião, e não em dados técnicos”. Nada mais previsível.

E o grupo que comandao Ministério quer interferir diretamente na direção da Fiocruz, segundo a Piauí. “Tudo deles envolve LGBTI. Eles têm um pênis na porta da Fiocruz, todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara, as salas são figurinhas do Lula Livre, Marielle vive”, diz um áudio de Mayra Pinheiro – a secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde –, gravado no ano passado e que começou a circular entre gestores em maio. As ‘denúncias’ da secretária obviamente não têm lastro na realidade, mas são os motivos que ela usa para justificar uma intervenção nas eleições para a presidência da autarquia, que acontece ainda em 2020. “O que a gente tem de começar a fazer é acabar com essa influência do Conselho Nacional da Saúde, que vaia o presidente, vaia deputado, vaia todo mundo que é contra as medidas de esquerda, e tirar da Fiocruz o poder de direcionar a saúde no Brasil“.

Em tempo: o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu levantar o número de militares (da ativa e da reserva) que ocupam cargos civis no governo, comparando-o com o de três anos atrás.

DE FORA

Quem tem conversado com governadores e secretários de saúde em nome do Ministério é um empresário que não tem vínculo formal nenhum com a pasta nem formação na saúde, informa a coluna Painel, da Folha. Airton Soligo, conhecido como “Cascavel”, é um dos principais assessores do general Pazuello, e tem sido indicado pelo ministro interino como o responsável por receber demandas dos estados. É também apontado como participante de um esquema ilegal de promoção da candidatura do bolsonarista Antonio Denarium, governador de Roraima…

“Secretários se disseramespantados ao saber que Cascavel não tem vínculo formal com o governo. Contaram que imaginavam que fosse um assessor parlamentar oficial e que o trato com ele tem sido constante, com recomendação de Pazuello”, diz a nota. Mas sua atuação começou a convite do Conasems, conselho que reúne secretários municipais de saúde, por ser ex-prefeito de Mucajaí (RR). “Cascavel foi prefeito e por isso já tínhamos uma relação. E então a gente pediu a ele uma aproximação com o Ministério da Saúde. Procuramos alguém que tivesse contato [com Pazuello] para melhorar a relação. Ele serviu como uma ponte, como um assessor parlamentar, um assessor para assuntos técnicos”.

A propósito, em uma pesquisa que mediu como a população avalia a reação de seus governos à pandemia, o Brasil ficou em último lugar. Só 35% das pessoas dizem que a resposta do governo é boa, enquanto essa média global de satisfação ficou em 70%. Não é para menos. O levantamento é parte do Índice de Percepção da Democracia 2020, realizado pela empresa alemã Dalia Research em parceria com a Fundação Aliança para as Democracias.

QUANDO?

O site ProPublica trouxe ontem uma reportagem bem longa e completa sobre vacinas contra o novo coronavírus. Explica por que parece razoável a probabilidade de encontrar vacinas eficazes em breve – mesmo que esse processo leve em geral de dez a 15 anos –, trata de desafios em relação ao desenvolvimento e à logística da produção e distribuição em escala global (já falamos bastante disso por aqui). Mas também enfatiza as etapas necessárias para garantir que um futuro imunizante seja realmente seguro , o que é uma preocupação válida, especialmente quando se considera a rapidez com que as pesquisas e testes estão acontecendo.

Os ensaios de fase 3, que envolvem milhares de pessoas e acontecem antes da aprovação por agências reguladoras, fornecem um grande conjunto de dados para compreender quais são os efeitos colaterais esperados, e garantir que as vacinas comercializadas não tenham muitos problemas de segurança. Mas ainda há os efeitos raros que não vão aparecer em 20 mil pessoas, mas podem aparecer em 20 milhões, ou dois bilhões.

Isso acontececom qualquer medicamento ou imunizante, mas no caso do coronavírus é mais imperioso que um contingente muito grande seja vacinado muito rápido. Por isso, os cientistas estão precavidos, entendendo que é necessário rastrear e monitorar eventos raros rapidamente, mesmo depois que a vacina for lançada no mercado. As fontes ouvidas explicam, porém, que diante de resultados satisfatórios na fase 3 o risco de não se vacinar (e morrer pela doença) é certamente maior do que o de sofrer algum efeito raro ainda não identificado.

De todo modo, os especialistas alertam que devemos frear nossas expectativas em relação a ver todo mundo vacinado num futuro muito próximo, até porque os ensaios de fase 3 têm um cronograma difícil de prever. “Estamos cometendo o mesmo erro que cometemos em 2009, quando desenvolvemos a vacina contra o H1N1. Fizemos as mesmas declarações e, em seguida, demorou mais tempo do que as pessoas esperavam. Quando finalmente saiu, a mídia disse: ‘É uma vacina tardia!’ Prometemos demais e entregamos de menos em 2009 e não aprendemos essa lição”, diz William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas na Vanderbilt Medicine.

DESDE JÁ

Conseguir uma vacina que controle essa pandemia pode parecer o fim dos nossos maiores problemas sanitários, mas não é. “Estamos em uma nova era de maior frequência e maior ameaças zoonóticas de alta velocidade ”, diz, na matéria da Wired,  Stephen Morrison, diretor do Centro de Políticas de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. Em outras palavras: novas ameaças podem estar à espreita agora mesmo.

O cenáriomeio apocalíptico não é nada improvável, pelo contrário. Aliás, mesmo a pandemia de covid-19 não chegou de surpresa. Há mais de uma década, epidemiologistas vinham alertando para esse perigo. Um deles é Michael T. Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, que há 15 anos escreveu sobre os problemas que aconteceriam caso uma pandemia global acontecesse sem o devido preparo por parte das nações. A previsão estava certa.

“Temos que pegar as informações que obtemos dessa pandemia – todos os aspectos dela – e perguntar a nós mesmos, assim como o Conselho Nacional de Segurança em Transportes faz quando tira a caixa preta de um avião acidentado: o que podemos fazer para garantir que isso não aconteça de novo? Parte disso precisa ocorrer ainda agora, porque precisamos agir rapidamente com base no que está acontecendo”, disse à repórter Maryn McKenna. Ele defende que uma comissão estabeleça urgentemente a “narrativa da pandemia” e todos os erros cometidos, como os sinais de perigo ignorados (refere-se aos EUA, mas obviamente a sugestão é aplicável ao resto do mundo).

Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, que em setembro de 2019 haviam previsto uma pandemia em breve, propuseram a criação de um “centro nacional de previsão de epidemias”; ao mesmo tempo, apresentaram ao Congresso um programa de US$ 1,5 bilhão para garantir a produção rápida de testes, antivirais e vacinas, quando necessário. E isso sinaliza que um dos maiores problemas é que os países se comprometam a investir dinheiro para se antecipar aos problemas, ao invés de apenas respondendo a eles. Segundo Osterholm, não dá para se fiar no setor privado, porque as empresas não costumam gastar antes de ter certeza do retorno lucrativo. Portanto, cortes na ciência e na saúde pública são a receita para um novo fracasso, talvez pior do que o atual.

E se por um ladoé preciso investir antecipadamente no combate a uma nova futura crise sanitária, por outro, preveni-la depende de que os países abracem em definitivo soluções para a catástrofe ambiental. Líderes da ONU e da OMS, e um relatório da WWF, alertam que os principais fatores para doenças se deslocarem de animais selvagens para humanos são a destruição da natureza, a intensificação da produção agrícola e pecuária, além do comércio e consumo de animais selvagens. Entre 60% e 70% das novas doenças que surgiram em seres humanos desde 1990 vieram da vida selvagem e, no mesmo período, 178 milhões de hectares de floresta foram desmatados. Retomadas econômicas que não levem isso em consideração vão definitivamente potencializar novos riscos.

UM FIM

Ontem, a novela da hidroxicloroquina chegou a um ponto final, ao menos para o conselho do “Solidarity”, formado por dez países que participam do estudo sobre possíveis medicamentos para o tratamento da covid-19 coordenado pela Organização Mundial da Saúde. Eles decidiram mesmo interromper os testes com a droga depois que um comitê científico independente avaliou os resultados preliminares do próprio estudo e de outras pesquisas. Tudo aponta para a ineficácia do medicamento na redução da mortalidade da doença. Por aqui, continuamos negando as evidências.

SINAIS

Ontem, o Comitê de Política Monetária do Banco Central diminuiu a taxa básica de juros de 3% para 2,25% ao ano. É o menor patamar histórico da Selic, e a quarta redução consecutiva desde o início da pandemia. Para efeito de comparação, em dezembro do ano passado, quando o vírus circulava na China mas o mundo nem suspeitava do problema, a taxa tinha sido fixada em 4,5%. 

Outro número que ajuda a traçar um panorama da situação da economia foi divulgado ontem pelo IBGE. O Instituto apontou uma queda de 11,7% no setor de serviços em abril ante março, a pior da série histórica iniciada nove anos atrás. O setor, que inclui turismo, transportes, restaurantes, salões de beleza, dentre outros, responde por mais de 60% do PIB brasileiro.

Ontem, Paulo Guedes deu outra declaração que prova sua inadequação para liderar a recuperação econômica nesse contexto tão particular de crise: “Agora estamos finalizando os nossos programas emergenciais e voltando para as reformas. E nos próximos 60, 90 dias, vamos acelerar”, disse, assegurando o direcionamento neoliberal em um evento promovido por uma instituição de ensino dos Estados Unidos.

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO

Pesquisadores da Universidade de Granada projetaram o impacto da volta às aulas. Tendo como base a realidade espanhola, imaginaram uma sala de aula composta por apenas 20 alunos e um professor. Usando como média também os indicadores de lá, de 1,5 filho por família, calcularam que metade dos alunos tem um irmão e o restante é filho único. Só isso exporia cada criança a 74 contatos cruzados no primeiro dia de volta às aulas. No segundo dia, o número sobe para 808. E assim, no papel e com números bem distantes dos brasileiros, se indica a alta probabilidade de surtos quando nossas escolas reabrirem… 

Seria preciso, no mínimo, distanciamento, testes, rastreamento… Dinheiro e planejamento, enfim. Mas se depender do governo federal, os gestores e estudantes estarão jogados à própria sorte. Ontem, uma comissão da Câmara dos Deputados divulgou um relatório em que critica o MEC por “ausência de uma política nacional educacional para este período de pandemia e para o pós-pandemia”. Dão exemplos do que o Ministério poderia ter feito: negociar com empresas de telefonia o fornecimento de pacotes de dados específicos para que estudantes com dificuldades de acesso à internet pudessem acompanhar aulas online, padronizar recomendações sobre instrumentos tecnológicos e treinamentos para o desenvolvimento de aulas, orientações e modelos para calendário letivo, etc.

Mas mesmo com a iminente saída do ministro Abraham Weintraub – que deve ser anunciada hoje em um vídeo gravado com Jair Bolsonaro, no estilo da demissão de Regina Duarte –, a situação não deve melhorar. O mais cotado para assumir a pasta é Carlos Nadalim, que hoje é secretário nacional de Alfabetização do MEC, não tem especialização na área, mas é um fiel seguidor de Olavo de Carvalho.

CONTINUAM AS INVASÕES

Aconteceu ontem, na Bahia: o deputado estadual Capitão Alden (PSL) invadiu o hospital de campanha Riverside, localizado em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. O parlamentar, que é um bolsonarista de carteirinha, chegou na unidade acompanhado de seguranças. Um deles violou a intimidade de uma paciente que estava com as partes íntimas expostas, recebendo banho em seu leito. Alden, um PM licenciado, ameaçou dar voz de prisão aos funcionários. O episódio está sendo apurado pela polícia e foi condenado pelas autoridades estaduais.

SINAL VERDE PARA INQUÉRITO

Oito dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votaram a favor da validade do inquérito das fake news, aberto pela própria Corte e questionado pela Procuradoria Geral da República. O julgamento prossegue hoje, mas a maioria formada indica mais dor de cabeça para o presidente, à medida que as investigações chegam mais perto de empresários e militantes bolsonaristas. A expectativa, como sabemos, é que as provas colhidas durante as buscas e apreensões levem aos filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro.

Logo de manhã, antes do julgamento começar, o presidente voltou a fazer ameaças ao Supremo. “Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está [a] olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem [terça], no dia de hoje, quebrando sigilo de parlamentares, não tem história nenhuma visto numa democracia por mais frágil que ela seja. Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar“, afirmou a apoiadores. De tarde, durante a posse do genro de Silvio Santos no recriado Ministério das Comunicações, foi mais enigmático: “Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer. É o povo que diz o que as instituições devem fazer”. Na posse, estava o presidente do STF, Dias Toffoli. Já de noite, novamente em diálogo com apoiadores, comparou: “É igual uma emboscada. Você tem de esperar o cara se aproximar. ‘Vem mais, vem jogando ovo e pedra’”.

NOVA FONTE DE CONSULTA

A Fapesp lançou ontem um repositório de dados abertos que deve reunir, até o início de julho, informações detalhadas (mas sem identificação pessoal) de pelo menos 75 mil pessoas com covid-19 ou suspeita da doença. São pacientes do setor privado, cujos dados foram disponibilizadas pelo Grupo Fleury e pelos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein. A ideia é que sirvam como fonte de pesquisas científicas sobre a pandemia.

DE TAMPA FECHADA

Além de lavar as mãos constantemente, não tocar no rosto, andar com álcool em gel e máscara por aí e manter distância de ao menos dois metros das outras pessoas há um outro hábito que precisa ser incorporado ao cotidiano de muita gente. É o que indica um estudo chinês publicado na terça-feira que analisa a dinâmica das gotículas minúsculas do novo coronavírus… nos banheiros. Os cientistas concluíram que, ao dar descarga com a tampa do vaso aberta, uma pessoa pode gerar uma nuvem de aerossóis que se ergue por quase um metro.

Essas gotículas podem ficar suspensas no ar por tempo suficiente para ser inaladas pelo próximo usuário do toalete, ou pousar na superfície. Essa segunda possibilidade pode se tornar um problema porque também segundo o artigo, publicado na revista científica Physics of Fluids, o coronavírus pode se acoplar a receptores celulares no intestino delgado. Contudo, o RNA viral presente nas fezes provavelmente seja menos infeccioso em comparação com os vírus que são expelidos por tosse. Os pesquisadores também não sabem ainda a quantidade de vírus nos aerossóis. 

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