Assim progridem as vacinas brasileiras contra a covid
Reportagem aponta ao menos cinco em fase de testes. Destacam-se a ButanVac e a de spray nasal. Podem ser importantes para baratear a produção e compor o calendário de imunização periódica contra a doença
Publicado 26/11/2021 às 06:00 - Atualizado 25/11/2021 às 19:34
O sucesso brasileiro na vacinação, a despeito das interdições do governo Bolsonaro, deve ser comemorado, mas é preciso também entender seus limites e apostar em novas soluções. Evidências da queda de eficácia dos imunizantes contra a covid disponíveis são cada vez mais sólidas – o que exigirá, provavelmente, doses de reforço periódicas. Como já tratado no Outra Saúde, o orçamento da União para 2022 ignora completamente o fato de ainda estarmos em pandemia: o valor proposto para compra de imunizantes será de apenas R$ 3,9 bilhões – 56% do disponível em 2021. A aprovação de vacinas criadas e produzidas no Brasil pode ser um caminho para cessar a dependência de farmacêuticas estrangeiras e diminuir os custos.
Uma reportagem da revista Pesquisa Fapesp dá um panorama detalhado do ponto em que estão as cinco iniciativas de vacina brasileiras que já terminaram ou estão prestes a encerrar os testes pré-clínicos com animais, à espera de autorização da Anvisa para passar à próxima fase. A mais avançada delas é a ButanVac, produzida em colaboração internacional com participação do Instituto Butantan. É a única que já passou da fase 1 de testes clínicos, realizada com 120 pessoas. Na fase 2, deverá fazer experimento com 4 mil voluntários. Dimas Covas, diretor do Butantan, promete entregar 80 milhões de doses por ano ao ministério da Saúde, mas pontua: não será substituta à CoronaVac, também produzida pelo instituto, mas complementar à imunização contra a covid. Cada uma tem uma vantagem específica – a mais antiga oferece uma maior diversidade de antígenos, a futura ButanVac estimula uma resposta imune mais forte.
Há ainda quatro outras vacinas em fase de testes. A Versamune-CoV-2FC, parceria entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a startup brasileira de biotecnologia Farmacore e o laboratório norte-americano PDS Biotechnology; a UFRJvac, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; a Flu-CoV, desenvolvida pela UFMG, Fiocruz, Butantan e FMRP-USP; e a vacina por spray nasal produzida pelo InCor com a Faculdade de Medicina da USP. Seus projetos, de um modo geral, estão em busca de alcançar uma imunidade mais duradoura e adaptar-se às variantes locais da covid – benefícios somados ao barateamento da produção.
A reportagem da Pesquisa Fapesp é interessante por trazer a situação detalhada de cada uma delas, além de gráficos de como funcionam e qual tecnologia utilizam. Destacamos aqui a explicação da vacina de spray nasal da USP/InCor: “Um dos problemas das vacinas atuais, aplicadas de forma intramuscular, é que elas estimulam a produção de anticorpos no sangue, mas não nas mucosas do trato respiratório. Assim, a pessoa não sofre – ou sofre pouco – os efeitos da doença, mas pode desenvolver a infecção e transmitir o vírus por gotículas ou aerossóis expelidos pelo nariz e pela boca.” Vale a leitura atenta para compreender melhor como poderá ser feita a imunização da população brasileira contra a covid nos anos a seguir.