A diáspora científica brasileira em números

Estudo da Nature aponta saída de pesquisadores de países “emergentes”. Nosso caso é pior: apenas 13% dos projetos recebem recursos; e desemprego dos profissionais com mestrado chega a 25%

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A revista especializada Nature anunciou alarmada, no dia 10/11, os resultados de sua pesquisa periódica sobre salários e satisfação profissional na área da ciência. Apontou que a pandemia está provocando estragos nas carreiras científicas pelo mundo. Os dados detalhados sairão nas próximas edições, mas o texto chama a atenção para um tema caro ao Brasil: a saída de cientistas dos países emergentes.

Lembra que há dez anos, China, Índia e Brasil foram elogiados pelo matemático sudanês Mohamed Hassan na primeira enquete da série, porque estavam pagando adequadamente seus pesquisadores apesar da crise financeira global. O elogio dificilmente se repetiria agora. No geral, 12% dos pesquisadores entrevistados dizem ter perdido oferta de emprego por causa da covid. Entre os mais jovens, 53% foram prejudicados.

Mas no Brasil e na Índia a reclamação foi muito maior: chegou a 72% entrevistados no Brasil e a 61% na Índia. Não surpreende. Com ou sem pandemia, não faltam motivos para reclamar, é bom que se diga. “O Brasil corre risco de ter apagão científico”, denunciou o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, há duas semanas, comentando o corte esmagador dos recursos da ciência no orçamento.

E já havia alarme antes do corte: apenas 13% dos projetos de pesquisa haviam recebido financiamento, esse ano. A covid apenas acelerou as perdas, afirmam especialistas. A sub-ocupação dos recém-saídos da universidade, em 2019, e o desemprego dos profissionais com mestrado chegou a 25%, comparado ao desemprego de 14% para toda a população. Esse processo provocou críticas, esse ano, até da conservadora revista The Economist.

Para ela, a instabilidade política e a falta de recursos estavam empurrando os cientistas para fora do Brasil. Lembrando que a emigração brasileira para os países da OCDE disparou em 2017, num salto de 24%, reportou que agora quase 30% de todos os brasileiros que vivem nos países da OCDE têm formação universitária. E cita um comentário da especialista Ana Carneiro, que estuda a diáspora acadêmica brasileira na Unicamp: “Estar em um país que ataca diariamente a ciência é muito desanimador”.

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