PÍLULAS | Piso da Enfermagem: surdo às ruas, STF vota contra o direito

• A economia burra do corte da Farmácia Popular • Crise no Samu em SP • EUA vão pesquisar versões fracionadas da vacina contra a nova varíola • As lesões no pulmão causadas pelo cigarro eletrônico • Uso de agrotóxico e câncer em crianças •

.

Piso da Enfermagem: surdo às ruas, STF vota contra o direito

Até o momento do fechamento desta edição, o placar para manter a suspensão do piso da Enfermagem no STF estava em 5 a 2contra os direitos da categoria. Outros quatro ministros concordaram com Luís Roberto Barroso e julgaram que o salário dos mais de 2,5 milhões de profissionais deve continuar como está. São eles: Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Apenas Nunes Marques e André Mendonça votaram contra a suspensão. Para que o direito de enfermeiros, técnicos, auxiliares e parteiras seja mantido, todos os votos precisam ser contra a suspensão, a partir de agora – a votação fica aberta até dia 16, a não ser que alguém peça vistas. Na sexta-feira passada (9/9), manifestações de rua para que o piso fosse garantido reuniram centenas de pessoas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Vitória e Curitiba. Eles reafirmam: já há fontes de financiamento garantidas para que os salários sejam pagos de forma justa. 

Farmácia Popular definha para favorecer “orçamento secreto”

O novo alvo da tesoura de Bolsonaro é o programa Farmácia Popular, programa que oferece gratuitamente medicamentos essenciais para o tratamento de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e asma, além de descontos em outros medicamentos. Os recursos cortados –  59% do orçamento, ou R$ 1,2 bilhão – serão desviados para as “ emendas de relator”, o chamado orçamento secreto, esquema em que parlamentares podem distribuir recursos sem transparência para beneficiar seus redutos eleitorais. Segundo a avaliação de Adriano Massuda, sanitarista e professor da FGV, trata-se de uma “economia burra”, já que o agravamento dessas doenças por falhas no tratamento causará impacto no sistema de saúde no futuro. Nos últimos anos, os brasileiros estão gastando mais dinheiro do próprio bolso com medicamentos, segundo pesquisa publicada por Massuda. A saúde indígena também foi alvo de corte de 59% no orçamento: o orçamento para 2023 será de miseráveis R$ 610 milhões.

SP: não há macas suficientes nas ambulâncias do Samu

Há poucas semanas noticiamos como a falta de leitos em hospitais no Rio de Janeiro estava afetando o serviço do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Agora um problema semelhante atinge São Paulo. Pacientes estão precisando ser levados irregularmente, em pranchas estiradas no chão das ambulâncias, por falta de macas. Trabalhadores da saúde fizeram a denúncia à Folha, e afirmaram que tal procedimento traz grande risco para os acidentados. A maca articulada com rodas é item obrigatório nas ambulâncias do Samu. Um dos motivos da falta do equipamento é que os prontos-socorros estão cheios, e quando um paciente chega, a maca fica retida até que haja leito para ele. Os funcionários também denunciam a falta de atendimento prévio feita pelo telefone, que acaba ocupando o Samu com casos desnecessários. Outro problema é a ausência de ambulâncias: circulam, hoje, segundo a prefeitura, 85 veículos – mas o número correto seria 122. 

EUA vão testar vacina fracionada contra varíola dos macacos

A vacina disponível para varíola dos macacos é escassa e ainda não há certeza de sua efetividade, já que foi criada para combater o vírus da varíola comum, já erradicada desde 1980. Para tentar solucionar o problema de disponibilidade de doses, um estudo norte-americano vai acompanhar 200 adultos com idades entre 18 e 50 anos com doses fracionadas do imunizante. A pesquisa buscará descobrir a resposta imune de diferentes níveis de dosagem e métodos de administração. Uma das estratégias é comparar a aplicação por via subcutânea e por via intradérmica – esta utiliza um quinto da dose padrão. Também se testará um nível de dosagem 50% menor. No Brasil, as primeiras 20 mil unidades da vacina devem chegar ainda em setembro, mas o ministério da Saúde afirma que estão reservadas apenas para profissionais de saúde. Nos Estados Unidos, a campanha é direcionada também a homens que fazem sexo com homens – de longe a população mais atingida até agora.

Evali: a estranha doença causada pelo cigarro eletrônico

Ainda não se sabe exatamente qual a causa, mas seu principal surto conhecido aconteceu nos Estados Unidos, em 2019, quando 2.807 pessoas precisaram ser hospitalizadas e 68 morreram. Evali é uma sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos e vapes. Segundo matéria na revista Pesquisa Fapesp, a surpresa está no fato de que o mal acomete jovens na faixa de 20 anos, alguns deles sem histórico de problemas pulmonares. As mortes, no entanto, foram mais comuns entre pacientes obesos ou com problemas prévios de saúde. Os sintomas mais comuns são falta de ar, tosse e dor no peito. No Brasil, foram contabilizados apenas sete casos de evali, mas é preciso atentar ao fato de que é possível que haja vasta subnotificação, já que a doença não é de notificação compulsória. 

A relação entre uso de agrotóxicos e câncer em crianças

Novo texto de série publicada pelos sites De Olho nos Ruralistas e O Joio e o Trigo aborda a relação entre a incidência de câncer em crianças e adolescentes e o uso de agrotóxicos. Há, nos últimos seis anos, mais de uma dezena de estudos brasileiros que analisam o efeito dos químicos agrícolas nas células humanas. Em um deles, verificou-se o perigo do contato com os agentes químicos, em especial os derivados de benzeno ou glifosato – seja pelo consumo de alimentos ou de água, pela dedetização da casa ou a aplicação de produtos na pele. Nas regiões rurais, o câncer na população infanto-juvenil relacionado ao uso de agrotóxicos é mais frequente. Em outra pesquisa, que analisou o estado do Mato Grosso, pesquisadores da UFMT cruzaram os dados de câncer na população de até 19 anos e sua correlação entre o uso médio de agrotóxicos por região. Descobriram que um dos cânceres mais comuns é a leucemia. E foi observado que, ao longo do tempo, as regiões por onde o agronegócio avançava eram acompanhadas por um aumento de incidência de câncer infantil.

Leia Também: