PÍLULAS: Nessas eleições, a estranha Bancada da Morte

• Nessas eleições, a estranha Bancada da Morte • Procedimentos cardíacos sofrem corte • A volta da chicungunha • No Reino Unido, 10% dos adultos migra para saúde privada • IDH dos países retrocede pela primeira vez • O mal estar no século XXI •

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Se o Congresso brasileiro já é conhecido por ser ocupado por bancadas fisiológicas formadas por parlamentares que defendem interesses pessoais e corporativos, corre o risco de abrigar uma inusitada geleia política. Matéria do jornal O Globo mostra que 20 médicos e médicas indiciados na CPI da pandemia pelos crimes que cometeram contra a saúde pública são candidatos a cargos eletivos nesta eleição – metade deles pelo PL, partido pelo qual tenta se reeleger Bolsonaro. Além do Congresso Nacional há quem concorra para chapas do Executivo estadual. Talvez por buscarem uma blindagem jurídica contra os processos que devem enfrentar, talvez pelo desprestígio profissional ao qual se condenaram (Nise Yamaguchi, por exemplo, foi demitida do Einstein após se destacar pela defesa dos tratamentos falsos), só a pequena política fisiológica lhes reste. Mais preocupados em defender sua atuação ideologizada na pandemia, nenhum deles se destaca por apresentar uma bandeira de interesse concreto da saúde pública em suas campanhas.

Governo dificulta cirurgias cardíacas 

Matéria de Aline Custódio no portal Zero Hora informa uma drástica redução nos pagamentos do ministério da Saúde aos hospitais que fazem procedimentos cardíacos para instalar marca-passos no corpo dos pacientes. A reportagem mostra que a portaria 1.098, publicada em 12 de maio, “reduziu em até 50% os valores pagos pelo SUS à tabela de procedimentos, medicamentos, órteses, próteses e materiais especiais. Há relatos de falta de equipamentos nos hospitais, pois os fornecedores estariam se negando a vender pelos valores da nova tabela, e instituições atendendo somente casos de urgência e emergência”. Arita Bergman, secretária de saúde do RS, critica a falta de diálogo de Brasília com o setor de saúde e relata enormes dificuldades em cobrir os custos, uma vez que o orçamento do ano já estava definido muito antes e não poderia prever tal lacuna causada por mais esta irresponsabilidade na gestão do sistema de saúde pública. Dinheiro de orçamento secreto não dá em árvore.

Por que a chicungunha volta a assustar 

O arrefecimento da covid-19 e o retorno da circulação das pessoas recolocaram na ordem do dia outra epidemia brasileira: a de chicungunha, uma das infecções viróticas causadas pelo mosquito aedes aegypti. “As arboviroses (dengue, chicungunha e zika) caíram durante a pandemia, porque o fluxo das pessoas diminuiu. As pessoas também ficaram mais em casa, o que significa que cuidaram mais do espaço onde vivem, outro aspecto que dificulta a proliferação do mosquito. Agora, sem isso, vemos uma escalada bastante importante dessas doenças, se aproximando a dados de 2019”, disse a infectologista e epidemiologista Luana Araújo, ao jornal O Globo. Até aqui, o Brasil registrou 64 mortes e 192 mil infecções, aumentos de 450% e 68% respectivamente. Diante da peça orçamentária de 2023 entregue por Bolsonaro ao Congresso, fica difícil não imaginar que seguiremos piorando esses índices.

Deus salve a… saúde 

Enquanto o mundo é bombardeado de condolências da mídia pela morte da rainha Elizabeth II, milhões de ingleses anônimos vivem seus próprios dramas. Pesquisa do instituto Engage Britain divulgada pelo jornal Guardian revela que 10% dos adultos do país passaram a recorrer ao sistema privado de saúde por conta do aumento do tempo de espera para atendimento no National Health System (NHS), o famoso sistema de saúde pública criado em 1948 como alicerce da reconstrução da nação no pós-II Guerra. A pesquisa ainda mostra que 46% dos ingleses se endividaram mais para obter serviços de saúde que consideraram urgentes. “O NHS está com falta de pessoal, são pelo menos 130 mil vagas que deveriam ser preenchidas, e uma contínua falta de investimento está sendo agravada por décadas de austeridade”, disse Matthew Taylor, representante da Confederação do NHS, entidade que reúne cerca de 1,5 milhão de trabalhadores do sistema de saúde e 1 milhão de usuários.

IDH retrocede em quase todo o mundo…

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou seu último relatório no final de agosto e trouxe informações inéditas: pela primeira vez desde que existe, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) registrou recuos. Foram mais de 90% dos países que observaram seus indicadores de expectativa de renda, educação e renda caírem; 40% dos países tiveram quedas no IDH por dois anos seguidos, tanto em 2020 como em 2021. De modo geral, o mundo voltou para 2016, diz o informe. Quando assumiu a presidência, Bolsonaro recebeu um país em 79º lugar no ranking. Hoje, o Brasil está em 87º lugar.

 …e cresce o mal estar na civilização 

A combinação entre uma crise sanitária de abrangência inédita e a Grande Recessão desencadeada em 2008 e que segue a vitimar povos e economias mostrou-se uma dupla fatal. Pois o relatório, além de analisar os retrocessos socioeconômicos diretamente relacionados à pandemia, também capta o estranhamento generalizado por que passam diversas sociedades. Segundo Achim Steiner, coordenador do estudo, o descrédito das instituições e o negacionismo científico adicionaram obstáculos aos governos na hora de organizarem políticas públicas de contenção ao vírus e proteção à população. “Hoje, com um terço das pessoas em todo o mundo sentindo-se estressadas e quase dois terços das pessoas desconfiadas umas das outras, enfrentamos grandes obstáculos para a adoção de políticas que funcionem para as pessoas e o planeta”, resumiu em matéria do Nexo Jornal.

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