PÍLULAS: Negacionismo reduz efeitos da campanha de vacinação contra pólio

• Vacinação contra pólio patina • Negligência com a varíola dos macacos • UFMG poderá criar vacina contra a doença • Investimento em ciência para superar estagnação econômica • Vacinas nasais contra a covid • Aborto na América Latina •

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Após pôr a vida de milhares de brasileiros em perigo, instados a acreditar que vacinas eram prejudiciais à saúde, o negacionismo continua afetando o tecido social. Ao constatar os baixos índices de imunização, o ministério da Saúde informou que a campanha de vacinação contra a poliomielite será estendida por um mês. A doença, conhecida como paralisia infantil, teve seu último caso no Brasil registrado em 1989, e foi oficialmente considerada erradicada em 1994. No entanto, a atual taxa de cobertura vacinal é a mais baixa da história. No plano global, a OMS também alerta para riscos de retorno desta doença, pois parte da população de países que erradicaram a enfermidade evita se vacinar. No Brasil, a campanha se estende a diversas outras infecções e visa atualizar a imunidade da população até 15 anos. Além disso, o país enfrentadificuldades em fornecer a BCG, aplicada em recém-nascidos e outrora produzida em solo nacional. Negacionismo científico e desindustrialização neoliberal da nação, uma dupla e tanto.

Varíola dos macacos: pesquisadores alertam contra negligência

Embora tenha veiculado publicações sobre prevenção da nova varíola, o ministério da Saúde não dispõe, em seu site, de um painel atualizado do número de casos da doença. Mas o grupo de pesquisadores Rede Análise publica artigo em inglês na MedRxiv sobre o rápido avanço da doença no país e aponta ausência de medidas de controle coordenadas. O estudo alerta, por exemplo, para os riscos de certos grupos populacionais desenvolverem manifestações graves – entre eles, as grávidas, crianças e pessoas com o sistema imunológico comprometido, relata Fredi Diaz-Quijano, um dos autores, ao Jornal da USP. O país já dispõe de testes desenvolvidos na Fiocruz, mas não há notícia de que estejam sendo aplicados de forma direcionada à população mais vulnerável à infecção. Vinte mil doses de vacina devem chegar ao país em setembro, mas tampouco há divulgação de como seria executada a campanha de imunização.

País recebe material biológico para criar vacina contra nova varíola

Chegou ao Brasil nesta segunda-feira (5/9) a chamada semente do vírus vacinal, matéria biológica que permite o desenvolvimento da vacina contra a varíola dos macacos. Doado pelo Instituto Médico de Saúde, agência do governo dos EUA, o insumo irá para o Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG. Já existe uma vacina contra a nova varíola, mas ela pertence ao laboratório dinamarquês Bavarian Nordic e não teve sua patente compartilhada. A empresa tampouco conseguirá produzir novas vacinas até o fim deste ano, uma vez que se comprometeu com outros projetos que orientaram sua produção, antes de a epidemia começar. A Agência Brasil informa que o desenvolvimento deste novo imunizante é prioridade do CâmaraPOX, grupo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) formado por oito pesquisadores.

SBPC pede investimento em C&T contra a estagnação econômica

Na série de debates sobre o bicentenário da independência organizada pela SBPC (ver nota de abertura, acima), vale acompanhar também o diálogo sobre ciência e indústria.  Uma das falas destacadas foi a do economista Fernando Sarti, da Unicamp: “Com o passar dos anos, houve uma complexidade maior do ponto de vista tecnológico na estrutura de produção e de exportação. Só que aqui no Brasil a gente vê um movimento inverso, nós temos um downgrade. Estamos em um país que tem um déficit comercial de R$ 20 bilhões relacionado a propriedade intelectual e que não quer gastar R$ 4 bilhões para a Ciência. Nós precisamos de um esquema de Ciência, Tecnologia e Inovação dinâmico e robusto, porque não se pode pensar em investimentos para a CT&I sem continuidade, como se faz hoje”. O ciclo de debates pode ser acompanhado pelo canal do youtube da SBPC.

China e Índia aprovam novas vacinas nasais

Seguindo-se a Cuba, China e Índia apresentam ao mundo suas vacinas anticovid por via nasal. Desenvolvido pela Bharat Biotech, o imunizante indiano foi lançado nesta segunda. O laboratório é o mesmo que desenvolveu a Covaxin, cuja intermediação de compra pelo governo brasileiro foi cercada de irregularidades. A vacina inalável já foi aprovada pelos órgãos reguladores do gigante do sudeste asiático, informa O Globo. Já o laboratório chinês Cansino Biologics lançou a Convidecia, que vem em forma de spray e também terá aplicação nasal. O laboratório pretende comercializá-la no Brasil e, em princípio, apresenta seu novo produto como uma dose de reforço.

América Latina: avanços e retrocessos na descriminalização do aborto

Qual o papel dos governos latinoamericanos, na luta pela descriminalização do aborto? Este foi o tema de Carla Vitória Barbosa, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em seu trabalho de mestrado. O estudo é importante porque abrange o período dos últimos 20 anos, quando houve intenso revezamento entre governos progressistas e conservadores na região. Em parte, as conclusões surpreendem, conforme afirmou a autora ao Jornal da USP. “Em geral, presidentes de direita tiveram um papel ativo de perseguição dos direitos reprodutivos e proposição de leis restringindo o acesso ao aborto legal. Já os de esquerda, quando não estavam alinhados com a pauta, tiveram um papel mais de entrave, impedindo o avanço de projetos liberalizantes”. Na pesquisa, Carla relata avanços maiores em Chile e Argentina e, de forma geral, destaca a militância feminista na defesa de novos parâmetros de direitos reprodutivos e também proteção a mulheres que por algum motivo abortaram e ficaram expostas a estigmatizações.

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