Racismo e machismo por trás dos principais crimes contra crianças

Um triste retrato: os alvos de crimes de morte violenta são, em 78% dos casos, negros – 86% do sexo feminino. Já os estupros atingem com muita força as garotas de quase todas as idades entre 0 e 17 anos

Bruna, mãe de Marcos Vinícius, garoto de 14 anos morto pela polícia em operação policial na Maré, no Rio de Janeiro | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
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O que mais salta aos olhos – embora tristemente não surpreenda – em uma nova pesquisa sobre violência infantil é o dado sobre mortes: quatro em cada cinco assassinatos é de um adolescente negro. O levantamento Violência contra crianças e adolescentes analisou 129 mil boletins de ocorrência registrados entre janeiro de 2019 e junho de 2021, de casos que envolviam pessoas de 0 a 17 anos, em 11 estados e no DF. A novidade da pesquisa foi ter qualificado a violência, desvendando os números sobre cinco tipos de crime: maus tratos, lesão corporal dolosa, estupro, exploração sexual e morte violenta intencional. Matéria da Folha faz uma observação interessante: as mortes violentas de meninos aumentam com a idade, o que faz com que o principal grupo atingido pelo crime seja o de 15 a 17 anos.

Alguns gráficos elaborados pelo jornal Nexo, aqui reproduzidos, ajudam a visualizar a situação. Outro dado assustador é o de estupros. Foi, de longe, o crime mais notificado, e representa quase 70% de todos os registros entre 10 e 14 anos. As principais vítimas, claro, são as meninas – e é possível perceber uma predominância de outros crimes cometidos contra o gênero feminino, como violência doméstica, lesão corporal e exploração sexual. O drama do estupro começa cedo para elas, crime que chegou a quase 3 mil notificações no período só com crianças de quatro anos. As garotas de 13 anos são as principais vítimas: foram quase 10 mil ocorrências. É também na adolescência que a exploração sexual é mais percebida, principalmente após os 11 anos. Na entrevista concedida à Folha, a coordenadora do levantamento Sofia Reinach faz um bom resumo do cenário: “Fica muito claro que a gente está tratando de duas formas de violência. Uma doméstica, que afeta crianças, meninas, e outra a violência urbana, que se traduz em mortes violentas que atingem meninos negros de 15 a 17 anos. É fundamental que a gente separe esses tipos, porque as políticas de enfrentamento da violência doméstica são totalmente diferentes das de enfrentamento à violência urbana”.

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