Solidariedade sanitária: Brasil pode doar vacinas a outros países

Após distribuir 378 milhões de doses à sua população – e enfrentar com sucesso a pandemia – o país pensa em seus vizinhos. Tem bons motivos para aspirar um protagonismo global, apesar da dificuldades criadas por seu próprio governo

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Com mais de 70% da população vacinada com ao menos uma dose, o Brasil poderia ajudar outros países a se proteger da pandemia e contribuir para reduzir o chamado “apartheid vacinal”, que mantém na exclusão sanitária vastas parcelas da população mundial. O próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, conhecido pelo seu alinhamento ao negacionismo de Bolsonaro, admitiu que isso poderia acontecer, mencionando a possibilidade de o país doar 12,5 milhões de doses. 

O jornal Nexo reuniu as informações a respeito, procurando avaliar a possibilidade de o Brasil, de fato, realizar essa “diplomacia das vacinas”. No final de novembro, relembra, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, reafirmou o que dissera dois meses antes, e confirmou que havia planos de distribuir doses do imunizante produzido pelo instituto, a Coronavac, para países da África. Também existe uma perspectiva – com um horizonte bem mais amplo – decorrente da iniciativa Covax, lançada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela ONU (Organização das Nações Unidas). Elas lançaram, em outubro, um plano para acelerar a vacinação no mundo, do qual o Brasil talvez possa participar.

O objetivo desse plano global é vacinar 40% da população de todos os países até o final de 2021, e 70% até junho de 2022. Parte das vacinas distribuídas pelo Covax viria para o Brasil – que poderia, porém, abrir mão de cerca de 28 milhões de doses para beneficiar a América Latina.

O Brasil já entregou para aplicação em sua população 378 milhões de doses de vacina contra a covid. E apesar de todas as dificuldades interpostas pelo governo federal, a capacidade construída no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde) ensejou um processo de vacinação de extraordinário sucesso. Por isso, e não por mérito próprio, que o ministro Queiroga pode anunciar no encontro do G20, na Itália, em outubro, as possíveis doações de imunizantes pelo país.

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