As pesquisas por soluções contra a brutalidade policial no Brasil

É preciso encontrar caminhos para reverter a onda de violência causada pelos agentes de segurança – que matam ao menos 17 pessoas por dia no Brasil. Eles também sofrem em excesso com a lógica punitivista. A academia poderá ajudar?

Ilustração: Juliana Russo/Pesquisa Fapesp
.

Será possível criar uma ponte entre a academia e as organizações policiais? Uma matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp aborda o tema, e fala na urgência da inovação na educação policial. Seria benéfica tanto para a sociedade quanto para os próprios agentes de segurança, segundo a reportagem. A diretriz repressiva adotada pela corporação é responsável por violência e mortes, que se espalharam por todos os estados do país. Negros são as maiores vítimas: 78,9% dos óbitos desde 2013, segundo o Anuário de Segurança Pública, organizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Mas esse não é um problema que afeta apenas a população, mostra a matéria. A morte de policiais, depressão, ferimentos e suicídios estão muito além do aceitável. Acabam por ser perpetuados pela lógica punitivista. A tese de doutorado da tenente-coronel Adriane Batista Pires Maia, defendida no Departamento de Violência e Saúde da Fiocruz, trata de lesões causadas por armas de fogo. “A maioria dos indivíduos atingidos por armas de fogo é de soldados, cabos ou sargentos feridos nos primeiros 10 anos de sua carreira. Aqueles que sobrevivem enfrentam sequelas por toda a vida”, afirma. A média dos atingidos é de 34 anos e 75% desses profissionais se tornam inaptos para o trabalho.

Já os índices de mortalidade policial mais altos acontecem quando os agentes estão fora do serviço, muitas vezes trabalhando com segurança privada – o número de profissionais que fazem esse “bico” é altíssimo, 47 mil. Essa violência a que estão vulneráveis causa medo e culpa entre os oficiais, e aqueles que trabalham em áreas mais perigosas são os que carregam mais sofrimento psicológico. “Muitos têm depressão e insônia crônica, vivendo situações complexas com suas famílias, que podem agravar sua agressividade. Os policiais se retroalimentam da violência que enfrentam e a reproduzem em seus confrontos” informa a socióloga Maria Cecília de Souza Minayo, da Fiocruz.

Há grandes dificuldades em fazer a ponte entre o mundo acadêmico e o de policiais. Mas a reportagem dá exemplos bem sucedidos, como é o caso do tenente-coronel Alan Fernandes, que transita entre a universidade e os quartéis. Apesar das dificuldades de unir os dois mundos, ele pesquisou, em seu doutorado, o desenvolvimento histórico de estratégias e ideologias da corporação. E já enxerga os impactos da formação acadêmica no cotidiano de seu trabalho como policial militar.


Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Leia Também: