Assim a covid afetou a América Latina

No continente onde mais morreram pessoas na pandemia, houve respostas muito distintas entre os países: de governos a populações, sistemas de saúde e amplitude da vacinação. Imunizado, vive momento de calmaria. Que virá, com a ômicron?

Mulher indígena trabalha nas ruas de Puno, no Peru, enfrentando os riscos da covid-19 para sobreviver. Imagem: Juan Carlos Cisneros/AFP
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Dois continentes têm dividido o foco de nossas notas sobre a pandemia de covid-19 nas últimas semanas: Europa, que recentemente virou o epicentro do espalhamento da doença, e África, onde primeiro se sequenciou a nova variante de preocupação, a ômicron. Mas por que não tomar um tempo para analisar os arredores e observar a situação na América Latina? Essa foi a pauta de duas publicações recentes, a BBC em espanhol e o El País Brasil. Ambas percebem algumas semelhanças nas políticas adotadas em vários países da região nos últimos tempos para contenção da pandemia. A discussão sobre passaporte sanitário se faz presente no continente, com algumas diferenças, mas é rejeitada pelos governos dos dois maiores países, Brasil e México.

Cuba destaca-se por sua avançada vacinação, que já foi matéria do Outra Saúde. Em quase sete meses de campanha com três imunizantes produzidos localmente, a ilha conseguiu vacinar 90% de sua população – 82% com vacinação completa. Os números alçaram o país à segunda posição de alcance populacional da vacina, atrás apenas dos riquíssimos Emirados Árabes. Também fez acordos de exportação dos imunizantes para o Vietnã e a vizinha Venezuela, que vacinou, até agora, 57% de sua população com ao menos uma dose. Em termos de imunização, o Chile também figura entre os países mais vacinados do mundo, tendo 88% da população com a primeira dose, e foi o primeiro do continente a começar a aplicação de doses de reforço, em agosto. Às voltas com uma tensa eleição, lá o debate sobre o passaporte vacinal não acirra os ânimos. O país já conta com passe de mobilidade há meses, sem drama, e acaba de endurecer a política de fronteiras, após o anúncio da variante ômicron.

Mas quanto à gravidade da pandemia, o Peru chegou a ter desempenho ainda pior que o do Brasil, em números relativos. Se por aqui alcançamos 2.800 óbitos por milhão, no país andino o número foi mais de duas vezes maior. Conta, hoje, 201 mil mortos, mesmo tendo prontamente declarado estado de emergência e anunciado medidas de controle que restringiam o deslocamento da população. Por quê? Uma matéria da revista Galileu explica que logo no início da pandemia, o que pesou para a piora foi a grande força de trabalho informal e um sistema de seguridade social muito limitado, duas coisas que dificultaram um lockdown mais rígido. O governo ofereceu um auxílio financeiro limitado, e as deficiências estruturais do sistema de saúde peruano completou o triste quadro. A Saúde pública no país é fragmentada e desigual, não chega aos povos indígenas da região amazônica e não contava com leitos de UTI e profissionais suficientes. Com o avanço da vacinação, em meados de agosto o número diário de mortes começou a cair e permanece estável abaixo de 40.

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