PÍLULAS | Pobreza na infância, risco à vida

• Vício em opioides no Brasil • Mortes causadas por agrotóxicos e lobby ruralista • Superbactérias vindas de porcos • Hospitais filantrópicos ameaçados • Brasil pode perder monopólio de radioisótopos • Percepção do tempo •

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Pesquisa brasileira publicada em série de artigos na revista The Lancet, produzida pela Universidade Federal de Pelotas, é lançada em hora oportuna, quando as mazelas da pandemia da covid começam a crescer e ameaçar, com impactos irreversíveis, a vida das crianças. Foram colhidos dados de 95 países, por meio de dez categorias de renda, para calcular a associação da pobreza com desfechos de saúde e desenvolvimento humano. Os resultados apontam que os pequenos em situação mais miserável tem de duas até três vezes mais chance de morrer até os seis anos, ter baixa estatura, e atraso no desenvolvimento cognitivo para a idade, levando ao abandono escolar – e, no casos das meninas, de terem filhos antes dos 20 anos de idade. Ao todo, foram 15 mil crianças acompanhadas em um período entre 22 e 40 anos. Adultos expostos à pobreza extrema na juventude apresentam cerca de 20 pontos a menos no escore de QI.


Brasil vê aumentar vício em opioides – legais e ilegais

Médicos temem que o país possa enfrentar uma epidemia de abuso de opioides, gerada pela prescrição inadequada de analgésicos para o controle da dor – como já acontece nos Estados Unidos. Em 2019, uma pesquisa da Fiocruz mostrou que 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso ilegal de algum opiáceo – número superior à população que já experimentou crack ou cocaína ao longo da vida. Segundo dados da Anvisa de 2018, a venda com prescrição de remédios à base de ópio cresceu 465% em seis anos. A codeína responde por mais de 90% das prescrições. Para pegar o exemplo dos efeitos a longo prazo, nos EUA, mortes por overdose pela substância ultrapassaram a marca de 100 mil entre abril de 2020 e abril de 2021. No Brasil, consumo pode ter tido aumento de 33% entre esses dois anos. Uma extensa reportagem da Folha revela mais detalhes sobre a dimensão dessa crise.


Agrotóxicos matam um brasileiro a cada dois dias

A afirmação partiu da conclusão de um relatório internacional, da rede ambientalista Friends of the Earth Europe. Cerca de 20% das vítimas são crianças e adolescentes de até 19 anos. A organização mapeou a aliança entre empresas agroquímicas, como a Bayer e a Basf, e o lobby do agronegócio brasileiro. Segundo o texto, elas são as principais promotoras do acordo UE-Mercosul, e que têm procurado aumentar o acesso ao mercado do país. Essa aliança promove agenda para minar direitos indígenas e desmontar a legislação ambiental, para legitimar o desmatamento e engordar ruralistas. A rede europeia informa ainda os frutos da parceria nefasta: em 20 anos, uso de veneno agrícola cresceu seis vezes. Só em 2021, foram aprovados 499 novos pesticidas no país – entre os produtos, dezenas são proibidos para uso na Europa.


As superbactérias que saltam de porcos a humanos – de novo o agronegócio

Autores do estudo, da Universidade de Copenhagen e do Statens Serum Institute da Dinamarca, apresentaram a preocupação no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, em Lisboa, no último domingo. Segundo a pesquisa, as evidências de supermicróbios que podem se espalhar dos animais para os humanos reforçam os temores de que o uso excessivo de antibióticos na criação em fazendas esteja levando à disseminação de micróbios resistentes a eles. A superbactéria identificada foi a Clostridioides difficile, considerada uma das maiores ameaças de resistência aos antibióticos do mundo. Segundo os cientistas, elas infectam o intestino humano e são resistentes a quase todos os tipos de antimicrobianos conhecidos. Estima-se que cerca de 750 mil pessoas morram todos os anos de infecções resistentes a medicamentos, e teme-se que, em 2050, esse número possa chegar a 10 milhões.


Hospitais filantrópicos e Santas Casas ameaçadas

As instituições e hospitais, que possuem convênios com o SUS, correm o risco de fechar em todo o país. Só nos últimos seis anos, 315 delas tiveram que encerrar os serviços por não terem verba para continuar operando, de acordo com levantamento da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB). Segundo a entidade, a crise sanitária da covid fez com que a dívida no setor ultrapassasse R$ 20 bilhões. O governo Bolsonaro prometeu um singelo repasse, mas até agora, não há sinal do aporte de socorro. Além dos atos simbólicos realizados no dia 19/4, a CMB tem buscado reuniões essa semana em Brasília com a presidência e líderes do Congresso. A Confederação, inclusive, teme o piso salarial para a enfermagem. Afirma que não terá condições de pagá-lo, a menos que seja incluída nos planos de financiamento do projeto. Não se coloca contra o PL 2564/20, mas pede uma união de forças, a revogação do “teto de gastos” e frisa a luta contra o desfinanciamento do SUS.


Atacada a soberania do Brasil sobre os radioisótopos

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aprovou no último dia 26/4 o fim do monopólio estatal na produção de radiofármacos – substâncias que emitem radiação e são usadas no diagnóstico e no tratamento de diversas doenças, principalmente o câncer. Atualmente, a produção e comercialização desses fármacos são realizadas por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e seus institutos, como o de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. Lamentavelmente, a Emenda Constitucional responsável por essa linha produtiva é mais uma oportunidade perdida de fortalecer um Complexo Industrial da Saúde. Como mostrou o Outra Saúde, em novembro do ano passado, o setor foi carcomido por cortes de financiamento e enfrenta interrupção da cadeia produtiva – e, assim, país vai perdendo sua autonomia.


A pandemia no relógio: como isolamento afetou a percepção do tempo

Estudo brasileiro, publicado na revista Science Advances, constatou que, ao final do primeiro mês do isolamento social, em maio de 2020, a maior parte dos participantes da pesquisa (65%), relatou sentir as horas se arrastarem mais devagar. Segundo conta a matéria da Agência FAPESP, fenômeno é classificado pelos especialistas como “expansão temporal” – ligada à sensação de solidão e falta de experiências positivas no período. Para 75%, diminuiu a sensação de que o tempo passa rápido e falta tempo para cumprir as tarefas diárias – a “pressão temporal”. Os 3.855 voluntários foram acompanhados durante cinco meses, instados a responder a um questionário com dez perguntas e cumprir uma tarefa. “Todos nós temos a habilidade de estimar o tempo em intervalos curtos. O que fizemos foi pegar os resultados desse teste de estimação do tempo [o quanto superestimavam ou subestimavam o intervalo proposto na tarefa] e compará-los com as escalas de percepção”, conta Raymundo Machado, pesquisador e coautor do artigo.

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