Pesquisas demais fazem mal à Saúde?

Seria a proliferação de estudos científicos – alguns deles considerados “fracos” e de metodologia questionável – outro problema da pandemia de covid? Como eles ajudam a proliferar a desinformação?

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É útil fazer muitos pequenos estudos científicos relativamente falhos, ou eles podem ter efeito danoso, quando divulgados sem cautela? Uma matéria da revista Science abriu a discussão e escutou alguns pesquisadores para entender os efeitos do grande fluxo de experimentos, produzidos e divulgados incessantemente, desde o início da pandemia de covid. Os estudos de metodologia questionável, alegam alguns dos entrevistados, acabam servindo de combustível para a desinformação – um dos grandes problemas que o mundo enfrenta nessa crise sanitária.

Há claramente um problema de comunicação. A matéria rememora um estudo publicado na Dinamarca, em novembro de 2020, com resultados inconclusivos sobre o uso de máscaras em espaços públicos e sua possível contenção do vírus. Ao aparecer na mídia, suas nuances foram apagadas, e divulgou-se que máscaras não ofereciam proteção – alimentando as fake news negacionistas no país. “Na melhor das hipóteses causa ruído; na pior, desinformação, porque passa a impressão de estar informando” alerta Noah Haber, um dos pesquisadores que copublicou um artigo na publicação Trials em que se afirma que tais estudos desperdiçam tempo e dinheiro, além de darem uma aparência perigosa de certeza.

A urgência da pandemia fez proliferar as pesquisas de base reduzida, prazo de estudo muito curto e metodologia frágil. Uma análise da Nature Communications, publicada em fevereiro, observou 686 estudos clínicos relacionados à covid-19 e descobriu que tinham métodos de qualidade inferior aos de outra amostra parecida, de estudos sobre outros temas. Especialmente quando se trata de estudos sobre comportamento, como a higiene e o uso de máscaras, fica muito difícil encontrar resultados satisfatórios. 

Para Haber e os coautores do estudo, a proliferação – e a má interpretação – de pesquisas pode ser muito danosa, inclusive na orientação de políticas públicas. Eles admitem: a ciência é muitas vezes falha em responder algumas questões cruciais.

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