Genética ajuda a desvendar ascensão e queda dos tupis

Eles se espalharam pelo Brasil por dez séculos e chegaram a ser 5 milhões. Dominaram ou incorporaram outros povos. Exames de DNA mostram ainda que eram muito semelhantes aos povos andinos

Povo Wajãpi, parte da família linguística tupi, vivem na região delimitada pelos rios Oiapoque, Jari e Araguari, no Amapá. Foto: Hypeness
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Estudos genéticos de pesquisadores da USP acrescentam mais algumas pistas sobre a ascensão e declínio dos Tupi na América do Sul. Esses povos — na verdade um conjunto de etnias caracterizadas por falarem uma língua de mesmo tronco — ocuparam territórios desde os Andes até o litoral, do norte do continente ao sul do rio da Prata. Agora, pesquisadores de um estudo coordenado pela geneticista Tábata Hünemeier, da USP, fizeram descobertas importantes. A partir das características genéticas de 75 indivíduos de 13 povos falantes da língua tupi, estimam que essa população pode ter chegado a atingir entre 4 e 5 milhões de pessoas, em meados do ano 1000.

Os pesquisadores concluíram que sua expansão populacional começou por volta de 2.100 anos atrás, ocupando largas porções do que hoje é o território brasileiro. “Os Tupi expulsaram alguns povos e assimilaram outros, espalhando sua cultura e língua, sem perder o domínio sobre os territórios antigos”, conta a matéria da revista Pesquisa Fapesp. Depois de atingirem seu ápice, no século XI, entraram em acentuado declínio, mesmo antes da chegada dos colonizadores europeus. “Estimativas anteriores sugeriam uma diminuição de 90% nessa população. Nossos dados indicam que foi de 99%, menor apenas que o colapso enfrentado pelos Asteca após a chegada dos conquistadores espanhóis”, afirma Tábata.

Outra descoberta importante feita por esse grupo da USP muda a concepção antiga de que os grupos de indígenas que viviam nos Andes teriam uma diferença genética muito grande em relação aos que viviam da Amazônia para o leste. Acreditava-se que a geografia da região formaria uma barreira quase intransponível para os povos, mas o estudo do geneticista Marcos Araújo Castro e Silva demonstra que não há diferença genética importante entre eles. 

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP

Ao comparar os genes das 52 populações originárias da América do Sul, esse grupo de pesquisadores identificou sete grupos principais, identificados no mapa acima. Descobriu-se uma diferença importante entre os Tupi do leste e do oeste, como demarcado. No Centro-Oeste do Brasil e na região central da Amazônia, distinguem-se também geneticamente os povos de tradição linguística jê: os Xavante e os Xikrin.

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