Especialistas debatem nova vacina de dengue

• Em debate: Brasil deve importar nova vacina contra dengue? • Produção nacional de vacinas próxima a passo importante • BH terá passe livre para consultas no SUS • Pigatto analisa a Conferência • Adeus a Maria Luiza Andrade •

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Aprovada há 4 meses, a vacina QDenga, desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda, chegou à rede privada nesta semana, em contexto de alta de casos de dengue, que em 2022 ultrapassou mil mortes no Brasil, recorde histórico. Com valores altos, que chegam a até R$ 1.000, sua absorção pelo SUS não é certa, pois uma vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan está em fase avançada de testes. No entanto, o imunizante nacional ainda não ficará pronto neste ano, o que suscita um debate sobre a aquisição pelo Estado de uma quantidade segura da Qdenga. “A Conitec é altamente qualificada para analisar as evidências e a necessidade orçamentária para a incorporação da vacina. Se o parecer for favorável, devemos encaminhá-la sim para a incorporação. Depois pode haver uma reavaliação se outra vacina estiver disponível. A decisão não é final, quando há novidades ela é analisada novamente”, ponderou Cláudio Maierovitch, vice-presidente da Abrasco, em matéria do Globo.

Interesse nacional

A matéria ouviu diversos especialistas, que ponderam o valor do desenvolvimento da vacina do Butantan, mas reconhecem que talvez o governo brasileiro deva adquirir momentaneamente lotes da Takeda. “Em nenhum momento o ministério está contrário à importação de vacinas que tenham qualidade, eficácia e segurança e que a empresa tenha um compromisso social de apresentar um preço viável para garantirmos o acesso universal. Nós apoiamos a produção nacional, mas jamais como algo que impeça a importação de produtos”, explicou Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do ministério.

Como destacado na Assembleia Global de Saúde da OMS, realizada em maio em Genebra e que contou a presença da ministra Nísia Trindade e Jarbas Barbosa (presidente da Organização Pan-Americana de Saúde), países do sul global tem grande necessidade por pacto de investimento em suas próprias indústrias farmacêuticas, a fim de se diminuir sua dependência das grandes empresas do setor. Como visto na pandemia, a baixa capacidade de desenvolver não só uma vacina própria como também insumos básicos de saúde afetou os países mais pobres, sendo que boa parte deles ainda não atingiu níveis satisfatórios de imunização de sua população contra a covid. Em suma, a pandemia ampliou desigualdades em saúde. Portanto, desenvolver uma vacina própria de dengue, e buscar satisfazer outras tantas necessidades em saúde, será uma estratégia sanitária básica para os próximos tempos.

Não esquecer do desmonte

No entanto, vacinação não é a única estratégia eficaz de combate a doenças. Prevenção e promoção de saúde no cotidiano são tão essenciais quanto à garantia do acesso à imunização. E o Brasil dominado pelas ideias de “ajuste fiscal permanente”, que tratou do corte de despesas com políticas públicas como uma virtude e até um fim em si mesmo, negligenciou diversas práticas que já tinham produzido bons resultados. As estratégias de combate à dengue foram abandonadas ao longo dos anos de desmonte dos orçamentos públicos, o que tem tudo a ver com a volta da dengue a patamares tão altos. O modelo de desenvolvimento predatório, que produz mudanças climáticas e ampliou a incidência do aedes aegypti para novos ambientes e épocas do ano, também é parte da explicação. “Não sou contra a compra da QDenga, só lamento que nessa euforia vacinal (efeito pós-covid), as ações para o controle do aedes não sejam mais mencionadas. Tanto as tradicionais, como a eliminação de focos, quanto às novas em testes, como a liberação de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, desapareceram do noticiário”, comentou ao Outra Saúde o médico e um dos vice-presidentes da Abrasco, Reinaldo Guimarães.

Belo Horizonte aprova tarifa zero para quem faz tratamento no SUS

Uma das principais lutas sociais de nossa época, a bandeira do transporte público, gratuito e universal segue a registrar avanços nas cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, a câmara municipal aprovou tarifa zero para algumas categorias sociais e locais da cidade: vilas e comunidades pobres contarão com sistema gratuito de transportes. Quanto a setores da população, haverá passe livre para estudantes da rede pública e mulheres em situação de violência doméstica. Por fim, uma inovação em todos os debates recentes da área: a prefeitura dará subsídio para pessoas que fazem tratamento no SUS e famílias em vulnerabilidade econômica. Foi vetado o transporte gratuito aos domingos, mas a Câmara ainda tentará reverter essa decisão do prefeito Fuad Noman. Como demonstrado pelo Outra Saúde, a falta de dinheiro para se locomover pela cidade é um dos fatores menos visíveis do absenteísmo de pacientes.

Presidente do Conselho Nacional de Saúde comenta 17ª Conferência

A 17ª Conferência Nacional de Saúde terminou em clima de euforia entre seus protagonistas, marcada também pela presença de Lula e Nísia Trindade na plenária final, quando o presidente foi taxativo em garantir a ministra no cargo, após um mês de supostas articulações do “Centrão” para derrubá-la. Ao Outra Saúde, Fernando Pigatto sintetizou os significados da Conferência e o legado que pode deixar na construção do Sistema Único de Saúde. “Foi um marco histórico do SUS. As outras conferências tiveram seu papel no aperfeiçoamento do sistema, mas esta vinha sendo feita para enfrentar um governo da extrema-direita e também mudar a página da história. E conseguimos. Agora, temos um longo percurso, com a garantia de que as diretrizes e propostas criadas nos últimos dois anos valeram muito. Reafirmamos que a garantia de direitos, a defesa do SUS, da vida e da democracia só podem ser feitas com o esperançar de um novo dia, e isso já está acontecendo”, declarou.

Triste perda, após dias importantes

Faleceu na noite de ontem, em Brasília, Maria Luiza Andrade, parteira quilombola e conselheira estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Ela estava na Conferência Nacional de Saúde como delegada de seu estado e sofreu um mal súbito no saguão do aeroporto de Brasília, poucos antes de embarcar de volta para casa. Foi socorrida, mas não resistiu. Iza, como era conhecida, tinha 60 anos, era do PT de Niterói e foi militante do SUS desde sua criação. “Saiu da Conferência feliz e emocionada pelas conquistas que tivemos e pelas palavras do nosso presidente Lula.  Em sua despedida me abraçou e disse: ‘voltarei a participar mais do Setorial de Saúde PT-RJ porque me senti muito representada aqui com a companheirada’. Infelizmente a companheira teve um mal súbito no aeroporto de Brasília e não resistiu. Não voltou conosco para continuarmos a reconstrução do SUS como combinamos, mas fez um bom combate durante os últimos dias. Sentiremos saudades!”, publicou Fernanda Spitz, do setorial de saúde do PT carioca.

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