Dengue: haverá redistribuição de vacinas

• Ministério redistribuirá vacinas Qdenga entre municípios • O risco da dengue em crianças • O bem-sucedido método Wolbachia • É preciso vacinar crianças contra sarampo com urgência, diz OMS • Os milhões das farmacêuticas a médicos •

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O Ministério da Saúde do Brasil redistribuirá as vacinas contra a dengue não utilizadas pelos municípios iniciais para outras cidades com alta necessidade, anunciou a ministra Nísia Trindade. Em coletiva de imprensa realizada ontem em que estavam presentes a ministra e a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, foi informado que a seleção desses municípios será baseada em um ranking de emergência de saúde devido à dengue. Adicionalmente, será disponibilizado um orçamento de R$ 300 milhões para aquisição de medicamentos para tratamento da doença. Até agora, o país registrou mais de 1,9 milhão de casos prováveis de dengue em 2024, com 630 mortes confirmadas. A vacina Qdenga, focada nos jovens de 10 a 14 anos, foi distribuída inicialmente em 521 municípios. Com a escalada dos casos, outros municípios, incluindo São Paulo, que declarou emergência sanitária nesta semana, solicitaram doses. A imunização é parte do esforço contra a dengue, que também inclui medidas para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.

Por que ampliar a vacinação para crianças

O Observa Infância da Fiocruz/Unifase aponta que, em 2024, a dengue tem sido mais letal para crianças menores de 5 anos, apesar de adolescentes de 10 a 14 anos apresentarem o maior número de casos. “O Ministério da Saúde acerta em vacinar o grupo onde estamos vendo mais casos. Nossa recomendação é que a imunização avance para as crianças mais novas, de 5 a 9 anos, que estão morrendo mais, proporcionalmente”, afirmou o coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini, ao Globo. Nos primeiros três meses do ano, houve 239.402 casos em menores de 14 anos, com 52 óbitos, sendo 44,2% de crianças pequenas. 

Brasil terá nova Biofábrica para conter os mosquitos

Entre as medidas que o Brasil busca implementar para conter a dengue, há algumas que procuram intervir nos próprios Aedes aegypti. Há o método em que se esterilizam os mosquitos, e há também o Wolbachia, que insere em seus ovos uma bactéria que os impede de desenvolver e transmitir a doença. Em um artigo do site The Conversation, os autores contam como o método foi iniciado em meados de 2011, nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, com grande sucesso na última. O projeto começou com o programa “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil”, com financiamento privado, mas logo passou a receber recursos pelo Ministério da Saúde. Foi levado então para alguns bairros de Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Petrolina (PE). Os resultados dos estudos nessas regiões demoram alguns anos para sair. Mas os autores destacam que 2024 é um ano importante para o projeto, porque “A maior fábrica do mundo de mosquitos Ae. aegypti com Wolbachia será construída no Brasil e terá capacidade de atender, pelo menos, 70 milhões de brasileiros, em 10 anos”, fruto de uma parceria da World Mosquito Program, Fiocruz e Instituto de Biologia Molecular do Paraná.

O risco do sarampo, após a pandemia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma alerta para a urgência de vacinar crianças que perderam a vacinação contra o sarampo durante a pandemia de covid, frente ao aumento de surtos globais da doença. Em 2023, segundo a organização, mais de 50 países enfrentaram surtos significativos da doença, o dobro do registrado em 2022. Kate O’Brien, diretora de imunização da OMS, enfatizou em uma coletiva de imprensa virtual que cerca de 60 milhões de crianças não receberam a vacinação de rotina devido às interrupções causadas pela pandemia. A OMS afirma estar focada em acelerar as ações de recuperação para prevenir a escalada dos surtos, alertando também para a necessidade de vacinação contra mpox e hepatite E.

Farmacêuticas gastam milhões com médicos

Em dezembro, o UOL lançou uma reportagem de destaque que denunciava que as farmacêuticas monitoram as prescrições nos balcões das farmácias, para ganhar dinheiro com anúncios. Na mesma toada, o portal faz agora uma nova revelação: a indústria farmacêutica no Brasil paga milhões em benefícios para médicos, em especial da cardiologia, dermatologia e endocrinologia. Não se trata de uma prática ilegal e não há lei brasileira que busque a transparência dessas transações, a não ser no estado de Minas Gerais. Ali, é possível saber quais farmacêuticas gastaram com quais médicos. A soma chega a R$ 200 milhões em seis anos – o que faz inferir que o gasto nacional pode ser bilionário. 

Essa prática levanta questões sobre potenciais conflitos de interesse, influenciando as decisões de prescrição médica. Os milhões foram utilizados para cobrir despesas com transportes e hospedagens, contratação de palestras, além de jantares em restaurantes de alto padrão. Os médicos mais bem pagos em Minas Gerais, conforme a reportagem, são principalmente palestrantes e especialistas patrocinados por empresas farmacêuticas. Dez médicos receberam mais de R$ 1 milhão cada. Entre eles, destacam-se profissionais nas áreas de dermatologia e cirurgia plástica, muitos dos quais contratados por fabricantes de produtos estéticos. Um ortopedista de Belo Horizonte foi particularmente mencionado, tendo recebido R$ 2,7 milhões da empresa americana NuVasive para palestras, consultorias e outros benefícios.

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