As alternativas para gerir os hospitais do Rio

• Remédio para covid não é usado • Produção de vacinas de dengue no Brasil • Investimentos na saúde da população negra • Calor extremo e risco às gestantes • Adeus a Ilma Noronha e Eridan Coutinho •

Foto: Esquerda Diário
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Em entrevista à CBN, o ministro da Educação Camilo Santana indicou que seu Ministério poderia assumir os hospitais federais do Rio de Janeiro, por meio da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Os problemas de gestão dessas unidades hospitalares estão no centro do episódio que gerou a demissão de um secretário e um diretor do Ministério da Saúde nesta semana. Hoje, a maioria dos hospitais das universidades federais do país são geridos pela Ebserh – mas não sem fortes críticas de estudantes e funcionários dessas instituições. Também cético da ideia, o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Paulo Capel Narvai propôs uma alternativa, em texto publicado em Outra Saúde: a passagem da administração dos hospitais federais para os governos locais do RJ, em alinhamento com o princípio de descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS).

Paxlovid empaca no SUS

Uma história que remete às necessidades de coordenação entre as diversas instâncias do SUS. Indicado para o tratamento de casos leves de covid-19, o uso do Paxlovid não deslanchou no Brasil, de acordo com um pedido da Lei de Acesso de Informação feito pela organização Fiquem Sabendo. Das 3 milhões de doses do medicamento compradas pelo Ministério da Saúde de Jair Bolsonaro, em 2022, cerca de 500 mil nem mesmo saíram dos estoques federais até hoje. Uma das razões seria a baixa procura: as demais unidades do remédio, que chegaram a ser enviadas para os estados e municípios, não estão sendo receitadas pelos médicos. O coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime Barbosa, acredita que “isso não está sendo feito por falta de conhecimento aprofundado”, já que os profissionais não teriam clareza sobre quando prescrever seu uso. “Tem medicação sobrando, enquanto não faltam pacientes para tratar”, ele alerta.

Quantas vacinas para dengue Butantan e Fiocruz produzirão?

Para enfrentar a epidemia da doença, Fiocruz e Butantan estão neste momento estimando sua capacidade máxima de produção de vacinas contra a dengue. Segundo Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, é “prioridade máxima” para o Ministério da Saúde a autonomia do país na fabricação de imunizantes. Com a farmacêutica japonesa Takeda, dona da vacina já em utilização Qdenga, a Fundação Oswaldo Cruz negocia um acordo de transferência de tecnologia para produzi-la em suas instalações. O laboratório paulista, por sua vez, está em vias de concluir as pesquisas de um imunizante próprio. Contudo, algumas etapas ainda precisam ser superadas até que o país ganhe autossuficiência: as vacinas da Fiocruz e do Butantan ainda precisam receber, respectivamente, aval de fabricação e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

MS investe na saúde negra

No lançamento do Plano Juventude Negra Viva (PJNV), a pasta capitaneada por Nísia Trindade anunciou que participará com um investimento de R$101 milhões no projeto interministerial sob o comando do Ministério da Igualdade Racial. A principal ação em vista seria um programa de saúde mental para jovens negros, com a meta de atender 44 mil pessoas. Parte dos recursos também serão investidos no tratamento da doença falciforme – que, por uma série de razões, atinge principalmente a população negra – e na ampliação do Programa Saúde na Escola, visando ampliar a participação dos jovens negros entre os multiplicadores de suas atividades. Como abordou Outra Saúde, o governo já tomou outras medidas iniciais para constituir uma política para a saúde negra, como a publicação do Boletim Epidemiológico de Saúde da População Negra e da Estratégia Antirracista na Saúde.

Trabalho no calor extremo dobra risco de aborto espontâneo

Nos últimos dias, o Sudeste do país viveu uma dura onda de calor, com temperaturas acima dos 35ºC e sensações térmicas ainda mais altas. Já são conhecidos diversos riscos à saúde dos trabalhadores ligados à atividade laboral nessas condições climáticas. Porém, uma recente pesquisa realizada na Índia descobriu que os danos para as mães trabalhadoras são ainda mais graves do que se pensava. Em comparação com as demais gestantes, dobraram as taxas de aborto espontâneo, nascimento prematuro e baixo peso ao nascer entre as mulheres que se expuseram ao calor extremo em seu trabalho. Em geral, elas possuem profissões ligadas ao campo, como a agricultura. Apesar de promovido exclusivamente no país asiático, as conclusões do estudo tendem a ser válidas para mulheres de todo o mundo. Os dias de calor excessivo têm se multiplicado mesmo em regiões de clima temperado – e a inexistência de políticas que protejam grávidas desses riscos é uma lacuna perigosa, dizem os pesquisadores.

O adeus a Ilma Noronha e Eridan Coutinho

No final de semana, o campo da Saúde sofreu duas relevantes perdas. Foram a bibliotecária Ilma Noronha, ex-diretora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), e a médica Eridan Medeiros de Coutinho, que dirigiu o Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco). A instituição de pesquisa de que ambas faziam parte se manifestou destacando a liderança de Noronha na construção do Sistema Integrado de Informação da Rede Nacional de Bancos de Leite Humano e o pioneirismo de Coutinho em pesquisas sobre a esquistossomose em pessoas desnutridas. Ao se pronunciar, a ministra Nísia Trindade descreveu Ilma como “uma mulher de coragem e convicção” e Eridan como “uma inspiração para mim e toda comunidade científica”. A militância de Ilma, que foi membro da ALN na ditadura, é tema do documentário Um punhado de bravos.

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