2024 já é ano campeão da dengue

• O recorde foi batido • Decisão sobre autotestes adiada • Descobertas sobre a chicungunha • Farmacêuticas pretendem investir R$ 16 bilhões • Ministra das Mulheres critica machismo • Bolsonaro indiciado por carteira de vacinação falsa •

Foto: Prefeitura de Lauro de Freitas/BA
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O Brasil já registrou 1,9 milhão de casos de dengue em 2024, de acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses. Com esses números, explica o Estadão, chegamos a um recorde: é o maior número de casos da doença confirmados em um ano na história do país. Foi superada a marca de 2015, quando, também segundo o Painel organizado pelo Ministério da Saúde, houve cerca de 1,7 milhão de infecções por dengue. Ao jornal, um especialista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz afirmou que as anomalias térmicas ligadas às mudanças climáticas, a circulação simultânea dos quatro sorotipos da doença e a insuficiência das medidas de controle do Aedes aegypti nos últimos anos contribuíram para o cenário gravíssimo. O Painel também indica que 93 mil casos de chicungunha e 1,3 mil casos de zika foram identificados em 2024.

Autotestes podem auxiliar no combate à doença?

A comercialização de autotestes de dengue no Brasil, que seria discutida na reunião de ontem da diretoria colegiada da Anvisa, foi retirada da pauta do encontro. A decisão sobre o tema foi adiada até um maior “alinhamento” com o Ministério da Saúde, disse um representante da autarquia à Agência Brasil. Daniel Pereira, diretor da Anvisa, afirmou ao Jota que dois elementos precisam ser esclarecidos no diálogo entre os dois órgãos. Os autotestes de fato poderiam cumprir um papel importante no enfrentamento à doença? E no cenário de um resultado positivo, já existem estratégias pós-testagem para orientar o paciente sobre como proceder? “A dengue é uma doença de notificação compulsória. Então, é necessário que haja uma política pública gerada pelo Ministério da Saúde que contemple, mesmo no caso do autoteste, um mecanismo para que os sistemas de monitoramento sejam notificados, de modo que se possa justamente computar os casos em todo o Brasil”, complementou o diretor-presidente da autarquia à Agência Brasil. As novas reuniões já estariam em andamento, dizem os dois lados.

Como a chicungunha invade o cérebro

Um estudo internacional com participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriu novos detalhes sobre os mecanismos biológicos que levam a casos graves e óbitos por chicungunha. A pesquisa foi conduzida com amostras de pacientes mortos pela doença no Ceará. “Neste estudo encontramos o vírus no sistema nervoso central de pacientes que morreram em decorrência da doença, incluindo danos no cérebro”, explica um dos pesquisadores da USP. Investigando a questão, identificou-se que o agente infeccioso invade as células de defesa do organismo para utilizá-las como “cavalo de Troia” e chegar ao sistema nervoso central, onde “o [vírus] CHIKV é liberado e causa danos neurológicos”. “Essa estratégia […] torna o tratamento da infecção ainda mais desafiador”, avaliam os estudiosos. A descrição desse mecanismo amplia a compreensão da chicungunha em um momento em que a Anvisa debate a incorporação de uma vacina contra a doença.

Setor farmacêutico quer investir

As farmacêuticas privadas nacionais pretendem investir R$16 bilhões até 2026, segundo a entidade patronal Grupo FarmaBrasil. O valor será dividido entre R$8,5 bilhões para aquisição de maquinário, equipamento e construção de novas fábricas e R$7,5 bilhões para pesquisa e desenvolvimento. Os bilhões seriam 166% do que se investiu na era Bolsonaro – e são puxados por uma visão otimista do projeto governamental de nova industrialização do país, diz o presidente-executivo da associação que reúne as principais empresas do setor. “É uma iniciativa de política pública que terá forte apoio do BNDES. E nossas associadas estão atentas, buscando aumentar investimentos em centros de pesquisa, que vão impulsionar a ampliação do acesso à saúde e fortalecer a indústria nacional”, ele avalia.

Ministra das Mulheres ataca conservadorismo

Em entrevista à Folha, Cida Gonçalves, ministra da Mulher do governo federal, marcou posição contra o conservadorismo da direita e seu moralismo raivoso. Na visão de Gonçalves, tais grupos políticos estão sabotando esforços do Estado em ampliar direitos das mulheres, o que gera um aumento visível da violência e outras formas de opressão de gênero. Na conversa com o jornal, a ministra também defendeu que se avance na criação de uma agenda ampla de direitos reprodutivos da mulher, além de políticas integradas que combatam a pobreza e exclusão social, que as atingem em maior número. Em suma, a ministra quer que a sociedade vá além das discussões contaminadas por fanatismo ideológico em torno do aborto. “Hoje discutir o aborto só por discutir é uma irresponsabilidade, eu diria. Porque você tem que discutir todo o planejamento familiar. Direitos sexuais e reprodutivos envolvem discutir a possibilidade de o casal – não só a mulher – fazer um planejamento familiar, decidir quando ter filhos, a forma e as condições de ter esse filho. Isso significa ter um acompanhamento geral para que isso aconteça”, explicou Cida.

Sobre a questão do aborto, foi direta em culpabilizar os anos Temer e Bolsonaro, cuja combinação de ideologias de Estado mínimo com fundamentalismo religioso abriram as portas do sofrimento para mulheres que dependem do SUS para tratarem de casos onde s interrupção da gravidez é prevista em lei. “Tudo o que já tinha sido construído foi destruído nos últimos seis anos. O que tinha da pouca rede de atendimento, de profissionais que se dispunham a fazer esse trabalho, foi destruído. Hoje ninguém mais quer porque existe um ódio que coloca as pessoas em constrangimento”. (G. B.)

Bolsonaro indiciado por fraudar vacinação

No início desta semana, a Polícia Federal (PF) finalmente indiciou o Jair Bolsonaro, seu ajudante de ordens Mauro Cid e uma trupe de militares e políticos bolsonaristas do Rio de Janeiro por fraude no cartão de vacinação. Eles são acusados de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistemas de informação. O inquérito da PF que levou ao indiciamento suspeitava que o ex-presidente poderia ter adulterado seu status vacinal para burlar restrições sanitárias e viajar aos Estados Unidos sem se indispor com sua base política atiçada pelo negacionismo. De fato, descobriram os investigadores, os certificados de imunização foram feitos poucos dias antes da fuga de Bolsonaro para o exterior. Agora, a Procuradoria-Geral da República tem 15 dias para decidir se apresenta ou arquiva a acusação. Se apresentá-la, o ex-presidente virará réu pela primeira vez desde o fim de seu mandato – e o país estará um passo mais próximo de fazê-lo pagar por seus crimes.

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