Novo remédio contra malária chega a TI Yanomami

• Tafenoquina chega aos yanomami • PAC Saúde financia primeiros 1,5 mil municípios • Francisco Funcia faz alerta • Recorde de transplantes no SUS • Gravidez de adolescentes e pobreza • Dengue e o aquecimento global •

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A tafenoquina, terapia incorporada pelo SUS em meados do ano passado, será usada pela primeira vez no combate à malária na TI yanomami, onde cerca de 30 mil casos foram registrados no ano passado. Número alarmante, que abrange praticamente toda a população da etnia. O remédio ataca os dois tipos de parasita transmitidos pelo mosquito anopheles, e tem a vantagem de ser ministrado em dose única. “Estamos fortalecendo a inovação tecnológica no SUS, de forma que a ciência e a tecnologia respondam às necessidades da população. Esse é um medicamento com potencial de cura, ou seja, capaz de dar vida para as pessoas que estiveram por muito tempo negligenciadas e vulnerabilizadas. Por isso, é importante sempre destacar que o nosso compromisso é com a vida e saúde de todos os brasileiros”, disse Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde do Ministério da Saúde.

Obras da Saúde começam a sair do papel

Cerca de 1,5 mil municípios saíram na frente na recepção dos recursos do Novo PAC voltados à saúde. São cerca de R$ 4,2 bilhões destinados à construção de 1,8 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS), que farão a atenção primária chegar a 8,6 milhões de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde. Financiamento de Equipes de Saúde da Família, de saúde bucal, agentes comunitários e outros profissionais da atenção integral também estão neste orçamento. O pacote representa o primeiro avanço do plano de obras a serem contratadas por estados e municípios, conforme processo aberto pelo ministério, e visa construir um total de 3,6 mil UBSs, 860 centrais de regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), 360 unidades odontológicas móveis, 200 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 150 maternidades, 90 policlínicas, 60 centros especializados para pessoas com deficiência, 48 centros de radioterapia com aceleradores lineares.

Economista faz alerta sobre desfinanciamento do SUS

Como mostrou o Outra Saúde, o PAC Saúde tem objetivos inquestionavelmente positivos para a população brasileira. Mas o economista Francisco Funcia observou que, nesta área, as previsões são quase exclusivamente de investimentos diretos do Estado. Num país onde ainda se luta contra a racionalidade neoliberal na gestão do Estado, isso acende uma luz amarela para a efetivação do ambicioso pacote de obras. E a discussão a respeito dos pisos mínimos em saúde, que opôs até alas do próprio governo, endossa sua advertência. “O Brasil aplica 9,6% do PIB do gasto em saúde, na soma entre público e privado. Mas se pegar só o gasto público, que é a soma da união com os estados e dos municípios, a gente aplica em torno de 3,9%. Então, o que acontece? A gente aplica só um pouquinho mais de 40% de tudo que se gasta em saúde, ao passo que em outros países se aplica 60, 70%. Precisaríamos, no mínimo, fazer com que o gasto público atingisse 60% do total do gasto. Para isso, a gente tem que buscar formular essa meta do quanto deve aumentar o gasto público em saúde”, explicou.

Brasil bate recorde de transplantes de órgãos em 2023

A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos publicou levantamento que aponta um total de 29.261 transplantes de órgãos realizados no país em 2023, alta de 11% frente ao ano anterior. O resultado, segundo especialistas envolvidos, reflete diversos fatores associados, desde um aumento nas equipes aptas a realizar transplantes como também maior adesão da população, onde o número de doadores observa crescimento. No entanto, o estudo também alerta para as desigualdades regionais no acesso à saúde, como demonstram as restrições de transplantes de pulmão, realizados só em três estados. Há também discrepâncias no próprio aumento das taxas de operações, desiguais em diferentes partes do país. São 59.958 brasileiros na fila de espera por transplantes e o de córnea é o procedimento mais comum.

Gravidez na adolescência ainda em alta no Amazonas

As repórteres Marlene Bergamo e Bárbara Blum viajaram até Autazes, 111km a leste de Manaus, acessível apenas por via fluvial, para testemunhar a manutenção de um quadro histórico que se mantém na região: a gravidez de meninas em sua fase adolescente. O município de 40 mil habitantes registrou alta em 2023, com 242 gestações, sendo 21 de menores de 14 anos, que teriam direito a aborto legal. No entanto, a localização geográfica da cidade, associada à pobreza crônica, criam diversos obstáculos para acesso a métodos contraceptivos. A carga cultural histórica completa a combinação de fatores que acabam por levar tantas meninas a serem mães precocemente. “Apesar de a gestação precoce estar presente em todas as classes sociais o que se observa é o alto índice de gravidez na adolescência nas camadas sociais com menor poder aquisitivo. Para muitas meninas a maternidade é vista como um ‘passaporte’, como uma alternativa”, comentou a secretaria de Saúde do Amazonas.

Mais evidências na relação da dengue com aquecimento global

Um estudo baseado em mineração de dados realizado por Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), reforçou a relação entre a explosão nos casos de dengue com temperaturas mais quentes. Isso explicaria tanto a expansão geográfica das infecções, antes restritas mais ao Nordeste e Sudeste, como também um aumento da abrangência do período de disseminação do vírus. “No interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, o aumento de temperaturas está se tornando quase permanente. A gente tinha cinco dias de anomalia de calor, agora são 20, 30 dias de calor acima da média ao longo do verão. Isso dispara o processo de transmissão de dengue, tanto por causa do mosquito quanto pela circulação de pessoas. Nessas regiões que estão sofrendo com altas de temperatura, também temos visto um desmatamento muito acelerado. E dentro do Cerrado há as cidades que já têm ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com péssimas condições de saneamento, tornando mais difícil combater o mosquito”, explicou o pesquisador, autor do artigo Mudanças climáticas, anomalias térmicas e a recente progressão da dengue no Brasil, publicado na Revista Scientific Reports.

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