Como usar testes de antígenos para manter crianças saudáveis na escola?

Estratégia garante que apenas quem está transmitindo coronavírus precise ficar em casa. Mas, para isso, é preciso ter testes amplamente disponíveis, oferecidos pelo poder público

Foto: Luís Adorno
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Para evitar surtos de covid-19 em escolas, qual deve ser a política de testagem, rastreamento de contatos e quarentena? A condução dos casos no Brasil – e em boa parte do mundo – ainda é em geral muito rudimentar: pessoas com sintomas são orientadas a ficar em casa e fazer o exame PCR (que só é feito a partir do terceiro dia de sintomas, e cujo resultado demora em média dois dias para sair), e tanto elas como seus contatos próximos devem fazer uma quarentena de duas semanas (veja exemplos aquiaqui e aqui).

Isso significa que, de tempos em tempos, turmas inteiras precisam ficar em casa por um período prolongado, mesmo que a imensa maioria dos envolvidos não esteja infectada. É ruim para as crianças e adolescentes, que ficam com o acesso à educação prejudicado, e para os pais e responsáveis, cuja rotina se torna totalmente imprevisível. 

Mas poderia ser diferente. Reportagem do New York Times fala de uma estratégia que tem sido chamada de test to stay: os contatos próximos de infectados podem continuar frequentando a escola, desde que não apresentem sintomas e desde passem uma semana fazendo testes de antígeno todos os dias, com resultados negativos. Isso começou a ser adotado em alguns distritos escolares dos Estados Unidos. O CDC (Centro de Controle e Doenças) do país ainda não a recomenda, mas está acompanhando os números nos estados. 

Assim como os testes PCR, os de antígenos detectam se a pessoa está infectada no momento. Mas eles têm duas vantagens: são mais baratos e o resultado sai em menos de 15 minutos. A única desvantagem é que são um pouco menos sensíveis, com mais chances de falsos negativos. Porém, eles ‘pescam’ muito bem quem está com alta carga viral, sendo bastante confiáveis para identificar justamente quem tem maiores chances de transmitir o vírus para outras pessoas. Ou seja, podem não ser o padrão-ouro para o diagnóstico, mas parecem perfeitos para evitar surtos.

Um estudo sobre o uso dessa abordagem publicado no periódico The Lancet  sugere que ela funciona bem. Foram analisadas mais de 150 escolas da Grã-Bretanha em um ensaio clínico randomizado. Comparando as  que exigiam quarentena de todos os contatos e aquelas que usaram o test to stay, não houve diferença significativa nas taxas de casos. E, no geral, só 2% dos contatos próximos dos infectados testaram positivo para o vírus – para cada aluno com covid-19, outros 49 não-infectados eram afastados da escola sem necessidade.

A estratégia só pode ser utilizada, obviamente, se houver testes de antígeno amplamente disponíveis e oferecidos pelo poder público. Em países como Reino UnidoAlemanhaCanadá e Áustria,  isso é uma realidade.

No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou na sexta-feira (mais uma vez) um plano para melhorar a testagem, com uma previsão de que mais 60 milhões de testes de antígeno sejam distribuídos. A quantidade é insuficiente para um programa regular de testagem de contactantes.

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