Baixa adesão à vacina bivalente de covid

• SP atrasa 2 mil cirurgias de catarata no SUS • Aumenta uso de PReP • Perigos da internação compulsória, nos EUA e no Brasil • Laboratório é invadido em conflitos internos no Sudão •

.

Os estados e municípios brasileiros começaram a vacinar todos os adultos com idade acima de 18 anos com a vacina bivalente contra a covid-19, após uma recomendação do ministério da Saúde, na segunda-feira (24/4). Algumas capitais como Campo Grande (MS), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) já afirmam ter disponíveis as doses para a população, assim como o estado do Rio Grande do Norte e o Distrito Federal. Outros estados, como São Paulo, afirmam não dispor de imunizantes suficientes para a população geral, apenas para os grupos prioritários. O ministério dispõe de mais de 138 milhões de doses da vacina bivalente da Pfizer (que garante proteção adicional contra a variante ômicron da covid-19). Mesmo assim, a adesão a essa nova fase da vacinação segue lenta e as coberturas vacinais, baixas. Até hoje, 10,3 milhões de brasileiros receberam o novo imunizante. 

Prefeitura de SP gera atraso de 2 mil cirurgias de catarata

Cerca de 2 mil cirurgias de catarata que estavam programadas para acontecer no sistema público de saúde municipal em São Paulo durante todo o mês de abril foram adiadas devido a uma mudança no contrato. As cirurgias deveriam ocorrer em nove unidades de saúde gerenciadas pela entidade filantrópica Cies Global, que oferece procedimentos de baixa e média complexidade ao SUS. O contrato que estava em vigor há quinze anos foi encerrado em 3 de abril e um novo foi assinado três dias depois. A transição não deveria ter gerado atrasos, mas houve ajustes de última hora e tratamentos tiveram que ser temporariamente suspensos – sem novas datas previstas. Alguns idosos ouvidos pela Folha relatam não terem sido avisados, tendo perdido a viagem ao chegar nas unidades de saúde prontos para a cirurgia. As nove unidades administradas pela Cies ficarão desocupadas por quase todo o mês de abril – o que também deve acarretar em problemas financeiros para a instituição. “Nós seguimos a tabela SUS e somos remunerados somente depois de atender o paciente. Estamos pagando os salários dos nossos médicos com três meses de atraso e a situação pode piorar”, afirmou o diretor da entidade, Marcos Fumio.

Aumenta uso da profilaxia pré-exposição ao HIV

Dados do ministério da Saúde dão conta de uma inversão de rota em relação aos anos Bolsonaro na prevenção ao HIV/aids. Recém-absorvidos pelo SUS, os medicamentos que podem ser usados para evitar a contaminação pelo vírus antes da consumação de uma relação sexual tiveram aumento de seu uso pela população. O ministério afirma que houve um salto de 47% no uso dos chamados PrEP em relação ao mesmo período do ano passado. O SUS já disponibilizava uma variedade de medicamentos, mas todos para tratamento após contato com o vírus. Desmonte da política de prevenção ao HIV/aids, baseado na homofobia atávica do bloco de poder capitaneado por Bolsonaro, e estigmatizações que o discurso moralista das direitas são algumas das explicações centrais para o aumento de doenças evitáveis no Brasil, inclusive outras Infecções Sexualmente Transmissíveis, como a sífilis.

Os perigos da internação compulsória de usuários de drogas

Um artigo publicado no Stat News, escrito pela médica Sarah E. Wakeman, debate alguns pontos importantes a respeito da internação compulsória de usuários de drogas – e embora tenha levado em conta o contexto norte-americano, é válido para pensar a realidade brasileira. Wakeman teve alguns pacientes que passaram por uma clínica de tratamento involuntário no estado de Massachusetts, e relataram os horrores que viveram ali. O hospital é bastante parecido com um presídio: pacientes ficam presos em celas, usam macacão laranja, recebem alimentação de má qualidade e são obrigados a participar de reuniões de grupo. Nos Estados Unidos, um membro da família, médico ou policial pode pedir a um juiz que emita um mandado para que vá a uma instituição correcional. 

Drogas: A crise nos Estados Unidos… e a do Brasil

O aumento de casos de overdoses por opioides no país está fazendo crescer a institucionalização: entre 2011 e 2018, 42.853 pessoas em Massachusetts foram enviadas para tratamento involuntário. Mas não funciona, alerta Wakeman: submetidos a tratamento desumano e sofrimento, os internos não são capazes de se recuperar. As recaídas são muito frequentes e até o risco de overdose aumenta, mostram as pesquisas. A médica sugere que a melhor alternativa é o caminho oposto: “Dar esperança a essa pessoa, tratá-la com gentileza e compaixão, ouvir o que ela precisa e apoiá-la no que ela considera que pode tornar sua vida melhor é o que realmente ajuda”. A Reforma Psiquiátrica brasileira, aprovada em lei em 2011, segue esses parâmetros. Mas ataques a essa política vêm trazendo retrocesso nos últimos anos. 

Sudão: laboratório é invadido em meio a conflitos violentos

Cartum, a capital do Sudão, atravessa uma guerra civil causada pelo conflito de poder entre o exército e o grupo paramilitar RSF, antigos aliados. Para além da situação catastrófica causada pela violência à população, emergiu mais um risco, agora biológico. Combatentes invadiram o laboratório de saúde pública nacional, que fica na capital, e expulsaram todos os técnicos responsáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o “enorme risco biológico” que o país atravessa. O laboratório contém amostras de doenças como poliomielite, sarampo e cólera, que, se expostos à população, podem provocar inúmeras doenças. Há também riscos químicos, segundo a OMS. Segundo números do ministério da Saúde do Sudão, cerca de 500 pessoas morreram nas batalhas, e mais de 4 mil estão feridas.

Leia Também: