Governo Bolsonaro perdeu 40 milhões de doses de vacinas

• O drama da queda da vacinação infantil: perda de vacinas, risco às crianças e números da América Latina • 2 bilhões para hospitais filantrópicos • Homem é internado com gripe aviária • Morre Zafrullah Chowdhury, líder da defesa da saúde pública •

.

Matéria do G1 revelou mais uma faceta da gestão bolsonarista da saúde: 40 milhões de doses de variadas vacinas aplicadas na infância foram incineradas pelo governo. Entre as vacinas descartadas, destacam-se a pentavalente, com 3.884.309 frascos que continham uma dose cada, e a dupla viral, com mais de um milhão de frascos que continham dez doses cada, totalizando 10 milhões de doses. Além disso, a vacina contra a hepatite B perdeu 5 milhões de doses. O custo total com a perda das vacinas foi de R$170 milhões. A pasta agora trabalha em um plano chamado de “Estoque Crítico”, com o objetivo de evitar ao máximo perdas por expiração de validade, além de começar a distribuir medicamentos que estão perto de perder a validade. A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, aponta que as perdas só serão evitadas com a adesão da população às vacinas e afirma que o movimento antivacina afetou a imunização a doenças no país.

As sequelas sociais continuam 

Pesquisa do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria, antigo Ibope) aferiu que um terço dos brasileiros ainda desconfia das vacinas contra covid. De acordo com um estudo do Ipec, um terço dos pais brasileiros acreditam que as vacinas contra a covid-19 não protegem seus filhos de formas graves da doença. Apesar disso, a maioria (59%) dos pais teme a infecção pela doença em crianças e adolescentes com até 14 anos de idade. O estudo mostra como a propagação de notícias falsas afeta a tomada de decisão dos pais quando se trata de vacinar seus filhos e os perigos da desinformação sobre as vacinas. O estudo envolveu 2.372 pais ou responsáveis de crianças com idades até 14 anos e fez parte de uma campanha para combater notícias falsas sobre a saúde infantil e fornecer informações confiáveis ​​à população. A pesquisa também mostra que os pais têm um alto nível de desconhecimento sobre como as vacinas podem prevenir doenças como meningite, pneumonia, poliomielite, dengue e hepatite. 

Crianças em maior risco

Enquanto os pais e mães doutrinados pela extrema-direita seguem a negar vacina aos próprios filhos, faixa etária mais afetada pela propaganda anticiência, o número de crianças internadas com síndromes virais aumenta. Relatório da Unicef mostra que o Brasil é o penúltimo colocado entre os países sul-americanos no que tange à cobertura vacinal infantil. Cerca de 25% dos bebês de até um ano estão sem imunização, fase fundamental na prevenção de doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano, entre outras doenças virais e bacterianas que a ciência há anos consegue curar. Na América Latina, a cobertura da terceira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche entre menores de um ano caiu 18 pontos percentuais, colocando a região abaixo da média global. Venezuela e Brasil possuem as piores taxas de vacinação infantil, enquanto Costa Rica, República Dominicana, Cuba, Chile e São Vicente e Granadinas têm os melhores resultados. A Unicef aponta a pandemia, problemas estruturais e falta de investimento nos cuidados primários como causas para a situação.

R$ 2 bi para hospitais filantrópicos

Em cerimônia no Palácio do Planalto, Lula e a ministra da Saúde Nísia Trindade anunciaram repasse de R$ 2 de bilhões aos hospitais filantrópicos, que passam por forte crise financeira nos últimos anos. Braço importante do SUS, as entidades filantrópicas são uma espécie de ponto intermediário entre os sistemas públicos e privados, uma vez que prestam atendimentos de média e alta complexidade para as duas esferas, sendo frequentemente geridos por entidades privadas. Como mostrou Outra Saúde, suas dívidas atingem pelo menos R$ 10 bilhões e no ano passado algumas entidades que responsáveis por tratamentos delicados, como oncológicos e renais, ameaçaram fechar as portas em razão de seu desfinanciamento crônico. O Brasil possui cerca de 2,6 mil hospitais filantrópicos.

Homem chileno é internado pela gripe aviária

Os sinais de que a gripe aviária, atualmente em sua epidemia mais forte da história, pode se adaptar a mamíferos continuam a crescer. No Chile, um homem está internado há cerca de um mês. Sua amostra genética mostra que seu corpo está infectado por duas mutações da gripe aviária, que já atingiu alguns mamíferos como lhamas (no Peru), leões marinhos e pinguins no Chile. Especialistas do Centro de Controle de Doenças dos EUA comentam que há 3 mudanças genéticas que permitiriam a adaptação do vírus para mamíferos. Em matéria do NY Times, eles dizem que ainda não há sinais de que o vírus se espalharia facilmente entre humanos, mas deve seguir sendo monitorado de perto. A circunstância da infecção do paciente chileno ainda é desconhecida, mas ele vive em área litorânea próximo de leões marinhos e pinguins.

Morre Zafrullah Chowdhury, um dos líderes das lutas pela saúde pública no sul global

Zafrullah Chowdhury, um ícone do movimento de saúde no Sul global, morreu aos 82 anos, na semana passada. Ele foi uma das figuras mais inspiradoras do Movimento pela Saúde dos Povos (MSP) e co-fundador do Gonoshasthaya Kendra (GK) em Bangladesh, Índia. O GK, uma organização sem fins lucrativos, tinha como objetivo levar saúde às pessoas criando-a junto com elas, e não esperando que elas viessem à instituição quando já estivessem doentes. A organização foi um dos primeiros pioneiros do conceito de Cuidados Primários em Saúde, que foi estabelecido como o novo princípio orientador da Organização Mundial da Saúde e seus estados membros na grande conferência internacional em Alma-Ata, em 1978. Zafrullah foi premiado com o Prêmio Ramon Magsaysay em 1985 e o Prêmio Right Livelihood em 1992 por suas contribuições para lutas de saúde locais e internacionais.

Leia Também: