Agentes Comunitários: o que o NHS está aprendendo com o SUS

• Brasil acima da média na saúde • Dificuldades de tratar câncer nas favelas • Fortalecimento da Hemobrás • Fiocruz estuda uso de fentanil no Brasil •

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Um artigo publicado esta semana na BBC fala sobre o aprendizado do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) com o modelo de cuidados comunitários adotado no Brasil. Um médico inglês que trabalhou quatro anos no SUS observou a experiência com Agentes Comunitários da Saúde (ACS), que batem de porta em porta para verificar a saúde das pessoas e identificar problemas antes que se agravem. O Reino Unido começou a testar esse modelo em alguns bairros de Londres. A matéria aponta que algumas questões de saúde podem ser descobertas com uma conversa informal sobre o estilo de vida da pessoa, como os primeiros sinais de diabetes. Também é possível entender como questões da moradia podem afetar a saúde da família. O Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido analisou os dados do projeto piloto e constatou que os domicílios visitados regularmente apresentavam 47% mais chances de terem recebido imunizações e 82% mais chances de terem realizado exames de rastreamento de câncer, em comparação com outras áreas. Embora o custo estimado para implementá-lo nas áreas mais pobres da Inglaterra seja de £300 milhões, defensores do modelo destacam que ele pode economizar muito dinheiro no futuro.

Graças ao SUS, Brasil está acima da média em acesso à saúde

Um estudo feito pelo grupo Economist e financiado pela farmacêutica Haleon notou que o Brasil está acima da média em acesso à saúde de sua população. O país está em 19ª posição de inclusividade do sistema, em uma lista de 40, de diferentes perfis sociodemográficos. O estudo considerou critérios como políticas públicas adotadas em cada país, investimentos públicos em saúde, infraestrutura e mão de obra profissional, educação para a saúde, cultura de cuidados e participação social. O Reino Unido ficou em primeiro lugar no ranking, seguido pela Austrália, França, Alemanha e Suécia. O Brasil obteve 72 pontos, um pouco acima da média global de 69,3 pontos e superior ao índice de 65,6 pontos da América Latina. No entanto, o estudo ressalta que, apesar do SUS ser um programa inclusivo, existem problemas de acesso a medicamentos, que são muito custosos para os brasileiros. Além disso, há uma concentração de profissionais de saúde em grandes centros urbanos em detrimento de áreas remotas.

Moradores de favelas têm dificuldade de tratar câncer

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Oncoguia com o Datafavela, do Instituto Locomotiva, investigou como as populações de favelas mantêm seu cuidado com a saúde, em especial em relação ao câncer. As descobertas deixam mais claro o retrato da desigualdade no país, também em relação ao acesso à saúde. Entre os 2.963 entrevistados, de todo o país, quase metade (49%) diz ter entraves para cuidar da saúde. Um dos motivos principais é a falta de tempo: ou porque as condições do trabalho não permitem que se folgue um dia para ir ao médico ou porque não há com quem deixar os filhos. Ou seja, os cuidados de saúde dependem também de infraestrutura nos locais de moradia, como creches. Mas o SUS nas favelas também não atende como deveria: 44% dos entrevistados dizem sentir falta de especialidades médicas na unidade de saúde mais próxima; 40% afirmam não ter acesso a um equipamento de saúde adequado. Outros 37% dos entrevistados relatam dificuldade em deixar hábitos nocivos como o tabagismo e o abuso de álcool.

A importância do fortalecimento da Hemobrás

O ministério da Saúde está desenvolvendo estratégias para fortalecer a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), localizada em Goiana, Pernambuco. A Hemobrás tem como objetivo garantir a produção nacional de hemoderivados e medicamentos obtidos por engenharia genética para o SUS. Atualmente, o Brasil importa cerca de US$ 2,5 bilhões em hemoderivados e produtos relacionados ao tratamento de doenças relacionadas à coagulação sanguínea. A meta é que nos próximos três anos o país se torne autossuficiente na produção e reduza a dependência das importações – além de fortalecer a indústria nacional. A Hemobrás está finalizando a construção da maior fábrica de medicamentos hemoderivados da América Latina, com capacidade para processar até 500 mil litros de plasma por ano.

Por que não permitir que a iniciativa privada colete e processe plasma humano

O ministério da Saúde declarou-se contra a proposta de emenda constitucional (PEC) que autoriza a coleta e o processamento de plasma humano pela iniciativa privada. Essa proposta, em análise no Senado Federal, pode prejudicar a rede pública de serviços hemoterápicos e o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados. O ministério teme que a aprovação da PEC resulte em diminuição das doações voluntárias para a rede pública de saúde e em maior concentração de plasma nas empresas privadas, tornando os procedimentos disponíveis apenas para quem puder pagar. O plasma é uma parte líquida do sangue que pode ser utilizada na produção de medicamentos como albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação. A transfusão de plasma absorve cerca de 20% da produção de hemocomponentes nos serviços de hemoterapia, e o restante pode ser utilizado na produção de medicamentos essenciais para a saúde.

Fiocruz: como impedir crise com fentanil semelhante à dos EUA

Um estudo da Fiocruz abordou o aumento do uso de fentanil no Brasil e avaliou os riscos para o país. O trabalho compara a situação brasileira com a crise de opioides nos Estados Unidos, onde estima-se que morram, anualmente, cerca de 70 mil pessoas por uso indevido da droga. O fentanil é um potente analgésico, pertencente à classe dos opioides, que são substâncias derivadas do ópio ou produzidas sinteticamente para imitar seus efeitos. É usada de forma recreativa também por seus efeitos euforizantes. Sua potência é entre 50 e 100 vezes maior que a da morfina, o que a torna extremamente poderosa no alívio da dor – e também muito perigosa. Os pesquisadores da Fiocruz recomendam investimentos em vigilância e pesquisa para entender os padrões de uso e abuso de substâncias no Brasil. Também enfatizam a importância da integração das apreensões de fentanil com análises toxicológicas criteriosas. Mas ressaltam que, embora sejam necessários alertas e ações, não há motivo para pânico.

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