Mortes maternas seguem em alta há 8 anos

• Mortes maternas em estagnação • Salvar mães e bebê não sai caro • Novo método pode evitar mortes por hemorragia pós-parto • EUA: saúde privada de olho na Atenção Básica • Governo reavalia campanha de vacinação • Adeus a Marcelo Zelic •

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Após anos de quedas sequenciais, o número de mortes maternas aumentou em 2015 e desde então mantém uma alta estável. Segundo a OMS, são cerca de 4,5 milhões de óbitos nesta categoria que abarca mães, bebês e crianças de até 5 anos. Índia e os países da região da África Subsaariana se destacam no ranking, mas o aumento tem padrão global e inclui o Brasil. Dessa forma, o planeta se vê cada vez mais afastado dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que preconizam uma redução para 70 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030, o que exigiria uma redução anual de 11% a partir de agora. O acesso à atenção básica segue como a grande explicação para o trágico fenômeno, uma vez que cerca de 80% das mulheres não faz um acompanhamento neonatal de acordo com a recomendação de oito consultas médicas, além de não ter acesso a métodos de planejamento familiar contemporâneos.

Evitar mortes maternas não sai caro

Uma análise publicada no The Lancet revela que mais de um milhão de bebês nos países em desenvolvimento poderiam ser salvos anualmente se as mães tivessem acesso a medidas de saúde de baixo custo, como vitaminas, antimaláricos e aspirina. O estudo focou em bebês que nascem pequenos demais ou muito cedo, o que os autores descrevem como um “desastre silencioso de saúde pública”. O custo de implementar essas medidas seria de cerca de US$ 1,1 bilhão – ou seja, uma fração do que outros programas de saúde recebem.

Um novo e promissor método

Pesquisadores da OMS e da Universidade de Birmingham publicaram artigo no New England Journal of Medicine com os resultados de um estudo de novo método para contenção da hemorragia pós-parto. Chamado de E-motive, o procedimento passa pelo uso de um aparelho chamado drape, que mede a perda de sangue da mãe após o nascimento do bebê e permite um início mais ágil das respostas à hemorragia. Dessa forma, é possível iniciar simultaneamente todas as possibilidades de contenção do sangramento, que são “massagem uterina, medicamentos para contrair o útero e estancar o sangramento, administração de fluidos intravenosos, exames e, quando necessário, encaminhamento para cuidados avançados”, conforme explicam. Os pesquisadores relataram uma redução de cerca de 60% das mortes de mães com o método.

Gigantes da medicina privada avançam sobre atenção básica

Um movimento do mercado de saúde dos EUA torna ainda mais difícil o acesso a cuidados básicos no Medicare, plano de saúde pública do país que está sendo privatizado progressivamente. Trata-se da contratação por esses planos privados de médicos da atenção básica, aqui no Brasil conhecida como medicina de família e comunidade. A lógica é que, apesar de ser uma dimensão menos glamourosa da medicina, ela previne muitas doenças evitáveis na raiz dos problemas do paciente, o que significa economia de uma grande soma de dinheiro que seria aplicada em procedimentos médicos e hospitalares posteriores. Segundo o Instituto de Advocacia dos Médicos, 7 de cada 10 profissionais da área já estão vinculados às grandes corporações da área, que, como sempre, alegam que tal concentração facilitará a marcação de consultas e a coordenação dos cuidados do paciente. O Instituto, por sua vez, responde que a dinâmica gerará um monopólio de profissionais médicos, que redundará em aumento de preços.

Governo avalia novas estratégias de divulgação de vacina

Os efeitos do negacionismo continuam a afastar a sociedade brasileiro do mais básico método de prevenção a doenças evitáveis, que são as vacinas. Prioridade do início de governo, o alcance da imunização não passou de 25% da meta estipulada para a gripe de influenza. Outras campanhas, como da pólio, também estão no foco do ministério. “A pandemia da covid-19 e a onda de desinformação e de descredibilização das vacinas também têm afetado as demais vacinas do calendário. É um misto de situações. As campanhas ainda são tímidas, muito informativas. Não sensibilizam as pessoas, não tocam em suas emoções. Para transformar alguém é preciso mostrar que as pessoas estão sob risco”, avaliou Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações. Dessa forma, o governo estuda ampliar horários, locais e formas de abordagem da cidadania para efetivar suas metas de vacinação.

Morre Marcelo Zelic, que descobriu relatório de extermínio indígena na ditadura

Faleceu nesta segunda, por um Acidente Vascular Cerebral, Marcelo Zelic, pesquisador e membro do Grupo Tortura Nunca Mais. Ele deu uma histórica contribuição à Comissão da Verdade, que foi instaurada no governo Dilma e investigou os diversos crimes da ditadura militar de 1964-1985. Focado em pesquisar crimes do regime contra povos indígenas, Zelic descobriu o Relatório Figueiredo, milhares de páginas redigidas pelo procurador da República Jader Figueiredo, que documentou ao menos 8 mil indígenas assassinados no período, além de outras violações de direitos humanos. “Ele trabalhou de domingo a domingo para colocar no ar centenas de milhares de documentos que pertencem à história dos nossos povos. Achou arquivos que ninguém antes tinha visto e, com isso, fez transformações importantes na nossa democracia. Lutou e enfiou muitos dedos na ferida para que se fizesse justiça, reparação e não repetição. Se rodeou de muita gente, entre indígenas e não indígenas, todos lutadores”, declarou Helena, sua filha.

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