Uma Capitu para além do “traiu ou não?”
Novo filme de Júlio Bressane Capitu e o Capítulo, busca desvelar o encoberto no clássico de Machado de Assis, abrindo novos olhares para interpretar a obra. Em parceria com o Grupo Belas Artes, sortearemos um par de ingressos
Publicado 03/08/2023 às 18:44 - Atualizado 04/08/2023 às 15:27
Talvez finalmente possamos dizer que o velho dilema “Capitu traiu ou não Bentinho” está perto de ser superado. Ao invés de nos agarramos à essa questão, como Bentinho se agarrou aos seus acessos de ciúmes – reflexos de sua própria insegurança –, podemos nos debruçar sobre uma obra de olhar ampliado para o clássico Machadiano e seu turbilhão de questionamentos – por vezes, escondidos nas nuances dos breves capítulos de suas narrativas.
É como um convite para ir além que Júlio Bressane lança sua obra mais recente, o filme: Capitu e o Capítulo. Em cartaz até o dia 16.08 no Cine Petra Belas Artes.
Outras Palavras e Grupo Belas Artes sortearão 1 par de ingressos para o filme Capitu e o Capítulo, de Júlio Bressane, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a próxima quinta-feira, dia 10/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
O longa é fruto dos esforço de produção da TB Produções com coprodução Globo Filmes e distribuição pela Pandora Filmes. Premiado no FestCine Aruanda nas categorias de Melhor Filme, Direção e Prêmio da Associação, Brasileira de Críticos – Abraccine. Além disso, teve sua estreia mundial no Festival de Roterdã.
“Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade, novas e antigas percepções” permeiam a trama inquietante de Machado, agora revisitada pelo olhar disruptivo de Bressane, referência do Cinema Marginal brasileiro nos anos 1970.
O diretor explica que a inspiração para o filme partiu de uma conversa com Haroldo de Campos, em 1984, quando Haroldo declamou a ele parte de um pequeno poema:
“O importante no Dom Casmurro não é a Capitu, mas o capítulo…”, disse-me. Capitu/Capítulo, este breve e lapidar poema, logo que o ouvi pela primeira vez, fiquei enfeitiçado, possuído por sua brevidade musical. Porém, naquele momento, não percebi, não alcancei, não compreendi toda sua extensão… Extensão na qual o Capítulo é pathos, emoção ultra acumulada, emoção extrema represada, escondida lá no fundo, oculta por severa sombra, bloqueada, sem saída. Pathologico.”
Isso se revela em uma Capitu que perscruta Bentinho, desafiadora. José Geraldo Couto nos conta em sua crítica que “já em seu primeiro diálogo com Bentinho (Vladimir Brichta), filmado mediante um espelho, a Capitu composta por Bressane e Mariana Ximenes surge liberta das amarras da personagem do livro.”
Esta não é a primeira adaptação da obra machadiana que o diretor transmuta para sétima arte, em 1985, lançou Brás Cubas, adaptação de Memórias póstumas de Brás Cubas estrelando Luís Fernando Guimarães, Maria Gladys e Regina Casé. Em 2008, gravou A erva do rato, uma releitura dos contos Um esqueleto e A causa secreta.
Júlio Bressane tem cinquenta anos de carreira e sessenta filmes que rodaram pelos principais festivais do mundo, sendo um dos maiores representantes do cinema brasileiro. Iniciou sua carreira no cinema como assistente de direção de Walter Lima Júnior, em 1965. Em 1966, ficou conhecido por seu documentário sobre Maria Bethânia: Bethânia Bem de Perto – A Propósito de um Show. Um ano antes, mais precisamente no dia 13 de fevereiro, Bethânia estreava nacionalmente no espetáculo Opinião, em cartaz no Rio de Janeiro, substituindo Nara Leão, a convite da própria Nara que precisou se ausentar por problemas de saúde. Como bem sabemos, não demorou muito para Bethânia se destacar nacionalmente e com isso o documentário de Bressane se tornar um registro de imensa importância para história da cultura nacional. Já em 1967, o cineasta lançou sua primeira ficção Cara a Cara, que conta a história de um funcionário público que mora com sua mãe idosa e que é apaixonado pela jovem e rica filha de um político corrupto. Em 1970, Bressane fundou a Belair Filmes em sociedade com o também cineasta Rogério Sganzerla. Juntos, os dois passaram a realizar filmes de baixo custo e produção e dessa maneira conseguiram rodar seis longas-metragens em apenas seis meses. No início do mesmo ano, o diretor se exilou em Londres, no entanto, voltou ao Brasil alguns anos depois e fez um filme atrás do outro. Também é valido ressaltar que a chanchada, o deboche e certa ironia são marcas de seus longas.
Agora, fica o convite de Outras Palavras para experienciar o olhar único do cineasta que nos presenteia com “uma trama transpassada por cenas, trechos, farrapos de filmes e texturas que se desdobram em capítulos de uma ficção escondida, ainda não vista, que se desvela, e recomeça em outro solo, em outro cosmos…”
Em parceria com o Grupo Belas Artes, Outras Palavras irá sortear 1 par de ingressos para o filme Capitu e o Capítulo, de Júlio Bressane, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a próxima quinta-feira, dia 10/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
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