Por um resgate da psicanálise popular

Obra lançada esse ano pela editora Ubu recupera experiências históricas de práticas psicanalíticas libertadoras e acessíveis às maiorias. Mostra: a clínica pode ser comprometida com a transformação social. Sorteamos 2 exemplares

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Infelizmente, a psicanálise já foi relegada ao estigma de uma prática reservada às elites ou até mesmo ao tabu de tratamento só para “loucos” – quando não é desacreditada por profissionais das ciências naturais. 

Em uma sociedade vítima de um sistema que nos acomete à lógica predatória e competitiva do capitalismo, sujeita aos moldes da cultura burguesa, machista e heteronormativa, que gera todos os dias sobreviventes reincidentes das guerras, da violência urbana e da insegurança geral do mal-estar na civilização, é muito difícil não estarmos adoecidos. 

Para quem já se interessa pelo assunto, não é novidade alguma a necessidade de acesso a tratamentos para a saúde mental que não se limitem à medicalização em excesso – que é importante dizer, é empreendida pelo interesse do lucro da industria farmacêutica – e, além disso, estendam-se a todos os indivíduos, independente de classes.

O próprio pai da psicanálise, Freud, defendeu, em 1918, a criação de clínicas públicas, tais clínicas pouco depois se alastraram pela Europa.
Portanto, é imprescindível que utilizemos toda a potência da prática psicanalítica para cura coletiva de nossa sociedade adoecida. Tudo isso só é possível se combatermos a ideia – e as práticas – de uma psicanálise excludente e elitizada. Existem precedentes históricos que podem nos servir tanto de modelos como de “antimodelos”. É no intuito de contribuir para esse movimento que o psicanalista Florent Gabarron-Garcia, empreendeu “uma uma recuperação histórica dos momentos nos quais a psicanálise reafirmou seu compromisso com as classes trabalhadoras” e revelou o “caráter engajado como prática e disciplina” dessa prática.

Podemos nos debruçar sobre essa história em seu livro Uma história da psicanálise popular, publicado esse ano pela Editora Ubu e que vem somar mais um título para incitante Coleção Explosante, organizada por Vladimir Safatle. O escrito conta ainda com a tradução da artista Célia Euvaldo e prefácio do psicanalista brasileiro Christian Dunker.

Outras Palavras e Editora Ubu sortearão 2 exemplares de Uma história da psicanálise popular, de Florent Gabarron-Garcia, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 14/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Em sua obra, Gabarron-Garcia expõe vários exemplos que combatem a ideia de que o foco da psicanálise é e sempre foi o de ser uma terapia voltada apenas para o bem-estar individual. Começando na União Soviética, em 1920, quando Vera Schmidt empreende sua experiência pioneira de psicanálise para crianças. O escrito também resgata a defesa de Wilhelm Reich de uma revolução sexual contra o fascismo e sua experiência nas policlínicas de Viena, fundadas em 1922. Pós Segunda Guerra, somos apresentados à psicoterapia institucional de François Tosquelles e Jean Oury. Já na Argentina, o exemplo é do grupo Plataforma, de Marie Langer. O estudo também não deixa de passar pela “psicanálise heterodoxa” de Félix Guattari. Chegando até a “experiência explosiva de Heidelberg, o SPK, que defendia o potencial anticapitalista da doença e cuja repressão política, à época, causou alvoroço entre os maiores nomes da psicanálise internacional.”

Florent Gabarron-Garcia nasceu em 1977 em Paris. Obteve seu mestrado em antropologia na Universidade de Bordeaux em 1999 e em Filosofia na Universidade de Nanterre, em 2001, sob a orientação de Étienne Balibar. Doutorou-se em Psicopatologia e Psicanálise em 2014, pela Universidade Paris 7 – Denis Diderot, sob a orientação de Monique David-Ménard e Laurie Laufer. Fez sua formação em Análise Institucional na clínica de La Borde, onde trabalhou entre 2007 e 2011. Além disso, foi membro do comitê de redação da Chimères, revista francesa fundada por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Desde 2011 atua no Centre Médico-Psycho-Pédagogique (CMPP), voltado a crianças e adolescentes. Também coordena grupos de orientação clínica e análise institucional, onde trabalha sobretudo com profissionais da saúde e da pedagogia social que se dedicam a pessoas em sofrimento psíquico nos serviços de acolhimento institucional.


Sobre a Coleção Explosante

Em um momento no qual revoluções se faziam sentir nos campos da política, das artes, da clínica e da filosofia, André Breton nos lembrava como havia convulsões que tinham a força de fazer desabar nossas categorias e limites, de produzir junções que indicavam novos mundos a habitar: “A beleza convulsiva será erótico-velada, explosante-fixa, mágico-circunstancial, ou não existirá”. Tal lembrança nunca perderá sua atualidade. A coleção Explosante reúne livros que procuram as convulsões criadoras. Ela trafega em vários campos de saber e experiência, trazendo autores conhecidos e novos, nacionais e estrangeiros, sempre com o horizonte de que Explosante

é o verdadeiro nome do nosso tempo de agora. 

TÍTULOS

Petrogrado, Xangai, Alain Badiou

Chamamento ao povo brasileiro, Carlos Marighella

Alienação e liberdade, Frantz Fanon

A sociedade ingovernável, Grégoire Chamayou

Guerras e Capital, Éric Alliez e Maurizio Lazzarato

Governar os mortos, Fábio Luís Franco

A vontade das coisas, Monique David-Ménard

A revolução desarmada, Salvador Allende

Uma história da psicanálise popular, Florent Gabarron-Garcia

COORDENAÇÃO Vladimir Safatle


Em parceria com a Editora Ubu, Outras Palavras irá sortear 2 exemplares de Uma história da psicanálise popular, de Florent Gabarron-Garcia, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 14/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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