A poesia insurgente de Lawrence Ferlinghetti

Lançamento da Editora 34 resgata a poesia popular e subversiva de uma figura central, mas pouco conhecida do movimento Beat. A obra convida-nos a sair da letargia e da rotina pela ação política. Sorteamos 2 exemplares

.

“Se você se diz poeta, então não fique aí parado. A poesia não é uma ocupação sedentária, não é a prática do ‘tomem os assentos’. Levante e diga o que pensa.” Assim Lawrence Ferlinghetti intima a quem aspira à poesia: convocando à ação.

É como um convite à reascender a fagulha da revolta e inquietação desse poeta que a editora 34 lança o livro Poesia como arte insurgente.

Outras Palavras e editora 34 sortearão 2 exemplares de Poesia como arte insurgente, de Lawrence Ferlinghetti, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 7/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso! 

A obra é composta por 5 textos do autor. No entanto, seu trabalho funcionava na chave do constante work-in-progress, ou seja, alguns escritos foram mexidos e remexidos durante toda sua vida – que é bom ressaltar: durou 101 anos. A tradução e o instigante prefácio ficou por conta de Fabiano Calixto – pernambucano, poeta, editor, professor e doutor em letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP).

Através de “uma bela e inquietante lírica de combate, com uma insistente e melodiosa música utópica/anticapitalista”, como afirma Fabiano, o autor se revolta contra as mazelas impostas pelo capitalismo que nos assola. Uma poética engajada e comprometida com a mudança, com a quebra das correntes e com o futuro – se contrapondo ao realismo capitalista que insiste em se apresentar como única perspectiva. O escritor não cai em desesperança ou no ceticismo cansado e pessimista do niilismo, pelo contrário, é poeta de energia, que clama aos outros poetas que “Abram suas portas” e que saiam de “seus mundinhos fechados”. Assim o artista encarna todo o espirito de uma época que lutava para renascer das cinzas do Pós-guerra. 

Nascido em 1919, na cidade de Nova York, perdeu o pai e a mãe muito cedo. Vale dizer que seu pai, Carlos Ferlinghetti, era um anarquista italiano, portanto, a revolta parecia estar no sangue e na história da família de sua família. Por conta de sua perda, o pequeno Lawrence passou a viver com a tia materna na França, no entanto, volta aos Estados Unidos e lá viveu em orfanatos até ser finalmente adotado por uma família em Bronxville, Nova York.

Anos mais tarde, formou-se em jornalismo pela Universidade da Carolina do Norte. Após esse momento, serviu na Marinha norte-americana durante a Segunda Guerra e comandou três submarinos no Atlântico. O escritor acompanhou todos os eventos do Dia D – invasão da Normandia – e também testemunhou as ruínas de Nagasaki após à bomba atômica lançada pelos Estados Unidos. Esses acontecimentos levaram-no a adotar o pacifismo e influenciaram profundamente a arte que viria a desenvolver.

Por isso, os temas políticos e sociais são comuns em sua poesia. Além disso, sua obra é permeada pela luz e cor, como palavras que pintam e retratam a experiência americana, nas palavras do crítico Jack Foley. Sua sensibilidade não se contradiz com a revolta – na verdade, a complementa e intensifica. Por vezes, seu estilo é comparado ao de Apollinaire, graças a uma obra marcada por certa delicadeza – ainda que seja um poeta de tom reativo. No mais, seu ritmo melodioso e seus versos que se alternam entre longos e curtos, como modulações rítmicas, parecem se inspirar no jazz bebop, muito apreciado pelo underground norte-americano da época.

Fachada da livraria na Columbus Avenue, em 2010. Fonte: Wikimedia

Mesmo que não aceitasse ser chamado de “Beat”, é considerado um dos “pais” do movimento que estremeceu a cultura norte-americana no século XX. Provavelmente recebeu essa alcunha porque além de um escritor que transbordava efervescência, com uma sede pelo enfrentamento poético, também foi um dos fundadores da livraria e editora independente City Lights Bookstore, na cidade de São Francisco, Califórnia, em 1953.

O lugar focava na publicação e divulgação de literatura e arte progressista e subversiva para a época. Autores como Vladímir Maiakóvski foram traduzidos e publicados pela editora, além disso, Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouac – representantes da Geração Beat e amigos de Lawrence – também foram publicados pela City Lights. Por conta disso, o local se tornou ponto de encontro de mentes irrequietas e inconformadas – e também por conta de sua localização: ao lado do Bar Vesúvio, “reduto de poetas, artistas, ativistas e boêmios”.

Da esq à dir: Bob Donlin, Neal Cassady, Allen Ginsberrg, Robert LaVigne, Lawrence Ferlinghetti em frente à City Lights Books; San Francisco, 1955. Fonte: Allen Ginsberg Estate
Da esq à dir: Mike McLure, Bob Dylan, Allen Ginsberg e Lawrence Ferlinghetti em frente ao Bar Vesúvio, em 1965. Fonte: NSF Magazine

No mais, Lawrence considerava-se  “um agente provocador – subversivo, anarquista e profético” e reivindicava um arte acessível a todos e não somente a uns poucos endinheirados. Como um agitador político não cansou de clamar pela luta em todas as esferas e de nos desafiar a criar “obras capazes de responder aos desafios dos tempos apocalípticos, ainda que isso signifique soar apocalíptico.”


Em parceria com a editora 34, o Outras Palavras irá sortear 2 exemplares de Poesia como arte insurgente, de Lawrence Ferlinghetti, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 7/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso! 

E não se esqueça! Quem apoia o jornalismo de Outras Palavras garante 30% de desconto em obras selecionadas da editora 34. Faça parte da rede Outros Quinhentos em nosso Apoia.se e acesse as recompensas!

Outras Palavras disponibiliza sorteios, descontos e gratuidades para os leitores que contribuem todos os meses com a continuidade de seu projeto de jornalismo de profundidade e pós-capitalismo. Outros Quinhentos é a plataforma que reúne a redação e os leitores para o envio das contrapartidas, divulgadas todas as semanas. Participe!

NÃO SABE O QUE É O OUTROS QUINHENTOS?
• Desde 2013, Outras Palavras é o primeiro site brasileiro sustentado essencialmente por seus leitores. O nome do nosso programa de financiamento coletivo é Outros Quinhentos. Hoje, ele está sediado aqui: apoia.se/outraspalavras/
• O Outros Quinhentos funciona assim: disponibilizamos espaço em nosso site para parceiros que compartilham conosco aquilo que produzem – esses produtos e serviços são oferecidos, logo em seguida, para nossos apoiadores. São sorteios, descontos e gratuidades em livros, cursos, revistas, espetáculos culturais e cestas agroecológicas! Convidamos você a fazer parte dessa rede.
• Se interessou? Clica aqui!

Leia Também: