A Primeira Guerra e a Saúde

Ontem, o armistício da Primeira Guerra Mundial completou cem anos. Mas o conflito teve outros rebatimentos para a saúde além dos mortos e feridos nos combates.

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Essa e outras notícias aqui, em nove minutos.

PRIMEIRA GUERRA E A SAÚDE

Ontem, o armistício da Primeira Guerra Mundial completou cem anos. Mas o conflito, que transformou a Europa num campo cheio de trincheiras, teve outros rebatimentos para a saúde além dos mortos e feridos nos combates.

O NHS inglês recomendou a leitura de uma reportagem de 2014, da BBC, que mostra que o trabalho das enfermeiras era exaustivo e perigoso. “As voluntárias experimentaram o horror em primeira mão, muitas vezes pagam um preço fatal”, diz o texto. E um detalhe: de início, o exército britânico se opunha ao serviço dessas mulheres militares, de modo que elas foram obrigadas a servir atendendo outras forças, como a francesa e a belga.

Já na semana passada, a mesma BBC publicou outra matéria, lembrando que ao final da Guerra, dezenas de milhares de soldados sofreram os efeitos do estresse pós-traumático. E um médico, Edwin Goodall, em um hospital, o Whitchurch, mudou a forma como esses homens eram tratados. Por exemplo: se um soldado voltasse do conflito sem falar, se aplicava choques elétricos no seu maxilar… E se o soldado gritasse de dor, se considerava que ele não era mais mudo. Goodwall introduziu abordagens terapêuticas, como massagens para aliviar a tensão dos pacientes e prevenir a atrofia dos músculos. Depois de ser “tratado” para o estresse pós-traumático, o poeta Wilfred Owen – que virou mártir – foi enviado para o campo de batalha, e morreu uma semana antes do fim da Guerra.

E o diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, lembrou que a Primeira Guerra criou as condições perfeitas para a pandemia de gripe espanhola – que matou mais gente do que a guerra em si. “A paz é pré-requisito para a saúde”, escreveu ele no Twitter.

PANORAMA NUTRICIONAL

Novo estudo da FAO e da Opas indica que todos os anos, a América Latina vê sua população de obesos crescer em 3,6 milhões. Nosso índice de crianças menores de cinco anos afetadas, de 7,3%, é maior do que a médica mundial (5,6%). Na região, quase um em cada quatro adultos é obeso, num panorama de 250 milhões de pessoas vivendo com excesso de peso – ou 60% da população.

Do outro lado, a fome continua sendo um problema – e cresceu em três países desde 2014. Afeta 39,3 milhões de pessoas, ou 6,1% da população. Entre 2015 e 2016, o aumento de desnutridos foi de 200 mil. Mas na passagem de 2016 para 2017, esse número dobrou. Desde 2014, Argentina, Bolívia e Venezuela experimentaram os maiores aumentos. Só a Venezuela registrou mais 600 mil pessoas nessa situação, num total de 3,7 milhões (ou 11,7% da sua população). O retrocesso é grande, já que em 2012 o país bateu com três anos de antecedência a meta de desenvolvimento do milênio, reduzindo pela metade a proporção de pessoas com fome.

O Brasil continua a constar na lista dos países com porcentagem de fome mais baixa (menos de 2,5% da população) junto com Cuba e Uruguai.

OUTRO ANIVERSÁRIO

Ontem, a reforma trabalhista completou um ano. A legislação alterou mais de cem pontos na CLT. Mas parece não ser suficiente. Segundo a Folha, além de extinguir o Ministério do Trabalho, o governo Bolsonaro parece ter decididocolocar mais poder nas mãos de Paulo Guedes com a transferência da secretaria que administra o Fundo de Amparo ao Trabalhador, de aproximadamente R$ 76 bilhões, para o superministério da Economia – que já concentra Fazenda, Planejamento e Comércio e Indústria. A ideia é que Guedes implemente uma das promessas de campanha do capitão reformado: a carteira de trabalho verde e amarela, que esvazia ainda mais a CLT. Quem aderir a ela (ou for aderido) só terá direito ao que está na Constituição e poderá ter de “negociar” duração da jornada e regime de férias. Além disso, a carteira deve ser a porta de entrada para o novo regime de capitalização que o governo quer implantar na Previdência Social.

FORTES SINAIS

Guedes já tem tanto poder, mas aparentemente não sabe o que significa a Lei Orçamentária Anual. O colunista da Carta Capital Pedro Paulo Zahluth contater recebido de pessoas do Ipea o informe de que, numa reunião técnica em que se discutia a LOA, o futuro ministro teria perguntado o significado da sigla. Mais grave ainda, porém, é o relato que o presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE) fez ao BuzzFeed. O político ofereceu margem de manobra no orçamento de 2019 que está sendo votado no Congresso. Mas Paulo Guedes teria ficado contrariado: ele não “queria” que se aprovasse o orçamento, mas sim a reforma da Previdência. Eunício tentou explicar que não é questão de querer, mas que a Constituição obriga o Congresso a aprovar a LOA (não se pode decretar recesso parlamentar antes dessa votação). Mas Guedes teria retrucado que ‘só quer’ a Previdência. Foi depois dessa conversa, na terça passada, que o economista deu declarações à imprensa dizendo que o Congresso tem que levar uma “prensa”.

PROBLEMA BRASILEIRO

Já são 15 os mortos no deslizamento de terra em Niterói. Aconteceu no Morro da Boa Esperança, na madrugada de sábado, após dias com intensos períodos de chuva. Segundo a Defesa Civil, uma pedra na área de preservação acima das casas deslizou, mas a região não é considerada de “alto risco”. Na mesma cidade, em 2010, 46 pessoas morreram na tragédia do Morro do Bumba. Na época, a população descobriu que as casas haviam sido construídas em cima de um lixão desativado. Com uma forte chuva, parte do morro colapsou.

PIOR DA HISTÓRIA

O atual surto de ebola é o pior na história da República Democrática do Congo, segundo o Ministério da Saúde daquele país. A RDC já passou por dez surtos do vírus desde 1976. Já são 319 casos, e quase 200 mortos.

E para piorar, como já dissemos aqui, os conflitos em Beni, epicentro do surto, continuam. Segundo o diretor da OMS, houve um ataque no sábado – mas que não deixou nenhuma vítima entre os profissionais de saúde deslocados para lidar com a doença.

E NO FUTURO?

Um relatório da Comissão para a Infância mostrou que crianças inglesas têm vastas quantidades de dados coletados desde o nascimento. Vai desde as fotos compartilhadas por pais e parentes até brinquedos com wi fi, babás-eletrônicas online, ferramentas de localização… O problema, diz o estudo, é que não se sabe como nada disso será usado no futuro. No pior cenário, toda essa informação pode se voltar contra as crianças, limitando suas opções de empregos até. Por lá, se descobriu que um brinquedo chamado CloudPets armazenou dados e cerca de duas milhões de mensagens trocadas entre crianças e pais.

VIGOREXIA

Depressão, abuso de álcool, compulsão alimentar, uso de anabolizantes… Essas são alguns dos efeitos colaterais detectados em homens que demonstram preocupação excessiva em ganhar músculos por uma pesquisa pioneira sobre o assunto, feita pela Universidade de Harvard e pela Universidade Norueguesa. Conduzido nos Estados Unidos, o estudo se baseia em dados de 2.460 homens entre 18 e 32 anos. O Nexo listou as principais descobertas, entre elas que a insatisfação com o próprio corpo – amplamente estuda em meninas e mulheres – está presente em meninos e homens, sejam magros ou gordos, mais ou menos escolarizados. E ainda que homens gays e bissexuais buscam mais os músculos do que homens heterossexuais.

FAÇA ISSO E AQUILO

Uma consultoria chamada Trendwatching aponta a seguinte tendência para 2019: produtos e serviços ligados à saúde que tratam os clientes como cobaias. É o caso de um aplicativo, o Timeshifter, com algoritmo desenvolvido em parceria com a Nasa. Com o objetivo de diminuir o jetlag do usuário. A partir de dados como gênero, idade e rotina, o app indica a hora ideal para dormir, tomar café, quando se deve evitar luzes fortes…

POLÊMICA À VISTA

Você já ouviu falar no Instituto Questão de Ciência? Ele será lançado no próximo dia 22 com o objetivo de fundamentar políticas públicas. Sua principal batalha será contra terapias alternativas oferecidas pelo SUS. O evento de estreia terá palestra de Edzard Ernst, professor emérito da Universidade de Exeter, ex-homeopata que, em 2009, afirmou que “a homeopatia está entre um dos piores exemplos da medicina baseada em fé”.

CORRENDO ATRÁS

A prefeitura de São Paulo vai começar esse mês campanha de vacinação contra febre amarela, com postos volantes em terminais de ônibus e estações de trens e metrô. A cobertura vacinal está, atualmente, na casa dos 58%. A meta é chegar a 95%.

MAIS UMA VÍTIMA

A violência urbana fez mais uma vítima. Com apenas 48 anos, o médico Roberto Kikawa morreu no sábado assassinado em um assalto em São Paulo. Foi o criador das carretas que levam exames para locais sem equipamentos como tomógrafos.

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