Situação nas Américas

Opas prevê pico no Brasil em agosto; EUA temem chegar a 100 mil casos diários

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil
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Na América Latina, o número de mortes por covid-19 pode praticamente quadruplicar até outubro, saindo de 113 mil para 438 mil. A informação foi dada ontem pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que usou um modelo epidemiológico para fazer alertas aos países da região. O principal recado para os governantes foi: mantenham as medidas de contenção do coronavírus – incluindo isolamento social. 

Finalmente, a Opas fez previsões sobre os picos. No Brasil, esse momento em que se chega ao ápice do número de novos casos (e onde se pode ficar durante um certo tempo) seria atingido em agosto, se a nossa resposta à epidemia continuar na mesma. Até lá, teríamos contabilizado 88,3 mil mortes. Importante dizer que esse número não é uma espécie de teto: atingido o pico, continua morrendo gente…

Também estão previstos para agosto os picos de Peru – que começou a flexibilização da sua quarentena essa semana –, México, Argentina e Bolívia. A projeção para Chile e Colômbia é julho.

Ontem, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Anthony Fauci, fez outra previsão preocupante. Em audiência no Senado, disse que se a transmissão continuar sem controle, ele não ficaria surpreso se o país chegasse ao ponto de registrar cem mil novos por dia. Hoje, são confirmados mais de 40 mil casos diários, em média. “Estou muito preocupado”, confessou. 

Em todas as Américas, eram 247 mil mortes e 5,1 milhão de casos até segunda-feira. No Brasil, foram 1.271 mortes e 37.997 casos registrados de segunda para terça-feira, elevando o total para quase 60 mil óbitos e mais de 1,4 milhão de infecções. 

Recomendações ao Brasil

Na coletiva em que divulgou essas previsões, a Opas fez algumas recomendações ao Brasil – particularmente aos governadores (provavelmente por ter perdido a esperança de sensibilizar o presidente Jair Bolsonaro). A principal delas é ampliar a testagem e divulgar os resultados rápido para criar uma “imagem precisa” da epidemia.

A segunda recomendação, infelizmente, depende do governo federal: o braço regional da OMS se preocupa com a falta de consistência da mensagem passada pelas várias autoridades à população brasileira. “Confunde”, resumiu Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis. 

Coube ao brasileiro Jarbas Barbosa, que ocupa o cargo de diretor-assistente da Opas, falar sobre as reaberturas econômicas que estão varrendo o país. “Primeiro, é preciso controlar a transmissão. Se começam a reabertura sem isso, vai acelerar a transmissão”, concluiu. Já a diretora-geral, Carissa Etienne, preconizou: “O momento é crítico. Em nível nacional ou local, devemos abrir gradualmente, adotando uma abordagem em fases que se baseie em uma vigilância robusta, dados e capacidade expandida de testes e rastreamento de contatos”. De acordo com ela, os governantes devem ter “coragem de recuar se as infecções aumentarem”.

Por aqui, é o caso de mais dois estados. Ontem, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), editou um decreto que permite apenas o funcionamento de serviços essenciais em um terço dos municípios do estado por 14 dias, prorrogáveis por mais tempo. Serão fechadas praças, supermercados só poderão funcionar com 30% da capacidade e cirurgias eletivas foram suspensas, dentre outras coisas. A pressão já começou, com a associação de bares dizendo que os empresários “vão entregar as chaves” dos seus negócios. Prometem judicialização.

Em Goiás, a situação é mais estranha. Ronaldo Caiado (DEM) publicou no finalzinho da segunda-feira um decreto que também determina o fechamento das atividades não essenciais durante duas semanas. Mas os prefeitos podem seguir ou não a determinação. Pelo menos a capital, Goiânia, aderiu ontem. A decisão de Caiado foi tomada após um estudo da Universidade Federal de Goiás prever o colapso da rede hospitalar do estado agora em julho. 

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