Um breve interlúdio

Ministério da Saúde finalmente consegue abrir compras de medicamentos em falta para internados. Ao mesmo tempo, despeja nos estados 4,4 milhões de comprimidos inúteis de cloroquina

Foto: Freepik
.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 30 de junho. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Ontem, o Ministério da Saúde finalmente abriu os processos administrativos para a compra de medicamentos necessários ao atendimento nas UTIs, que faltam há semanas em quase todo o país. Conforme prometido, foi lançado um processo de compras internacional em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e aberto um pregão eletrônico nacional. 

Contudo, a ação que deu o resultado mais rápido – e talvez possa ser considerada a mais ousada já tomada pela atual gestão da pasta – tenha sido a requisição administrativa desses remédios. Mas o secretário-executivo do Ministério, Élcio Franco, ressaltou que o governo federal só requisitou o que era considerado “excedente de produção” pelas farmacêuticas. Mesmo assim, é incrível como esse tipo de medida tem o condão de fazer aparecer remédios antes não encontrados pelos secretários estaduais. De acordo com Franco, 186 mil unidades de anestésicos e relaxantes musculares necessários à entubação de doentes já foram distribuídos para dez estados: Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo.

Mas notícia boa nesse governo é interlúdio: também ontem o Ministério apresentou um balanço de distribuição da cloroquina. Foram enviadas quase 4,4 milhões de comprimidos aos estados que solicitaram – o que não foi o caso de nenhum das regiões Sul e Sudeste do país. “A cloroquina é uma possibilidade que já se mostrou efetiva conforme as referências, inclusive na Índia tem sido bastante positivo o uso… Há evidências bastante consistentes de que tem sido efetivo o uso deste medicamento em associação com outros medicamentos”, insistiu Élcio Franco na coletiva de imprensa. 

Além disso, ele resolveu dar asas à imaginação e afirmou aos jornalistas que o Albert Einstein havia soltado um “desmentido” sobre a orientação para que seus médicos não prescrevam cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Horas depois, o hospital realmente soltou um desmentido, mas para rebater o próprio Franco e reafirmar seu protocolo contrário às substâncias, divulgado na última sexta-feira. 

E o Tribunal de Contas da União foi provocado a investigar duas frentes envolvendo o Ministério da Saúde. Ontem, as bancadas do PT na Câmara e no Senado encaminharam um requerimento pedindo que o TCU audite a baixa execução de recursos previstos para o combate à covid-19. Semana passada, o general Pazuello admitiu ter gasto apenas 27% dos recursos.

Já o Ministério Público que atua dentro do próprio TCU pediu que os ministros acompanhem a parceria firmada entre o Ministério, a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford para o desenvolvimento da vacina da covid-19. A iniciativa partiu de Lucas Rocha Furtado, mesmo subprocurador-geral que pediu investigação sobre a insistência do governo federal na cloroquina.

Leia Também: