A ordem das coisas

Para especialistas, não há muita lógica em reabrir bares, restaurantes, salões de beleza e academias antes de escolas

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Comércio, bares, restaurantes, lanchonetes, salões de beleza e academias são alguns dos estabelecimentos e serviços que começam a aparecer primeiro nos planos de reabertura, aqui e em outros países. Hoje mesmo, já será possível para os cariocas comerem fora e se reunirem nos amados botecos. As escolas vão ficando para depois e, como dissemos ontem, aqui no Brasil poucos professores se sentem seguros para a retomada. 

Mas há problemas nesse arranjo. Um deles é logístico: quando mães e pais trabalham, crianças não podem ficar sozinhas em casa. E quase dois milhões de brasileiros vivem sozinhos com seus filhos menores de 14 anos. A maioria esmagadora (1,76 milhão), é claro, são mulheres. E, entre elas, 1,1 milhão são negras. Os dados são de uma pesquisa da FGV. “Qualquer plano de reabertura sem o retorno da escola presencial tende a ampliar as desigualdades de gênero e de raça, que já são elevadas no Brasil”, afirma Cecília Machado, uma das autoras, à Folha. 

Outra questão é sanitária. Há pesquisas recentes indicando que a transmissão em escolas é muito menor que em outros ambientes, como… bares. Em duas reportagens publicadas hoje nos sites STAT e Vox, especialistas concordam com a importância social de reabrir as escolas e explicam o que deveria estar sendo pensado para garantir que esse retorno seja possível e seguro em algum momento no futuro próximo. Referem-se aos EUA, mas o raciocínio pode ser transposto para o Brasil. O jeito, dizem eles, é priorizar as escolas e manter uma série de outros serviços, como bares e restaurantes, fechados.

“Nesse momento, é a única forma de tentar evitar confinamentos absolutos”, diz Helen Jenkins, epidemiologista da Universidade de Boston, no STAT. Isso porque cada local reaberto significa um potencial aumento da transmissão, em maior ou menor grau, e seria preciso planejar com mais racionalidade a ordem das reaberturas. É claro que, em locais onde o vírus está totalmente descontrolado, o ideal seria um lockdown rigoroso durante pouco tempo. 

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