Queiroga empurra para estados crise do kit intubação

Ministério da Saúde esconde fracasso da licitação que obteve apenas 17% dos medicamentos esperados — 11 estados estão com estoques quase zerados

.

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 16 de abril. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Cobrado por estados e municípios pela ausência de respostas adequadas à escassez de medicamentos do kit intubação – que já dura mais de um mês –, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu responsabilizar governos estaduais pela crise.

“Não adianta ficar só enviando ofício (…). Os estados também têm que procurar esses medicamentos, sobretudo grandes estados. Existem estados que têm economia maior do que de países, que têm condições de buscar esses insumos. Não é só empurrar isso para as costas do Ministério da Saúde“, disse ele, em coletiva de imprensa ontem. Dirigia-se obviamente ao governo de São Paulo, que afirmou já ter enviado nove ofícios à pasta solicitando medicamentos, sem obter nenhuma resposta. 

Em março, o ministério tomou medidas para centralizar a compra e a distribuição desses remédios, como lembra o Nexo. A decisão foi por conta da escalada das internações e do consequente aumento da demanda por essas drogas: o governo federal tem capacidade para realizar compras grandes, o que evitaria uma competição entre governadores e prefeitos num cenário em que o país inteiro precisa dos mesmos itens. 

Porém, o ministério não está conseguindo adquirir as drogas. O Estadão obteve uma nota técnica da pasta, do dia 12, mostrando que o governo tentou comprar 186 milhões de doses dos medicamentos, que durariam seis meses. Acabou só conseguindo 17% do planejado: 32,48 milhões. 

Esses números ajudam a pôr em perspectiva o impacto dos remédios que empresas brasileiras conseguiram importar para doar ao governo. Como dissemos ontem, o total é de 3,4 milhões de unidades. O primeiro lote, com 2,3 milhões, foi comprado pela Vale e chegou ontem. Vai ser distribuído “em menos de 48 horas“, segundo o ministério. Quanto tempo irá durar? Depende. A quantidade destinada a São Paulo, por exemplo, deve ser suficiente para atender à demanda por 3,5 dias

Neste momento, 11 estados admitem que estão com os estoques do kit intubação em níveis críticos ou abaixo dos patamares recomendáveis para o tratamento de pacientes graves de covid-19. São eles: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Rondônia, Roraima, Pernambuco, Tocantins, Acre e Amapá. Na maioria dos casos, a previsão é de que os itens armazenados durem de quatro a cinco dias. 

Leia Também: