Por que os resultados da Moderna são os melhores até agora
Empresa anuncia quase 95% de eficácia contra covid-19 – e, ao contrário do da Pfizer, imunizante suporta temperaturas mais amenas
Publicado 17/11/2020 às 10:24

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 17 de novembro. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.
Ontem a Moderna anunciou os resultados preliminares do testes de fase 3 com sua candidata à vacina contra covid-19 – e eles apontam para uma eficácia de 94,5%. Segundo a empresa, o ensaio com 30 mil voluntários nos EUA chegou a um total de 95 infectados com sintomas e, entre eles, só cinco estavam no grupo que recebeu a vacina, enquanto os outros 90 haviam tomado o placebo. Além disso, houve 11 casos graves da doença, mas nenhum entre as pessoas que foram imunizadas.
Os números são semelhantes aos da Pfizer/BioNTech, e isso já era esperado porque ambos os imunizantes usam a mesma tecnologia, baseada em RNA mensageiro. Mas a Moderna tem uma importante carta na manga: seu imunizante não precisa ser mantido a -80˚C, como o da Pfizer. Embora sua temperatura ideal seja de -20˚C – o que ainda é baixo demais para uma distribuição confortável –, a empresa afirmou que suas vacinas podem ser armazenadas em refrigeradores comuns por até 30 dias (contra cinco, no caso da Pfizer), e ainda que elas se mantêm íntegras por 12 horas em temperatura ambiente.
A propósito: essa diferença na temperatura pode parecer estranha, já que os dois imunizantes usam RNA mensageiro e é isso que confere instabilidade a elas. Acontece que os cientistas da Moderna descobriram como aumentar a estabilidade com uma fórmula de nanopartículas de gordura que protegem o mRNA.
A Moderna detalhou um pouco mais seus dados do que a Pfizer. Esta última não deixou claro quantos de seus voluntários foram infectados em cada grupo (o da vacina e o do placebo), nem se houve casos graves. Mas há perguntas sem resposta que são comuns a ambos os imunizantes: não se sabe quanto tempo dura a imunidade, se a proteção varia com a idade, se a vacina impede também as infecções assintomáticas (e, por tabela, a disseminação do vírus por essa via). E, não menos importante: falta a publicação dos dados completos, com revisão de pares, num periódico científico.
A Moderna pretende pedir aprovação emergencial nos EUA nas próximas semanas, e que espera ter 20 milhões de doses disponíveis para o país em breve. Para o próximo ano, a expectativa é de haver um bilhão de doses no mundo todo. A empresa quer cobrar até US$ 37 por dose; no entanto, se comprometeu no mês passado a não impor suas patentes durante a pandemia. Se isso vingar, fabricantes de genéricos podem se movimentar logo depois que as agências reguladoras aprovarem o imunizante – e isso pode vir a ser bem importante.
O Brasil não negociou nenhuma dose diretamente com a Moderna. Segundo a apuração da Folha, a empresa enviou uma proposta ao governo em agosto mas não houve resposta (assim como aconteceu com a Pfizer, aliás). Não está claro se essa vacina está no Covax Facility, consórcio do qual o Brasil faz parte. Segundo o site Health Policy Watch, a Moderna tem negociado com a iniciativa global, mas funcionários da OMS se abstiveram de dizer se um acordo foi de fato assinado.
Sem publicidade ou patrocínio, dependemos de você. Faça parte do nosso grupo de apoiadores e ajude a manter nossa voz livre e plural: apoia.se/outraspalavras