O longo caminho até a tecnologia que pode revolucionar a história das vacinas

Ao estudar potencial do RNA mensageiro, cientista húngara passou por anos de seguidas rejeições antes de ser levada a sério. Tecnologia das vacinas da Pfizer e Moderna é recente – e nunca foi aprovada

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Uma reportagem longa do STAT conta com vários detalhes a história por trás do uso de RNA mensageiro (mRNA) sintético em vacinas. A tecnologia se mostrou factível pela primeira vez agora, com os resultados promissores da Pfizer, mas é uma promessa de longa data.

Há três décadas, uma cientista húngara chamado Katalin Karikó queria aproveitar o potencial do mRNA para curar doenças. Ele atua como um ‘livro de receitas’ que diz às células do corpo quais proteínas produzir; a ideia era que, se fosse possível sintetizar um mRNA com instruções específicas, as células poderiam criar agentes curativos sob demanda. Havia sérios obstáculos: o RNA sintético tinha grandes chances de ser atacado pelo corpo, sendo destruído antes de chegar às células-alvo; além disso, essa destruição poderia vir com uma resposta imunológica forte que colocaria em risco a vida dos pacientes. 

Karikó conta  aos repórteres  Damian Garde e Jonathan Saltzman que levou um ‘não’ após o outro ao tentar conseguir financiamento público ou privado, e ainda era desacreditada por colegas. Mas, após anos de rejeições e experiências frustradas, descobriu junto com o imunologista Drew Weissman um jeito de criar um mRNA hibriodo que não fosse atacado pelo organismo. Essa descoberta, num longínquo 2005, chamou a atenção de dois cientistas. Mais tarde, um deles fundou a Moderna; o outro, a BioNTech, parceira da longeva (e gigante) Pfizer na corrida da covid-19. Essas são as duas empresas que estão testando a tecnologia contra o novo coronavírus. 

Os anos seguintes foram cheios de grandes apostas, com investidores aportando bilhões de dólares numa tecnologia que ainda não oferecia nada além de promessas. Até hoje, nenhum produto das duas empresas jamais foi aprovado: a solução de Karikó para garantir a segurança dos pacientes não se aplica a qualquer situação, e os remédios testados em animais sempre acabavam apresentando grandes riscos. Isso acabou jogando a Moderna e a BioNTech para o ramo das vacinas – a guinada veio pouco antes da pandemia de covid-19, e o momento não poderia ter sido melhor.

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