Por que cada vez mais brasileiros decidem suicidar-se?

• Suicídio: novos números, alguns dos motivos e as condições da saúde pública • Anticoncepcional masculino injetável • As cartas de Oswaldo Cruz e a ciência brasileira • Desmatamento pode fazer surgir doenças da Amazônia •

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Por que cada vez mais brasileiros decidem suicidar-se?

O suicídio entra em pauta com mais ênfase nos meios de comunicação neste mês, com a campanha setembro amarelo. E se é verdade que o mundo está cada vez mais medicado para depressão e ansiedade, esta abordagem não parece estar sendo a mais efetiva, já que os números de pessoas que tiram a própria vida também crescem a um patamar preocupante. Um artigo da professora Camila De Mario, publicado na Folha de S. Paulo, busca debater os motivos do aumento de suicídios – que crescem muito velozmente no Brasil, tendo dobrado em vinte anos. Essa já é uma das três principais causas de morte de jovens entre 15 e 29 anos. Em 2019, constatou-se que as maiores vítimas eram homens negros com idade entre 10 e 29 anos. Mas a pandemia atingiu outras populações: casos aumentaram expressivamente entre os idosos nas regiões Norte e Nordeste. Esse também foi tema de uma matéria recente publicada no Outra Saúde.

Suicídios (2): O neoliberalismo nos deixa mais impiedosos?

Entre os motivos listados pela pesquisadora para o suicídio, está a dificuldade da sociedade de “encarar de maneira franca nossos sofrimentos e seus sintomas”. Ela questiona: o que está fazendo com que mulheres, crianças e idosas percam o desejo de viver? Como a falta de reconhecimento social e perda de sentido da existência se relacionam com os suicídios? Camila não deixa de mencionar a crise social, política e econômica como fatores decisivos para os números altos de suicídio. E alerta para o aumento no consumo de medicamentos para ansiedade e depressão.

Suicídios (3): O papel do desmonte da Saúde Pública

Já em entrevista publicada no Brasil de Fato, Magda Figueiroa, psicóloga que trabalha no SUS, oferece outra visão do fenômeno de aumentos nos casos de suicídio no Brasil. Ela enxerga a relação do aumento de depressão e ansiedade com mudanças políticas. A emenda constitucional 95, que criou o “teto de gastos”, por exemplo, atingiu em cheio a área da saúde mental no sistema público de saúde. Caiu a capacidade do SUS de atender pessoas que enfrentam transtornos mentais e que têm problemas com álcool e drogas. “Por outro lado, vemos o agravamento da crise econômica como uma mola propulsora para situações de adoecimento”, continua Magda. Na entrevista, ela discorre sobre os dispositivos que o SUS oferece para cuidar da saúde mental: a Rede de Atenção Psicossocial, os centros de atendimento integral, os psicólogos que auxiliam as equipes de Saúde da Família. Ela também pontua que a crise deve ser tratada de maneira sistêmica: “que sejam políticas voltadas para a promoção das pessoas de forma inteira e de proteção às mais vulnerabilizadas”.

Contraceptivo masculino injetável, saudável e seguro

Um novo método anticoncepcional, mais saudável e que não utiliza hormônios, está sendo desenvolvido em forma de injeção. Dessa vez, o foco é no público masculino – e parece apresentar resultados melhores que a vasectomia. Chama-se Risug (sigla em inglês para “inibição reversível do esperma sob controle”) e é desenvolvido pelo Instituto Indiano de Tecnologia. Já completou vários ensaios clínicos em seres humanos, na Índia, e aguarda a aprovação das autoridades médicas do país. O Risug é um gel que danifica a cauda dos espermatozoides, impedindo-os de fertilizar o óvulo. Sua efetividade pode durar até dez anos, segundo os pesquisadores, mas o efeito também pode ser revertido caso o homem assim deseje. A injeção é feita nos ductos deferentes, tubos que transportam espermatozoides depois de seu amadurecimento, para que se juntem aos líquidos seminais formando o sêmen. O procedimento é feito com anestesia local, e o único efeito colateral é inchaço e dor escrotal e inguinal leve. Se comparado aos problemas que as pílulas anticoncepcionais causam às mulheres – de acne a trombose –, parece ser um método contraceptivo bastante vantajoso.

Cartas de Oswaldo Cruz mostram história da ciência no Brasil

Entre 1899, ano em que voltou ao Brasil para conter um surto de peste bubônica em Santos, e 1916, já com a saúde bastante frágil, o doutor Oswaldo Gonçalves Cruz escreveu centenas de cartas para sua família, outros cientistas e instituições públicas. Nelas, está contida a história da ciência brasileira, no início do século XX. Esse foi o tema de uma matéria publicada na edição de setembro da revista Pesquisa Fapesp. Os trechos das correspondências mostram a colaboração com Vital Brazil, também cientista que no mesmo período estava instalado no instituto hoje conhecido como Butantan. As cartas mostram dificuldades dos dois pesquisadores para fazer pesquisa em condições muitas vezes precárias. Também registram contato com cientistas de diversos países, em que Oswaldo Cruz expunha suas pesquisas sobre moléstias tropicais. São importantes também as correspondências com sua esposa, Emília da Fonseca Cruz, a quem pedia conselhos sobre decisões essenciais. “A divulgação dessa e outras correspondências entre cientistas poderia ampliar o conhecimento sobre o fazer científico no Brasil, suas práticas, realizações e vicissitudes”, comenta Marcos Antonio de Moraes, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP).

Como evitar que novas doenças apareçam a partir da Amazônia 

Um artigo publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, por pesquisadores da UFRGS, nesta semana, reforça as evidências de que a ação humana na Amazônia pode transformar a floresta em matriz para novas doenças zoonóticas. Desmatamento, mineração, construção de estradas e hidrelétricas e outras mudanças no uso da terra causam distúrbios ecológicos relevantes, que terminam por introduzir novos patógenos em diferentes espécies – incluindo humanos. Segundo o artigo, mapear e descrever os eventos que provocam este processo é essencial para atuar na prevenção de surtos, epidemias e pandemias. Segundo os autores, a biodiversidade é essencial para o controle de patógenos na natureza – e por isso sua conservação é extremamente necessária. O artigo argumenta que é papel do Estado, portanto, criar políticas públicas para a proteção da Amazônia.

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