Quais são as prioridades para a Saúde após as eleições?

• As propostas para a Saúde, não debatidas pelos candidatos • Cortes na prevenção e controle do câncer • Desastre global na gestão da pandemia • Como a tecnologia do mRNA foi privatizada • Risco de câncer aumenta • Racismo e aumento do cortisol •

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Saúde não foi debatida nas eleições – mas há propostas consistentes

Em importante artigo para o Estado de São Paulo, Adriano Massuda, médico sanitarista e membro do FGV-Saúde, analisa a complexidade da crise sanitária no Brasil: “a rápida deterioração da situação de saúde brasileira tende a se agravar ainda mais se não forem adotadas medidas urgentes para corrigir problemas estruturais do SUS”, alerta. Ele percebe a ausência do SUS e da saúde pública nos debates eleitorais, em especial dos candidatos à presidência. Mas, mostra Massuda, não faltam propostas – e elas foram apresentadas por diferentes entidades e associações, desde a Frente pela Vida até a Confederação Nacional da Indústria. O pesquisador vê convergências entre elas, e lista algumas das prioridades: o fortalecimento da Atenção Primária e seus profissionais, uma nova forma de financiamento, o aumento do protagonismo dos estados para reduzir desigualdades e a revisão da relação público-privada. Vale a leitura.

Bolsonaro corta verba para combater o câncer em prol do orçamento secreto

Além da Farmácia Popular, da Saúde Indígena e do DataSUS, os cortes promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro para garantir o orçamento secreto também atingiram recursos originalmente destinados para a prevenção e controle do câncer. O investimento foi reduzido em 45%, passando de R$ 175 milhões para R$ 97 milhões, em 2023. Os recursos eram destinados à Rede de Atenção à Pessoa com Doenças Crônicas – Oncologia, que repassa dinheiro a governos estaduais e municipais para implementar, aparelhar e expandir os serviços de saúde hospitalares e ambulatoriais oncológicos. 

O desastre global na gestão da pandemia

Um relatório elaborado por especialistas renomados e publicado pela revista Lancet conclui que a eclosão de uma nova pandemia mundial é só “uma questão de tempo”. “O assombroso número de vidas humanas perdidas nos primeiros dois anos da pandemia de COVID-19 é uma tragédia profunda e um fracasso maciço da sociedade em vários níveis”, declarou Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia (EUA) e presidente da comissão. Sachs apontou que os governos fracassaram em “aderir às mais básicas normas de racionalidade institucional e transparência” e que os países falharam em “promover uma cooperação global para controlar a pandemia”. Os cientistas criticam ainda a demora da OMS em reconhecer a gravidade da doença, e apontam sua responsabilidade na crise. Sachs afirma que, agora, é preciso reforçar a resiliência de países para enfrentar as próximas crises. “Mas uma recuperação resiliente e sustentável depende do fortalecimento da cooperação multilateral, financiamento, biossegurança e da solidariedade internacional com os países e populações mais vulneráveis”, finaliza.

A tecnologia de RNA pertence a uma única empresa? 

Em entrevista, o diretor de pesquisa de Acesso a Medicamentos da Public Citizen, Zain Rizvi, explica que a tecnologia de RNA foi uma descoberta conjunta de vários cientistas, em uma pesquisa que se estendeu por diversos anos, financiada principalmente por fundos públicos. Na década de 2000, um grupo de cientistas da Universidade da Pensilvânia, EUA, descobriu que quando modificado, o corpo não reagiria mais de forma negativa ao RNA. Ele explica que a Moderna (mode-RNA), passa, em 2010, a “se beneficiar desses estudos público-acadêmicos”. A disputa com a Pfizer surge devido ao uso do mesmo princípio para a vacina de covid-19, visto que foram criadas “inúmeras patentes” sobre as diferentes utilizações da tecnologia de RNA. Agora, a Moderna exige o repasse de uma porcentagem dos lucros da Pfizer, o que pode impactar países subdesenvolvidos com quem a farmacêutica fez acordos para a distribuição de vacinas. 

Risco de câncer em pessoas jovens aumenta a cada geração

O risco de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentou a cada geração nas últimas três décadas, segundo um estudo do Hospital Brigham and Women’s da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, publicado na Nature Reviews Clinical Oncology. O trabalho constatou que a incidência de 14 tumores – como de mama, colorretal e pâncreas – cresceu consideravelmente nos mais jovens a partir da década de 1990. Os pesquisadores analisaram dados de 44 países disponíveis no Observatório Global do Câncer, e consideram o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e álcool como possíveis causas relacionadas. 

Racismo causa aumento instantâneo do cortisol 

Há evidências claras de que a discriminação racial afeta negativamente a saúde de pessoas negras ao longo do tempo. O racismo está associado à incidência de depressão, ansiedade e estresse psicológico, além de aumentar a pressão arterial e enfraquecer o sistema imunológico. Agora, um novo estudo publicado na revista Science revela que um único evento discriminatório pode causar efeitos imediatos na saúde, devido ao aumento instantâneo de cortisol de da enzima alfa-amilase. Através de análises de saliva diárias de voluntários, foi detectado que os níveis de cortisol e da enzima secretada em situações de estresse quase dobraram no dia posterior ao relato de discriminação racial por insulto direto, enquanto microagressões causaram a alta do hormônio no mesmo dia. 

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