PÍLULAS | Por ruralistas, Anvisa adia decisão para proibir agrotóxico letal

• Redução do consumo de carne pode salvar o meio ambiente? • Placenta para tratar feridas • Pesquisa de analgésico • Fertilidade brasileira durante a zika e a covid •

.

Em fevereiro deste ano, um documento formulado por técnicos da própria agência pedia a reavaliação da permissão para o uso do carbendazim, um dos vinte venenos agrícolas mais vendidos do país. Perigoso, tem alto risco de causar câncer e outras moléstias. Ele já é banido na Europa e EUA. Ocorre que a Anvisa adiou novamente a análise que pede sua suspensão, por pressão dos fabricantes do produto. Não é algo surpreendente. Um levantamento do Joio e o Trigo, que analisou a agenda de compromissos de seus dirigentes, aponta que 90% das reuniões no dia a dia são realizadas com o setor privado. Entre farmacêuticas e indústria de cigarros, ficam os produtores de agrotóxicos como uma das prioridades do órgão regulador, que atacam com lobbies pesados. Em seu histórico, a agência já voltou atrás da proibição de um outro veneno letal, o paraquate, ligado ao mal de Parkinson, em meio a um libera geral de produtos banidos em outros países.


Uma meta realista para reduzir as emissões de carbono?

Descoberta, publicada na revista Nature na semana passada, mostra que substituir o consumo global de carne em apenas 20% pode reduzir pela metade o desmatamento e suas consequências para a crise climática. O estudo ficou pronto um mês depois do último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas. Mas a medida não resolverá a crise climática, diz o principal autor do estudo, Florian Humpenöder, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha. Uma boa alternativa para substituir essa pegada ambiental na cadeia de alimentos é a produção da carne à base de microproteína, a partir de fungos e outros nutrientes. A equipe utilizou um modelo matemático que considerou aumentos no crescimento populacional, renda e demanda pecuária entre 2020 e 2050.


Da placenta ao tratamento de feridas

Sua camada de membrana plasmática, segundo um estudo da Faculdade de Medicina da USP, pode ser utilizada para a recuperação de tecidos e acelerar a cicatrização. Quem examinou a prática foi André Paggiaro, diretor do Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas. A tecnologia já é aplicada internacionalmente há bastante tempo, conta, e foi liberada para uso no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina no final do ano passado. Ele explica que essa camada, a mais interna da placenta, contém componentes regenerativos muito eficazes para tratar ferimentos e queimaduras, fazendo com que a cicatrização aconteça mais rapidamente. Mas é necessário autorização e, antes do parto, a doadora passa por uma bateria de exames para identificar a presença de doenças infecciosas que podem trazer risco ao receptor. Usada em um paciente com queimadura de segundo grau, bastou cinco dias para a recuperação completa da pele.


Possível novo analgésico criado após estudos de doença rara

Pesquisadores da USP identificaram uma nova estratégia de analgesia ao entender o que impede pessoas portadoras uma doença genética rara, de sentir dor ou calor. Trata-se da de Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose (Cipa). Os cientistas entenderam melhor por que a proteína chamada receptor de tropomiosina quinase A (TrkA) não funciona nos portadores de Cipa, o que bloqueia o sinal nervoso da dor.  Ao fazê-lo, criaram um composto experimental capaz de reduzir a mesma sensação em todas as pessoas. A molécula, batizada como TAT-pQYP, liga-se ao TrkA, impedindo sua ação e reduzindo a dor. Se os estudos avançarem, o novo analgésico poderá ajudar a tratar pacientes com dores crônicas. 


Fecundidade brasileira cai durante epidemias

As taxas de natalidade tendem a cair durante crises sanitárias, mostrou um estudo publicado na edição de abril dos Cadernos de Saúde Pública, ligada à Fiocruz. Isso aconteceu, relata o trabalho, durante a fase mais dura da zika e com a pandemia de covid-19. Os pesquisadores analisaram taxas de fertilidade no período em que ocorreu o surto de zika, em 2016, e durante as maiores crises de covid, em 2020 e 2021. Bebês que nascem de mulheres que contraíram zika têm maior risco à vida e podem nascer com microcefalia – o que pode ter feito com que gestações fossem adiadas durante o surto. O estudo argumenta, ainda, que as incertezas geradas pela pandemia de covid – o medo da doença e dos hospitais lotados e a insegurança gerada pela crise financeira – parecem ter afetado a taxa de fecundidade de maneira parecida. 

*ERRATA: Na versão anterior do texto, havia um erro de tradução. Mencionávamos “fertilidade” quando a palavra correta é “fecundidade“. Atualização feita em 10/5/2022 às 12:38.

Leia Também: