PÍLULAS | O retorno da Polio em grandes cidades

Queda da vacinação reintroduz poliomielite em a Nova York | Teriam os cientistas alemães avançado contra o Alzheimer? | Fiocruz apoia difusão da medicina indígena | O que munda quando o politicamente correto chega ao sistema prisional

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Desvacinação: a poliomielite volta a Nova York

O ressurgimento de doenças há muito erradicadas, presente no Brasil e no mundo, chegou a um estágio emblemático na última semana. Um morador adulto de Nova York – talvez a cidade mais cosmopolita do planeta – adoeceu de poliomielite. Sofreu fraqueza e paralisia. Já não transmite o vírus, mas autoridades médicas estão verificando as pessoas com quem teve contato, para verificar que não as contaminou. Não havia nos EUA, desde 1979, um único caso de contração local da doença – que por isso havia sido considerada erradicada. Nem tanto, sabe-se agora… Matéria de O Globo reconhece que a causa é a queda dos índices de vacinação, fenômeno presente na maior parte dos países ocidentais – inclusive no Brasil. Ainda este ano, novos casos autóctones já haviam sido registrados no empobrecido Malawi (onde houve um surto) mas também nos poderosos Reino Unido e Israel.

Alzheimer: avanço ou busca de lucros farmacêuticos?
Cientistas alemães anunciaram na última quinta-feira (20/7) ter identificado biomarcadores que permitiriam antecipar a tendência de certos pacientes a desenvolver a doença de Alzheimer. Eles disseram ter sido capazes de identificar sinais do do mal até 17 anos antes de ele se manifestar. A notícia repercutiu nas mídias que tratam de Saúde.

As duas falhas possíveis da pesquisa
Porém, uma análise mais aprofundada dos fatos conhecidos até agora sugere cautela. Primeiro, por não haver hipótese de cura. De que serviria apontar o risco da síndrome, sem haver possibilidades de evitá-la ou mitigá-la: apenas para estigmatizar os supostos condenados ao Alzheimer? Em segundo lugar, porque a “descoberta” da doença foi feita a posteriori. Os pesquisadores não previram que certos pacientes padeceriam do mal – apenas identificaram os que já o haviam desenvolvido e tentaram apontar os supostos marcadores sanguíneos que indicariam propensão à doença. Apesar de tantas incertezas, os cientistas apressaram-se a pedir patente do que julgam ser um “novo sensor” do mal e a criar uma empresa que administrará os possíveis ganhos que ele permitirá auferir…

Fiocruz apoia difusão de conhecimentos sobre medicina e saúde indígena
A maior instituição brasileira de pesquisa sobre Saúde Pública promove e difunde também os conhecimentos médicos e sanitários dos povos tradicionais. A Fiocruz Amazônia acaba de promover, em parceria com a Unicef e o Centro de Medicina Indígena, a Oficina de Formação de Jovens Comunicadores Indígenas. Realizado também a distância, para permitir ampla participação, o encontro visou prepara a garotada que participará, em breve, de oficinas de ensino tradicional de medicina dos habitantes originários do Brasil.

Quando uma instituição científica respeita os conhecimentos ancestrais
A iniciativa faz parte do Projeto Echo, fortemente inovador. Por meio dele, jovens membros dos povos tradicionais são convidados a documentar, em suas comunidades, as práticas de cuidado, cura, benzimento, uso de plantas medicinais e enfrentamento da covid. Segundo o site da Fiocruz, a programação destacou a importância de atos como kihti ukuse (narrativas míticas), bahsese (benzimetos) e bahsamori (rituais), os três conceitos fundamentais do conhecimento prático-científico dos povos indígenas.

O politicamente correto chega às prisões. Muda algo?
Termos como “presos”, “encarcerados” e “insanos” são cada vez mais raros – felizmente. Estão sendo substituídos por expressões como “indivíduos privados de liberdade”, “com transtorno mental”, “em conflito com a lei” e “com necessidades decorrentes do uso nocivo ou prejudicial de álcool e outras drogas”. É o que mostra artigo publicado nos Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário pelos pesquisadores Martinho Braga Batista e Silva e Helena Salgueiro Lermen, do Instituto de Medicina Social da UERJ, e Adriana Kelly Santos, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O fim do uso de termos discriminatórios é sempre bem-vindo. Mas resta perguntar: ele não terá servido também para mascarar fenômenos como o encarceramento em massa e a regressão das políticas de Saúde Mental?

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