PÍLULAS | Brasileiros preocupam-se com o clima e com a Amazônia

• Fiocruz vê janela para fim da pandemia • O número real de mortes por covid • Crise ainda não acabou • Remédio anticovid no SUS • China abrirá mão da “zero covid”? • Resposta imune de crianças • Remédios contra alzheimer? • Ayahuasca e o luto • Para onde vai o lixo hospitalar? •

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Diferente de grande parte de seus representantes políticos, brasileiros dizem se importar com as mudanças climáticas e seus efeitos. Foi o que revelou o relatório “Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros”, lançado na semana passada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio). Matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp expõe alguns dos números relevantes: em 2021, 81% dos brasileiros acima de 18 anos disseram considerar o aquecimento global uma questão importante – 96% não duvidam de que esteja acontecendo e 77% sabem que é causado pela ação humana. Para 90% deles, as mudanças climáticas podem prejudicar muito as gerações futuras. Também opinaram sobre importantes questões nacionais, como a Amazônia: 74% dos entrevistados discordam da ideia bolsonarista de que queimadas na floresta sejam necessárias para o crescimento da economia. Se percebe uma maior consciência entre as mulheres: 66% se dizem muito preocupadas com o ambiente, contra 54% dos homens.


Janela para o fim da crise sanitária

Na última sexta-feira, 11/3, a pandemia completou dois anos. Após o pico da ômicron, que levou o mundo ao recorde de casos de covid, a queda da curva de contágio e internações traz o que a Fiocruz considera “uma janela de oportunidade” para o controle da crise de Sars-CoV-2. A pressão menor sobre os sistemas de saúde, com mais pessoas imunes à doença e uma alta cobertura vacinal poderia reduzir ainda mais a taxa de infecção, hospitalização e óbitos, “como também bloquear a circulação do vírus”, destacava o boletim do Observatório Covid-19. O que não significa o fim da pandemia, reforça o pesquisador Raphael Guimarães. Para aproveitar essa chance, é necessária uma política coordenada em todo o país para atacar a desigualdade vacinal entre municípios e entre as populações dentro das cidades. O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo ressalta que a expectativa de um cenário positivo depende de não surgir uma nova variante de preocupação. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que o ministério da Saúde estuda já estuda rebaixar o status da pandemia, para endemia – o que ainda é visto como precoce por grande parte dos especialistas.


Mundo pode ter perdido quase 19 milhões para a covid

Subnotificação é um assunto que se ouve desde o início da pandemia, mas pela primeira vez um estudo amplo e revisado pelos pares quantificou os óbitos não registradas por covid, desde 2020. E o resultado é espantoso: calcula-se que cerca de 18,9 milhões devem ter morrido até dezembro de 2021 – três vezes mais que os 5,9 milhões oficialmente contabilizados. O país onde há mais casos não notificados é a Índia, com 4,1 milhões óbitos registrados a menos do que o número mais próximo da realidade. O Brasil está em quinto lugar em subnotificação. O número real seria mais próximo de 792 mil mortes, atrás de Estados Unidos (1,1 milhão), Rússia (1,1 milhão) e México (798 mil). Para chegar às estimativas, os cientistas compararam dados de mortes coletados nos 11 anos antes da pandemia em 74 países, e criaram um modelo estatístico para analisá-los. Sugerem que mais estudos locais devem ser realizados para quantificar as mortes reais.


Muito cedo para baixar a guarda”

Em um momento em que as medidas de saúde pública estão sendo suspensas em muitas partes das Américas, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, alertou os países afirmando que ainda é muito cedo para deixar a pandemia para trás. Ela ainda pediu que países reforcem novamente as orientações de saúde se casos aumentarem: “É provável que a covid-19 tenha vindo para ficar. Devemos aprender a conviver com esse vírus e nos adaptar rapidamente às novas mudanças”. Os continentes americanos concentram metade de todas as mortes globais, com mais de 2,6 mil vidas perdidas; e respondem por 63% dos novos casos globais da variante ômicron. A diretora da OPAS pediu também aos países que enfrentem as desigualdades exacerbadas pela pandemia: na América Latina e Caribe, 248 milhões de pessoas ainda não receberam nem uma dose da vacina contra a covid, segundo a organização.


Parecer favorável para o primeiro remédio anticovid no SUS

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) encaminhou, na última quarta-feira, 9/3, pela primeira vez, medicamento para ser avaliado em consulta pública, e já dá sinais positivos à sua incorporação e distribuição pela rede pública. Agora falta só aguardar o prazo de consulta e o relatório final, para, por fim, ter a aprovação sancionada pela secretária de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Sandra de Castro Barros. Até o momento, o Conitec havia reprovado três fármacos contra a covid já aprovados pela Anvisa. O baricitinib é sugerido para pacientes adultos, hospitalizados e que necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva.


Chegou a hora de a China abandonar a política “zero covid”?

Para pessoas brasileiras, é difícil observar os números da pandemia na China sem algum constrangimento. O jornal inglês The Guardian anunciou que o país asiático está vivendo seu pior surto de covid em dois anos: foram registrados 3.400 testes positivos no domingo. O Brasil só teve tão poucos casos diários entre 18 e 26 de dezembro do ano passado, um pouco antes de a ômicron nos atingir. Foram 4.636 chineses mortos pela doença desde 2020 – número menor do que o de brasileiros que partiram apenas em marçode 2022, quando governantes já aventam a possibilidade de decretar o fim da pandemia. A China, país onde a covid foi descoberta, adotou desde o início uma política de lockdown rígido e de testagem em massa, e já vacinou 85% da população (1,2 bilhões) com as duas doses. Mas a ômicron tem conseguido driblar essas barreiras, obrigando cidades a decretar novas quarentenas. Um cientista chinês ouvido pelo Guardian acredita que chegou a hora de abandonar a rigidez do controle, já que a ômicron apresenta ameaça um pouco menor. Será interessante acompanhar quais decisões serão tomadas a partir daqui.


Um estudo sobre a resposta imune das crianças à covid

A resposta dos sistemas imunológicos das crianças contra o coronavírus é muito rápida e eficaz – mas eles não produzem tantos anticorpos quanto os adultos. É o que descobriu uma pesquisa australiana publicada na revista JAMA Network Open, relata a Nature. O estudo foi feito nos primeiros meses da pandemia, portanto não abrangeu as variantes como a delta e a ômicron, mas é importante para entender as dinâmicas do vírus entre crianças. Uma das hipóteses é que a resposta imune mais forte faz com que a produção de anticorpos não seja tão necessária. Mas o fato põe em dúvida a proteção a longo prazo das crianças contra o vírus.


Os ensaios clínicos para ajudar a prevenir o alzheimer

A revista Nature trouxe um importante artigo sobre as principais pesquisas para desenvolver medicamentos que possam prevenir a doença. Elas se baseiam em estudar anticorpos desenvolvidos para eliminar as proteínas beta-amiloides no cérebro, que se aglomeram em massas tóxicas que formam as placas – que são associadas a vários tipos de demência. Quem explica a luta para combater o fardo dessas condições que atingem 55 milhões de pessoas em todo o mundo é o neurologista Paul Aisen, da Universidade do Sul da Califórnia, que é líder do Consórcio de Ensaios Clínicos de Alzheimer dos EUA. Ele prevê que, talvez em uma década, grande parte dos sintomas do Alzheimer possam ser prevenidos: “Estamos caminhando para rastrear pessoas a partir da meia-idade com exames de sangue e tratar aqueles que apresentam anormalidades amiloides com medicamentos que reduzem a geração de placas amiloides”, afirma. No entanto, não é fácil encontrar participantes para tais ensaios. As pessoas precisam estar assintomáticas, mas com alta probabilidade de começar a desenvolver sintomas em uma escala de tempo mensurável.


Ayahuasca, luto e os mistérios da morte

A pesquisadora espanhola Débora González vai utilizar o método científico para descobrir se rituais com o uso da ayahuasca podem minimizar a dor do luto. O estudo parte de relatos e experiências de pessoas que, após usar o psicodélico, tiveram uma compreensão maior da perda de um ente querido e conseguiram superá-la com mais tranquilidade. Nele, 216 pessoas enlutadas serão avaliadas. Mas Débora crê que os limites da ciência trarão dificuldades para a compreensão completa do fenômeno. Isso porque o uso do ayahuasca suscita experiências que podem ser tidas como “sobrenaturais” rejeitadas pelo materialismo da mentalidade ocidental. “A ayahuasca permite que o mistério se apresente em nós, com total liberdade criativa, e cada centímetro de nossas entranhas e corpos sabe como transitar pelos múltiplos territórios da alma, onde tudo está vivo, as montanhas respiram e os mortos confortam os vivos” afirma ela à coluna Virada Psicodélica da Folha.


Para onde vai o lixo hospitalar gerado na pandemia?

A OMS vem alertando para uma crise que acompanha a sanitária. Foram centenas de milhares de toneladas a mais de lixo gerado geradas durante a pandemia. Com isso, a entidade vem impulsionando iniciativas de reaproveitamento dos materiais por instituições de saúde de ponta no Brasil: a comida vira adubo para a produção de alimentos orgânicos; roupas de cama e banho transformam-se em bolsas confeccionadas por costureiras afetadas pela crise. No primeiro ano da pandemia, houve um aumento de 15% na produção de lixo hospitalar em relação a 2019, totalizando 290 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. O lixo doméstico cresceu 4%, alcançando 82,5 milhões de toneladas. A estimativa é de que 30% dos resíduos das instituições sejam despejados em aterros sem tratamento prévio. Entre as iniciativas em curso para a reciclagem desse grande aumento, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), conta com uma central de transformação de resíduos dentro do hospital. Atualmente, o hospital encaminha cerca de uma tonelada de material reciclável por dia para reaproveitamento.

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