PÍLULAS | Cientistas brasileiros estudam os males da covid longa

• Ciência brasileira mal paga • Câncer no SUS, após pandemia • Coronavírus e diabetes • Transmissão da covid entre a mãe e o bebê • Crescem doenças respiratórias em crianças • Carnaval não foi tão mau • Microbiota e Parkinson •

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Cá neste boletim, relatamos com frequência pesquisas norte-americanas e europeias a respeito da covid longa. Mas, agora, a revista Pesquisa Fapesp reuniu, em uma bela reportagem, diversos estudos que estão sendo desenvolvidos por cientistas brasileiros. Essa condição decorre da covid e pode provocar mais de 200 sintomas por períodos longos, de até um ano. A OMS estima que entre 10% e 20% dos pacientes podem apresentar alterações no organismo por razão da doença – o que representaria até 5,6 milhões de pessoas no Brasil. Ainda não se sabe se a vacina minimiza as chances de desenvolver covid longa, tampouco o que a causa. Pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da USP revelou que de 820 pacientes hospitalizados, 85% apresentaram ao menos um sintoma que reduz sua qualidade de vida mesmo após curados – mais frequentemente cansaço e dores no corpo. Sintomas metabólicos e psíquicos também foram registrados nos hospitais brasileiros.

Fonte: Fapesp

Com bolsas irrisórias, Brasil corre risco de apagão científico

Em artigo de opinião de dirigentes de diversas entidades ligadas ao ensino superior e a instituições públicas, um alerta urgente: nunca se pagou tão pouco a cientistas que fazem pesquisa no Brasil. A bolsa de doutorado, por exemplo, de R$ 2.200, não tem reajuste desde 2013. Se fosse corrigida pela inflação, hoje pagaria cerca de de R$ 3.666 – ou três salários mínimos. “A pós-graduação vem perdendo sua capacidade de atrair bons alunos. Os estudantes têm preferido buscar empregos que, embora com salários modestos, geralmente são superiores aos valores das bolsas”, denuncia o artigo publicado na Folha. Há pesquisadores que preferem buscar formas de subemprego ou sair do país, a chamada “fuga de cérebros”. Os autores do artigo calculam que se o governo oferecesse aumento ao CNPq similar ao praticado por instituições particulares, de 25%, ele custaria R$ 212 milhões ao orçamento público. Se fizesse o mesmo com as bolsas da Capes, seriam necessários apenas outros R$ 492 milhões. Somado, valor equivale a cerca de quatro dias do montante que o Brasil deixa de arrecadar por ano, em razão da isenção de impostos de dividendos.


Atlas do Câncer e a sobrecarga para o SUS no pós-pandemia

Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), ao menos 50 mil pessoas podem ter ficado sem diagnóstico entre 11 de março e 11 de maio de 2021. “É um grande desafio para o SUS e o Controle Social vai enfrentar de forma conjunta com as demais instituições que estão preocupadas com o tema”, afirmou Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Medicina. A fala foi proferida durante a mesa de abertura do Seminário Câncer Relacionado ao Trabalho – Desafios e Perspectivas para a Estruturação da Vigilância Nacional, realizado em Brasília. O evento irá debater os desafios da incidência e óbitos causados pela doença e sua relação com o trabalho, à exposição de agentes químicos, físicos e biológicos que seriam totalmente evitáveis. Segundo dados do Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil, o Brasil registrou 3.010.046 óbitos decorrentes de 18 tipologias de câncer, no período de 1980 a 2019.


Covid e diabetes: a conexão possível

Ainda não há estudos que demonstram alguma relação direta entre o coronavírus e a doença crônica que faz aumentar os níveis de açúcar no sangue, mas alguns hospitais nos Estados Unidos registraram um significativo aumento nos casos de diabetes desde 2020. Há um aumento da incidência da doença inclusive em crianças, faixa etária mais acometida pela diabetes de tipo 1. A hipótese de que infecções virais podem causar respostas autoimunes é antiga, portanto o fato tem chamado a atenção de cientistas para uma possível causalidade. Evidências mostram também que o coronavírus ataca células produtoras de insulina no pâncreas – processo que pode causar diabetes temporária. Mas há outras explicações possíveis para o aumento da doença, como o sedentarismo causado pelo isolamento social e hábitos alimentares pouco saudáveis – dois outros causadores de diabetes. Novos estudos começam a ser desenvolvidos para descobrir se há relação entre as doenças na Dinamarca e no Reino Unido.


As chances de transmissão de covid entre a mãe e o bebê

Estudo publicado na última quarta-feira (16/3) apontou que há poucas possibilidades que uma mulher grávida transmita o vírus diretamente ao filho. “A taxa de positividade do Sars-CoV-2 é baixa entre os bebês nascidos de uma mulher infectada” com o coronavírus, da ordem de 2%, resumiu este trabalho, publicado no British Journal of Medicine. A pesquisa foi uma meta-análise que compilou resultados de centenas de estudos pré-existentes. Não é que se descarta a possibilidade, mas é um fenômeno raro. Nos casos de covid grave, médicos recomendam que os bebês sejam sistematicamente avaliados.


Volta às aulas fez aumentar doenças respiratórias em crianças

No último Boletim InfoGripe divulgado ontem (17/3), a Fiocruz alertou para a alta de incidência de casos de síndrome respiratória aguda grave (covid inclusa) em crianças, durante o mês de fevereiro. A Fundação atribui essa ascensão à volta às aulas e à fraca campanha de imunização contra covid na faixa etária de 5 a 11 anos. O aumento também ocorreu na faixa etária ainda mais nova, de até 4 anos, mas seu principal causador parece ser o Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Já entre os adultos, o boletim aponta queda gradual – em patamar semelhante ao ocorrido nos meses finais de 2021, antes da chegada da ômicron ao país.


USP: Carnaval não fez piorar pandemia

Boletim epidemiológico USP-Covid avaliou a situação epidemiológica no estado de São Paulo e notou que a tendência continua sendo de queda em hospitalizações – como antes da data festiva. Houve um aumento de casos na semana epidemiológica de 6 a 12 de março, que os especialistas da Comissão Assessora de Saúde da universidade atribuem a um atraso momentâneo no registro de notificações durante o feriado. Após 14 dias do Carnaval, a redução de internações foi de 19% em relação à semana anterior. Hoje, o governador João Doria decidiu derrubar a exigência de uso de máscaras em locais fechados – à exceção de transporte público e hospitais. Acompanhar as duas próximas semanas também será importante para ver como o vírus se comporta nessa nova fase. 


Desequilíbrio do intestino pode levar ao Parkinson

Segundo pesquisa conduzida com o apoio da Fapesp, há crescentes evidências de que a microbiota intestinal pode influenciar no desenvolvimento e na progressão de doenças neurodegenerativas. O estudo desenvolvido por dois brasileiros reforça a hipótese e descreve esse mecanismo, que ocorre com o desequilíbrio entre espécies bacterianas patogênicas e benéficas no órgão, e que pode resultar na doença de Parkinson. “Estudos têm mostrado que o diagnóstico da doença de Parkinson ocorre tardiamente. E que o distúrbio pode se originar muito mais cedo no sistema nervoso entérico – que controla a motilidade gastrointestinal – antes de avançar para o cérebro por meio das fibras autonômicas”, disse à Agência FAPESP Matheus de Castro Fonseca, coordenador da pesquisa. A prevenção é fundamental – e o foco passou do cérebro ao intestino. As novas descobertas parecem promissoras, e apontam que o caminho mais fácil de se precaver é modular a microbiota intestinal do que enfrentar um quadro já estabelecido da doença.

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