Pesquisadores de Oxford propõem estratégia controversa para testar vacina

Voluntários que recebessem a vacina seriam intencionalmente expostos ao vírus em laboratório

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CA equipe que coordena as pesquisas com a vacina de Oxford (a mesma que está em testes no Brasil) pretende agora iniciar ensaios em voluntários que, depois de receberem o candidato a imunizante, serão intencionalmente expostos ao vírus. Já falamos sobre esse tipo de ensaio – chamado de “desafio humano” por aqui. Como não há cura para a covid-19 e como os efeitos da doença ainda sequer estão todos documentados, esse tipo de teste é muito, muito controverso. Afinal, significa expor deliberadamente pessoas a um vírus que pode matar (mesmo quando não há fatores de risco) e deixar graves sequelas.

A questão é que isso economizaria muito tempo. Até agora, o que se faz nos testes é adminIsitrar a vacina aos voluntários e mandá-los de volta às suas rotinas. Ao fim de um tempo, é preciso ver quantos deles foram infectados, e se esse número é significativamente menor do que no grupo de voluntários que recebeu um placebo. Isso pode levar meses. No teste com desafio humano, os voluntários são expostos ao vírus (ou ao placebo) em um ambiente de laboratório, o que significa que o ensaio pode ser concluído em semanas e requer muito menos pessoas. O argumento dos cientistas é o de que os riscos de desenvolver formas graves da doença são muito baixos para pessoas com menos de 20 anos, como explica a matéria do Guardian. Às custas desse risco, seria possível encurtar os prazos das pesquisas e salvar muitas vidas. Uma carta aberta publicada ontem por vários ganhadores do prêmio Nobel diz que “se os testes de desafio puderem acelerar o processo de desenvolvimento de vacinas de maneira segura e eficaz, existe uma presunção formidável a favor de seu uso, o que exigiria uma justificativa ética muito convincente para ser superada”. 

No caso da vacina de Oxford, a ideia é que esse tipo de teste seja feito em paralelo aos ensaios de fase 3 com a vacina, que começaram em vários países. O braço com ‘desafio’ poderia fornecer informações complementares sobre dosagem e administração. Também seria uma forma de descobrir mais rapidamente por quanto tempo a imunidade ao vírus duraria após a vacinação. 

E, na China, funcionários da estatal de petróleo PetroChina foram convidados a receber uma das vacinas desenvolvidas no país para sua proteção quando foram trabalhar no exterior – só que o produto ainda não foi aprovado nos ensaios clínicos. O mesmo aconteceu recentemente quando o governo permitiu que um imunizante fosse administrado às suas forças armadas. Segundo o New York Times, a decisão de usar cobaias fora dos testes oficiais é “pouco ortodoxa”, e  reflete a dificuldade das empresas chinesas em encontrar voluntários para os testes, já que o país já domou amplamente o vírus. Como não fazem parte dos ensaios oficiais, os resultados obtidos com essas cobaias não podem ter nenhum efeito na regulamentação das vacinas. “As empresas poderiam usá-lo para oferecer garantias extras de que as vacinas são seguras, caso que não descubram nenhum problema”, diz a reportagem.

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