Os possíveis efeitos da confusão do governo Doria

Divulgação atrapalhada dos resultados da CoronaVac fez notícia sobre eficácia soar mal, mesmo que vacina seja boa

Foto: Governo de São Paulo
.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 13 de janeiro. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

É difícil compreender por que a comunicação do governo de São Paulo foi tão ruim nas últimas semanas. Agora já sabemos que havia entraves no acordo entre o Butantan e a Sinovac que impediam a divulgação dos resultados completos, mas ainda assim teria sido muito menos ruidoso esperar e fazer um anúncio único. Da forma como foram feitas, as apresentações geraram críticas por todos os lados e acabaram deixando as notícias sobre a eficácia geral parecerem menos boas do que realmente são. Mesmo para as ambições políticas de João Doria, a confusão não parece ter trazido algum impacto positivo, especialmente depois de ontem.

A hashtag “#DoriaMentiroso”, por sinal, ficou em alta nas redes sociais. “Doria apostou alto na Coronavac e forçou o governo federal a correr atrás dos planos paulistas. O tucano fez festa em cada etapa do processo de desenvolvimento do imunizante, mas se omitiu no momento crucial de mostrar os detalhes da vacina. O showman engoliu o governador“, avalia Bruno Boghossian, colunista da Folha

Mas o pior não são os danos à imagem de Doria. Em dezembro, uma pesquisa do Datafolha mostrou que metade da população já rejeitava a CoronaVac. Se a trapalhada do governo Doria vai conseguir piorar esses números, ainda não sabemos. Mas que tem potencial, isso tem: “Foi extremamente prejudicial essa tentativa de fazer o resultado parecer mais favorável, de anunciar uma eficácia de 78%, que não é a eficácia real. Isso gera insegurança e muita dúvida na população”, explica a médica epidemiologista Denise Garrett, no El País.

Para salvar a situação, só mesmo uma campanha muito bem estruturada de informação, de amplo alcance, para explicar às pessoas a importância de tomar a vacina. Ou seja: o oposto do que o governo Bolsonaro vem fazendo. “Esses discursos afetam muito. A gente percebe quando escuta de um velhinho que, em tese, é uma pessoa que não tem paixão política, que não é uma pessoa engajada em rede social, mas ele está dizendo que não vai tomar vacina da China. Isso é preocupante demais. Quando chega a este nível de debate é porque já foi pro imaginário social”, diz Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), no mesmo jornal. 

Sem publicidade ou patrocínio, dependemos de você. Faça parte do nosso grupo de apoiadores e ajude a manter nossa voz livre e plural: apoia.se/outraspalavras