Ômicron: Gauteng é prenúncio do que vem por aí?

O primeiro estudo importante sobre a variante anima a comunidade científica e traz alívio pro mundo. As internações continuam baixas, e há poucas na UTI, na região sul-africana onde ela predomina

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Será a província de Gauteng, na África do Sul, um prenúncio do que virá a acontecer no mundo? Esperamos que sim, se os dados do último relatório do Conselho de Pesquisa Médica do país se confirmarem. A novidade é que, embora a variante ômicron da covid esteja causando infecções em uma velocidade nunca vivida, não se observa o mesmo movimento em internações nos hospitais da região. Foi ali onde a cepa foi encontrada pela primeira vez, e depois sequenciada por uma equipe de cientistas – que prontamente alertaram ao mundo o novo desafio que estava por vir. 

Não são os primeiros sinais de que a variante pode ter, como característica, uma versão menos severa da covid. Já havia relatos anedóticos de médicos em muitos países, como relatado no Outra Saúde na semana passada. Mas esse é o primeiro estudo com dados mais representativos. Embora o relatório ainda  traga ressalvas, de que o cenário ainda pode mudar, os médicos dos hospitais de Gauteng verificam que a situação é completamente diferente do que ocorreu no início das três primeiras ondas da pandemia na África do Sul. Seus dados surpreenderam até Anthony Fauci, principal autoridade em doenças infecciosas nos EUA, que ganhou manchetes nesta segunda-feira.

Eis, então, os números de um complexo de hospitais públicos e privados em Tsuane, município onde se encontra a capital sul-africana Pretória. Entre 14 e 29 de novembro, o complexo recebeu 166 novas admissões, que representavam meros 26% de todas as internações por outras doenças no mesmo período. A principal observação dos médicos que elaboraram o relatório foi que a maior parte desses pacientes não foi ao hospital por sintomas de covid. São chamados casos incidentais: estavam buscando cuidados médicos para outros males e, por protocolo, fizeram o teste para a covid, descobrindo-se positivos.

Entre os 166 pacientes no período, percebeu-se uma faixa etária muito diferente da que estava sendo internada nas ondas anteriores: 80% dos internados tinham menos de 50 anos, principalmente entre os 30 e 39 anos; 19% eram crianças até 9 anos. A mortalidade, também nesse mesmo período, foi de 6,6% – muito inferior à percebida no complexo nos últimos 18 meses de pandemia, que era de 17%.

Para fins de análise, fizeram também uma fotografia dos internados em 2/12. Eram 42 pessoas com covid, 70% delas não apresentavam sintomas respiratórios nem precisaram de ventilação. Destas 13 que estavam dependentes de oxigênio, quatro eram por outras razões médicas. Nesse dia, apenas 4 pacientes estavam sob cuidados intensivos e um na UTI. Entre os 38 adultos desse grupo, apenas 6 estavam vacinados – e nenhum destes com pneumonia.

Os dados surpreendem justamente por mostrarem uma situação diferente das primeiras três ondas da pandemia, no país – quando, a essa altura, já haveria um crescimento expressivo em internações, intubações e mortes. O gráfico acima, que relaciona infecções e óbitos, também ajuda a compreender o cenário. Caso a tendência continue, nos próximos dias, poderemos respirar aliviados e continuar apostando na vacinação e nas medidas sanitárias para atravessar o fim dessa crise.

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